la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

bodies




Religion was a lie he had recognized early in life, and he found all religions offensive, considered their superstitious folderol meaningless, childish, couldn’t stand the complete unadultness – the baby talk and the righteousness and the sheep, the avid believers. No hocus-pocus about death and God or obsolete fantasies of heaven for him. There was only our bodies, born to live and die on terms decided by the bodies that had lived and died before us. If he could be said to have located a philosophical niche for himself, that was it – he’d come upon it early and intuitively, and however elemental, that was the whole of it. Should he ever write an autobiography, he’d call it The Life and Death of a Male Body.

in Everyman, Philip Roth


photo de Sandra Ferrás

[ sempre ] palavras à cabra cega *


Eu fugia e apanhavas-me
Sempre
Eu fugia e sabia
Que me apanharias sempre

Sempre é assim
Que gosto de dizer

De cada vez à fuga
Digo que é efémera

Para sempre.





Providence, Rhode Island, Francesca Woodman
* obrigada ao Pedro pela dica para o título ;)

approved for all audiences

Sunny Day
Sweepin' the clouds away
On my way to where the air is sweet

Can you tell me how to get,
How to get to Sesame Street

Come and play
Everything's A-OK
Friendly neighbors there
That's where we meet

Can you tell me how to get
How to get to Sesame Street

It's a magic carpet ride
Every door will open wide
To Happy people like you--
Happy people like
What a beautiful

Sunny Day
Sweepin' the clouds away
On my way to where the air is sweet

Can you tell me how to get,
How to get to Sesame street...
How to get to Sesame Street
How to get to...





Sesame Street by Martin Scorsese

[ fórmulas lógicas ] [ <=> ]

O sujeito e A funcionalidade:
motricidade fina versus intenções em bruto
=>
implicação equivalente a ternura esculpida.
Um poema.

still do filme Edward Scissorhands

série histórias de sucesso

quero ler um ovni

ou dois, ou três...

o tempo [ ser neste Inverno ]

As sensações aparentam
regulação sadia

a pele descasca do frio
é natural

do final do Verão
esta tira de gordura
amanhada
no calor nascente da Primavera

Vês?
As impressões crescem a olhos
nus

o frio bate-me o corpo
estalo a medos
e atiro-me ao mergulho
embora do Outono encantado.









untitled, Francesca Woodman

"sermos" [ ser ausência e excesso ]

O Natal, a grande festa doméstica de Inglaterra, foi este ano triste – dessa tristeza particular que oferece, por um dia de calma ardente, a praça deserta da vila pobre, ou dessa melancolia que infundem umas poucas de cadeiras vazias em torno de um fogão apagado, numa sala a que se não voltará mais…
O que nos estragou o Natal, não foram decerto as preocupações políticas, apesar da sua negrura de borrasca.
(…) o que nos estragou o Natal, foi simplesmente a falta de neve. (…)
Aqui estamos sobre este globo há doze mil anos a girar fastidiosamente em torno do sol, e sem adiantar um metro na famosa estrada do progresso e da perfectibilidade: porque só algum ingénuo de província é que ainda considera progresso a invenção desses bonecos pueris que se chamam máquinas, engenhos, locomotivas, etc., e essas prosas laboriais e difusas que se denominam sistemas sociais.
No dois ou três primeiros mil anos de existência trepámos a uma certa altura de civilização; mas depois temos vindo rolando para baixo numa cambalhota secular.
O tipo secular e doméstico de uma aldeia Ária do Himalaia, tal como uma vetusta tradição o tem trazido até nós, é infinitamente mais perfeito que o nosso organismo doméstico e social. Já não falo de gregos e romanos: ninguém hoje tem bastante génio para compor um coro de Esquilo ou uma página de Virgílio; como escultura e arquitectura, somos grotescos; nenhum milionário é capaz de jantar como Lúculo; agitavam-se em Atenas ou Roma mais ideias superiores num só dia do eu nós inventámos num século; os nossos exércitos fazem rir, comparados às legiões de Germânicos; não há nada equiparável À administração romana; o boulevard é uma viela suja ao lado da Via Ápia; nem uma Aspásia temos; nunca ninguém tornou a falar como Demóstenes; e o servo, o escravo, essa miséria de antiguidade, não era mais desgraçado que o proletário moderno.
De facto, pode-se dizer que o homem nem sequer é superior ao seu venerável pai – o macaco; excepto em duas coisas temerosas – o sofrimentos moral e o sofrimento social.
Deus tem só uma medida a tomar com esta humanidade inútil: afogá-la num dilúvio. Mas afogá-la toda, sem repetir a fatal indulgência que o levou a poupar Noé; se não fosse o egoísmo senil desse patriarca borracho, que queria continuar a viver, para continuar a beber, nós hoje gozaríamos a felicidade inefável de não sermos

