a lúcia e a rita eram gémeas. verdadeiras! com todas aquelas histórias inerentes aos gémeos. roupas iguais. pressentimentos. namorados com o mesmo nome. perderam a virgindade no mesmo verão. essas coisas banais de gémeos. a lúcia e a rita eram gémeas. verdadeiras. duas pessoas. a lúcia era atiladinha e estouvada. a rita era estouvada e atiladinha. a lúcia tinha a vida em ordem e em desordem. a rita tinha a vida em desordem e em ordem. eram tão diferentes quanto duas pessoas são diferentes uma da outra. por vezes, a lúcia distraía-se e dizia à rita que tinha de se organizar mais. por vezes, a rita distraía-se e dizia à lúcia que deveria ser mais travessa. a lúcia pensava que a rita tinha certa razão. a rita pensava que a lúcia tinha certa razão. tudo passa, até os conselhos, inoportunos. ou não. não interessa. a lúcia e a rita eram pessoas irmãs. a lúcia e a rita eram duas pessoas. diferentes. duas pessoas viventes. uma das razões efémeras dessas vidas era a existência da outra pessoa. a lúcia e a rita eram duas pessoas sábias de não saber. eram só pessoas. a lúcia era aquela lúcia. a rita era aquela rita. evidentemente. a lúcia e a rita não sabiam que haviam sido adoptadas por duas pessoas. essas outras duas pessoas eram mais pessoas cujas razões efémeras de vida era a existência da outra pessoa. assim, a lúcia e a rita foram adoptadas e ficaram gémeas. não sabiam se eram almas. nunca se haviam comparado ao espelho. eram duas pessoas, tal qual uma pessoa e outra pessoa, quaisquer, podem ser verdadeiros gémeos.