O Natal, retirado de "Cartas de Inglaterra"
Eça de Queiroz



imagem do filme ainda há pastores
blog - sinopse do filme

iupiiiii!!!

maggie e a espiritualidade

boas festas!



diz que... ouvi dizer... o que é preciso... é entrar no espírito ;)

[ 'cause we are all scrooge's ] [ merry xmas]

Paz! A porta bate e fecha com tudo o resto lá para fora, mas, a entrar desalmadamente pelas frestas, o tudo afinal vem também. Assumo as toadas que oiço na rua e trago as luzes a piscar na córnea. Gosto dos papéis coloridos e das árvores folclóricas. Não lamento a ausência cada vez mais carpida do menino Jesus mas entristecem-me árvores design. Se uma árvore de natal deve de ser então que seja sem modos nem elegância. Cor.
A família deseja uma noite serena, assumindo ainda a curiosidade à volta da mais pequena “que ela agora já percebe esta coisa das prendas”. A família quer que conduza com cuidado e que chegue sã.
Inevitavelmente, e tal como a Scrooge, acontece a visita aos Natais. Os Natais Passados, o Natal Presente e os Natais Futuros, a época com data marcada no calendário para a forçosa revisita e cogitação, têm o apanágio de serem enfim iguais. Antes, agora e depois, tudo o resto também é comum, afinal.
A família quer que chegue sã. Tomarei as devidas precauções para chegar de corpo inteiro.


still do filme Freaks, para ti, Manel ;)



Ao chegar, o meu desejo também é encontrar a família sã.

[ minhas ricas prendas ]

hope

photo de Sandra Ferrás

the siren songs, anywhen

A historia do homem que se foi fazer eremita e levou um kit de regresso

- Ainda não decidi o que devo levar no kit, talvez uma 'gillette'…?, pensou o homem. A decisão não levou muito tempo a ser tomada, não que houvesse pressa, com certeza que a montanha não sairia do lugar. O homem foi, na montanha construiu uma casa à medida dos seus costumes aprendidos: telhado e paredes, ou antes, fundações, paredes e telhado (com os respectivos pilares - as coisas das leis da Física). Não decorou a casa, é certo que às vezes arrancava flores que espalhava pelo chão, enganava-se dizendo-se que era uma espécie de desinfectante natural. O homem não trabalhava muito para sobreviver, de vez em quando passava um dia inteiro à cata de lenha, mas essa era a única tarefa necessária e inadiável. Vivia junto a uma nascente e havia muito alimento de fácil acesso. Eram bons os dias na montanha.
Um dia o homem olhou para o chão. Riu-se tanto a olhar para o chão que ecoava por todo o espaço aberto. Eram muitas gargalhadas, de cada vez que tentava acalmar dava uma gargalhada maior. Se alguém tivesse conseguido ouvir aquelas gargalhadas de repetição, seria incapaz de não rir também, mesmo sem saber o motivo de tal folia. (eu, mesmo sendo apenas a narradora, gostaria de ter ouvido esse riso) Quando conseguiu acalmar, o homem olhou naquele que entendeu ser o sentido oposto do chão - a parte interior do telhado, não queria correr o risco de continuar a rir assim, acabaria por sofrer um chilique fatal. Foi nesse instante que o homem sofreu angonia. Percebeu aquilo que decidiu considerar uma percepção do seu fundamentalismo e gritou – Por alma de quem é que eu designei que não posso assumir que ponho aqui as flores simplesmente porque acho bonito? Por alma de quem?! Estúpido! Estúpido ser! Apressou-se a abrir o kit de regresso e quedou-se estupefacto, esquecera-se de juntar espuma de barbear. Outra gargalhada.
- Está-se bem por aqui, murmurou recostando-se num dos pilares da casa. É certo que conseguiria fazer espuma dalguma "erva" que por ali encontrasse, pensou, foi então que se lembrou dos esforços. - Não me apetece aparecer assim. Ah, as gentes… e eu e a engrenagem. Ui... a cativação uns dos outros, barbudo como estou dar-me-ia muito trabalho. Certamente. Suspirou com careta saudosa. Riu e assustou-se, talvez viesse aí um novo acesso de riso e não sabia se desta vez sobreviveria. Não foi necessário fazer esforço para se controlar, riu e foi buscar mais flores.

dos arquivos, sem pó

Sorvendo a borra da sua própria chávena, Sabbath levantou finalmente o olhar do submerso erro crasso que era o seu passado. Por acaso o presente também estava em curso, construído dia e noite como os navio-transporte de tropas em Perth Amboy durante a guerra, o venerável presente que recua até à Antiguidade e prossegue a direito da Renascença até hoje – era a esse presente sempre-a-começar e interminável que Sabbath renunciava. Acha repugnante a sua inexauribilidade. Só por isso devia morrer. E depois, que importa que tenha levado uma vida estúpida? Qualquer pessoa com alguma inteligência sabe que está a levar uma vida estúpida mesmo enquanto está a levá-la. Qualquer pessoa com alguma inteligência compreende que está destinada a levar uma vida estúpida porque não há outra espécie de vida. Não existe nada de pessoal nisso. No entanto, lágrimas infantis marejam os seus olhos quando Mickey Sabbath – sim o Mickey Sabbath, daquele bando selecto de setenta e sete mil milhões de idiotas de primeira apanha que constituem a história humana – diz adeus à sua unicidade com um meio entaramelado e profundamente dolorido «Quem liga a mínima?».


Philip Roth in Teatro de Sabbath

regresso

palavras-chave: branco/ paralelepípedo/ riso/ embondeiro/ invenção/ jogo/ transformante(s)/ Soberba/ alforge/ mula/ claridade/ loucura/ apelido/ desejo // // // // luz//





I see a darkness, Bonnie 'Prince' Billy

justiça

branco




b r e v e m e n t e

google rules

[ em auxílio libertino de um amargo de boca ]

Vou dizer-te
do percurso
perverso
Como fazê-lo.

Vendo receitas.

Num acto de pura
malvadez generosa
Concedo-te esta
de graça, sem graça.

Poderás proceder
à tua vingança

Se te sentires em dívida

Retribuis-me
Com o doce sabor
na tua boca.


t r a i ç ã o

na nova minguante

[ sossego ]

Rien de rien!
Fechou a porta acenando-lhe um beijo da palma da mão sentindo aquele enorme sorrir de dentro após o prazenteiro corpo. Pegou na garrafa dirigindo-se ao frigorífico, abriu a outra garrafa, riu e atirou-a ao chão. O chão ficou-se ali de vidros e borbulhas tónicas espalhados. Rien de rien! Sentou-se deitando o corpo com o copo puro de vodka despejado pela goela abaixo à medida que tomava sem métodos cada uma das pílulas. Sentira muitas felicidades, mas esta era sem sombra de quaisquer dúvidas a mais feliz de todas. Assegurou-se uma vez mais de que o melhor fora as risadas. Arrependeu-se de algumas ignorâncias, não saber falar francês, por exemplo. Continuou a rir com a vontade de quem entrevê a liberdade, quase a verdade. Engoliu todas e passou à faixa seguinte.
Tão feliz. En rose! La vie! Mort.


Rien de rien et La vie en rose, Edith Piaf

[ sobre mérito, intempéries e generosidade ]

É agora que afinal
não descanso

sem saber de onde
não aprendo

chega-te que estou crédula

as últimas lágrimas
a cair ainda
estão secas

na minha face
se for preciso
estou a acreditar

que vens aí
trazes-me uma casa onde descanso.



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space oddity, David Bowie

photo

série Personagens [ Osvaldo ]

o Pedro traz-nos mais uma personagem [ Osvaldo ]

também no cinzel [ Luísa ]
:)

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série Personagens aqui no acknowledge yourself [ Paula ] [ Ricardo ] [ Ramiro ]

[ despertar ]

desce as escadas a correr
acordou na urgência
de inventar
brinquedos



[ mortalha ]

Na força da hora da morte puxou o amigo pelos colarinhos para junto dos seus lábios e disse adeus.
Acrescentou de punhos encerrados:
– estou arrependida
tantas vezes me cansei
das coisas que não fiz.

[ linguagem e comunicação não-verbal ]

Ao vê-la passar do quarto para a casa de banho soube que iria ter uma erecção. Ela parou a meio do caminho produzindo a expressão facial que a ele indicava bons presságios.
Quando lhe disse “faz amor comigo” já ele tinha as mãos no corpo dela. A relação sexual aconteceu, ali na sala. Foi muitas posições depois e ela havendo atingido três orgasmos quando ele enfim ejaculou.
Estes dias seguiram-se de muitos outros contabilizando alguns meses sempre na boa companhia um do outro, o que lhes fez ponderar sobre a possibilidade de juntar os trapinhos. Decidiram e agiram.
No primeiro dia oficial da vida em comum, ao acordar ela sentiu-lhe a erecção matinal, disse “fode-me” e ele saltou-lhe em cima. Vieram-se num instante. Foi um bom presságio.

[ companhia ] [ o segredo estampado na pele* ]

Quantas vezes contaste o teu segredo à voz alta tão alta quanto pudeste, sem que fosse um grito, e nem por isso o conseguiste ridicularizar?
Quando pensas profundamente sobre o teu segredo fica branco tão branco que te doem os olhos?
Estampaste o teu segredo sem palavras nalgum muro perto de ti? E a esse muro… galgaste-o?
É verdade o que dizem: que tens tanto medo de sobreviver sem o teu segredo que o guardas a toda a gente, e que o encontras sempre?
Um passarinho contou-me que te correm lágrimas dos olhos.
Estou a fingir que foi um passarinho que me contou, fui eu que vi.

Quando vi, magoou-me tanto que me lembrei do meu segredo querido.



* título emprestado ;)

série Personagens [ Ramiro ]

75 anos
viúvo há 1 ano, 5 meses e 21 dias
vive numa cidade do centro do país
é reformado da função pública (funcionário público: escrivão de direito)
fumador e grande consumidor de aguardentes
gosta: de ler; provar aguardentes; jogar xadrez com o seu primo Osvaldo aos Domingos à tarde; passar as tardes na sala dos fundos com o cão - Malaquias - sentado à sua beira
não gosta: que lhe perguntem porque não tem filhos
como descrevem o Ramiro:
os amigos - Ramiro tem um amigo, Osvaldo; Osvaldo não se consegue pronunciar na descrição de Ramiro, pára e angustia-se com a lembrança da ideia de que Ramiro se possa ir antes dele, a ideia da "solidão maior" é-lhe demasiado dolorosa
o próprio - [ silêncio ]


Ramiro tem saudades de Lurdinhas

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série Personagens [ Paula ] [ Ricardo ]


entretanto, o Pedro trouxe-nos a [ Luísa ]
:)

pescada nº 5

(...)



3. As pinturas morrem, as esculturas morrem (Duchamp), os livros morrem, como morrem os homens que os criaram. Morrem de forma lenta e discreta, de cada vez que acabam de ser vistos, de ser lidos, ou guardados nos depósitos dos museus ou das bibliotecas(...)

posta de zp _________________________________________________ pescada nº 5

_____________________________________________________________________________________

[ entretanto ]

É da minha ignorância que me vejo e com a preguiça culpada. Fujo de tronos - são estranhos; em repentes, arrepio-me a ver forças sentadas - fujo! A correr desalmada cá para dentro, a fugir forte nem que tenha de vir a descer aos trambolhões, que eu fujo, eu não quero. Confusão.
A preguiça é a pobre expiatória do medo, e o medo é a receita ideal. Já sei quantos anos assim continuarei, digamos que… quantos são na conta exacta, não posso assegurar, mas serão tantos quantos o meu corpo a viver. Não quero ficar a morrer assim tanto tempo quanto se pode ficar. Sinceramente falando, que é a falar sincera que estou a falar, gosto disto de por aqui andar, mas interromperei a marcha quando por aqui andar sem ser a ver andar. Anarquia.
Não gosto disto assim, por aí, além. E, até gosto, disto. Mas isto, se fosse, podia ser, mais… simples? Não, não. Gentil (?), hm… também não? Ou eu, se talvez eu mais fácil, domada me tornasse, mesmo assim aqui, eu poderia? Sou aqui esta ocupante. Tão curiosa que estou sobre o que é afinal o final! Tenho um plano delineado. Continuar.

Arregaça-me aí dentro
que o mundo está muito
para este corpo
em decomposição
do desalento

apreendo-o mais
um pouco
ao mundo
muito

aí dentro
ele floresce
este
o meu corpo
a renovar

e sinto-me
mais um sorriso.



[ Homem ]

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Porque tu és o dia porque tu és.

Mário Cesariny de Vasconcelos
1923 - 2006

bom-dia [ ao domingo outros dias e qualquer coisa aninhada cá dentro ]

domingo. vamos, por entre as gentes. fiquemos com o contágio d'um pouco do que é de bom. um dia. e o prazer do movimento. entre lucidez e atordoamento, o espanto. bom-dia.

no clear escape...

[ o silêncio antes de regressarmos ]

sim
foi agora
passou-se
há algumas unidades de tempo
antes deste instante

morri
da saudade







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photo de Sandra Ferrás

série Personagens [ Ricardo ]

31 anos
advogado, trabalha numa soceidade de advogados prestigiada
namora com Sofia há cerca de 1 ano
vive sozinho há 3 anos, nos subúrbios de Lisboa (apartamento de 2 assoalhadas, comprado com a ajuda dos pais)
a sua paixão de juventude foi o andebol, mas presentemente não tem tempo para se dedicar a este desporto fabuloso
gosta: de ler; namorar com a Sofia; sempre que possível, ir beber uns copos com os colegas no final do dia de trabalho; quando a mãe vai lá a casa pôr tudo em ordem; do Direito.
não gosta de fumadores
como descrevem o Ricardo:
os amigos - "muito inteligente", "grande atleta" e "um porreiraço"
Sofia - "lindo, meigo, inteligente, boa pessoa"
o chefe - "sonhador como todos os jovens advogados, mas promete uma boa carreira... se se mantiver assim"
os colegas de trabalho - #1 "esperto", "sabe fazer as coisas", "quando preciso de ajuda é a ele que recorro"; #2 "ainda não percebi muito bem se é de confiança"; #3 "irrita-me aquele tipo de pessoa que fez sempre tudo tão certinho"
o próprio - "sou advogado, tenho 31 anos, tenho uma namorada, a Sofia, gosto do meu trabalho e desejaria ter mais tempo para praticar desporto"

Ricardo gostaria de ter um cão

série Personagens [ Paula ]

44 anos
sem compromissos românticos (desde sempre)
vive no interior do país
é contabilista
não-fumadora é uma característica a realçar em Paula, pois está quase a completar o 2º ano sem fumar
gosta: de ler; passear à beira mar, actividade que pratica duas vezes por ano - Praia das Maçãs e Praia Grande durante as férias de Inverno e quaisquer praias alentejanas durante as férias de Verão; costurar vestidos para as filhas dos amigos; jantar com um dos 3 amigos, uma vez por semana; e, por vezes, passar uma tarde com os filhotes dos amigos, digamos que cerca de uma tarde por mês, no máximo (mais é demais)
como descrevem a Paula:
os amigos - "amiga do seu amigo", "sempre pronta a dar uma ajudinha com os miúdos" e "auto-suficiente"
o patrão - "uma pessoa muito equilibrada", "certinha"
os colegas de trabalho - "tem a mania que lê muitos livros e que não dá confiança a ninguém"
a própria - "não sei, não faço esse exercício de me descrever, é entediante e coisa de pessoa narcísica"

[ ]

Teresa olhou-me e libertou uma lágrima magnificamente opulenta.
Seguiram-se mais algumas lágrimas triviais que fizeram daquele um momento de pranto. Após esses segundos, limpou o rosto com o lenço de papel que entretanto lhe entregara, esticando o braço numa suspensão silenciosa. O tempo estava contado, acabara a hora do nosso café semanal. Preparámo-nos em ritual sincronizado… arrastar a cadeira, puxar do casaco que se vestiu, abrir o porta moedas e retirar a quantia exacta para cada café. À saída, ambas abrimos os guarda-chuva.
Teresa olhou-me e libertou esta sentença “Acabou, fiz de mim um fantoche neste sonho de fertilidade.”.



Hands of the Puppeteer, Tina Modotti

[ abalos, renúncia e construção ]

Sonhos

Quando a noite se apresentar
cercamo-nos

não indagaremos que mais valia
assinalar ao final da data.
“À nossa beira iremos
doer menos”
afirmação interrogativa
assento-a; o meu corpo inclinado
na tua direcção.

O disfarce não será remédio
para o desgosto; às realidades arrasadas,
uma tarefa
escoar com a gravidade e


espairecer a construir;

por exemplo,
casas nas árvores.


Ou, apenas românticos, plantar essas árvores.

[ playing marbles ]

És delico-doce nos teus actos. Os teus actos ficam menores em acção.
Não há fôlego que baste para qualquer acto-impacto.

É tempo de reclusão para uma das personagens.
O narrador não sabe do paradeiro de outros actores, isto se o texto se transforma de facto em actos que, por sua vez, formarão a peça a encenar. Com ou sem diálogo.


O narrador despertou e espreguiçou, pela seguinte ordem, os braços, as pernas, a coluna vertebral. Sentou-se na beira da cama e sorveu 3 goles de água, começou a fazer os exercícios vocais. Brrrr. Brrrrrr. Brr. M m m aaaaaa. Mmaaa. Nhãe. Nhãouuu.
Olhou o telefone, mas num instante decidiu que seria rude ligar ao escritor àquela hora de um Domingo. Seguiu para a cozinha e preparou o chá de perpétuas roxas. Olhou à sua volta e sentiu orgulho na sua cozinha, havia de tudo para se servir, e estava em perfeitas condições para a logística necessária ora para preparar um jantar para 8 pessoas, ora para fazer um bolo para visitas inesperadas. O narrador tinha especial desgosto pela existência de visitas inesperadas e enorme frustração por nunca ter tido forma de se insurgir a elas. Por vezes, o narrador ensaiava confrontações possíveis a este tipo de visitas, mas jamais as conseguiu aplicar, era, inclusive, convicto de ser vítima de mais inesperados do que a maior parte das pessoas. Deixou o chá a arrefecer e abriu as janelas.

Ligou o leitor de cd’s julgando ter no compartimento a selecção que lhe oferecera a irmã,
assim que ouviu os primeiros acordes lembrou-se de tudo. Dois dias antes, recebera uma encomenda do argumentista com este cd e um bilhete “Ainda não encontrei forma de dizer ao escritor, mas está decidido que quero esta canção na peça – a cena em que Andreia se senta no chão com os berlindes na mão (quero que esteja vestida em 3 tons diferentes de verde, que haja um tapete carmim e uma telefonia), à medida que a canção passa (são 2’22 min.), Andreia joga os berlindes pela sala, no final, engole o abafador. Estou convicto de que o escritor tentará boicotar a canção, porque, como poderás constatar, de certa forma, vai contra a força e honestidade da sua escrita sobre este mundo. Não é podre, é delico-doce e, diria mesmo, perigosa pela falácia que transmite. Assim, deixo-te a questão: sentirás que a tua voz se sobreporá (narrando cada berlinde) a esta toada azulada, sem descaracterizar a obra do autor?

O narrador sorriu. Colou os vários episódios que haviam acontecido desde Sexta-feira: a visita inesperada da irmã, a recepção da encomenda, a reorganização de alguns cantos da sua cozinha e o sonho desta noite. Parecia ter encontrado a solução para combinar a letargia de Andreia com o impacto de cada berlinde e o momento em que engole o abafador (algures entre a penúltima e a última estrofe da canção). Hoping like the blind era o mote perfeito para anteceder a morte de Andreia. Ligou a ambos, escritor e argumentista.

À mesa, deram os últimos retoques às cenas inacabadas, brindaram-se em congratulações. A satisfação era visível. Visitas desejadas, uma refeição preparada com esmero e o prazer de transformar o mundo em actos. Um Domingo contente.



música: Way to blue, Nick Drake

Agora a noite vai parda
É o dia (gosto tanto desta palavra)
( d i a )

é o dia a dizer novamente
tudo.

Pardo ou vivo, mais um
d i a
os sonhos, pelo menos
mais um pouco.






foto de Carlos Veríssimo

[ em vida ]

A noite não fora o suficiente para repousar a cabeça que sentiu aguar em insuficiência durante todo o dia anterior. Os movimentos foram os que vulgar e automaticamente se consegue imaginar ao saber que “a noite não fora o suficiente para repousar”. A cabeça não parecia explodir, nem implodir. Também não faz sentido dizer cabeça, talvez cachola. Nessa manhã era quase certo que a cachola iria perecer. Esse seria então, o dia ao longo do qual iria perecer a cachola. Percebeu que essa morte não seria necessariamente o falecimento do corpo todo, poderia ser apenas a “morte cerebral” com o resto vivo.


Sendo mesmo certa essa morte cerebral, a parte sobrevivente e saudável de corpo no futuro ver-se-ia privada de comandos, assim, também condenada.
Aproveitou o dia para correr.

photo




I see a darkness, Bonnie Prince Billy

[ amargura ] Variações pós "Ensaios sobre a traição *" #2

a teoria da mãe

- Ouve a mãe... nunca falta um judas mas não te faças de Roma que te traz amargura.



* título surripiado ao Henrique

[ gostinho doce ] Variações pós "Ensaios sobre a traição *" #1

a teoria do pai

- Ouve cá... é certo que não é antídoto para a traição, digamos que é como o dinheiro: não traz (A) felicidade, mas ajuda!



* título surripiado ao Henrique

[ ingenuidade ] Ensaios sobre a traição #2 *

Acreditou que a vingança fosse antídoto para a traição.



* título surripiado ao Henrique

[ sede ] Ensaios sobre a traição #1 *

Experimentou a traição. Aprendeu a vingança.


* título surripiado ao Henrique

[ viagem pela harmonia ]

Lembras-te, no outro dia?
Fizeste-me correr à casa de banho, “Rápido! A ver se ainda consegues ver o brilho dos olhos a inundar a pele do rosto!”. Fiz movimento para me deslocar, mas encurtei as pernas, e com elas cada passada, pois percebi que falavas de um brilho efémero. Boicotei a tua alucinação.


(convicta de que é baça, esta personagem magoou a outra consciente e deliberadamente; o seu mote é um rigor que vacila quando vê luzes)

Antes de chegar à porta da casa de banho, dirigi-nos para a rua. Caminhámos sem destino decidido. Ao passar à estação não foi necessário verbalizar opções, levámo-nos em sincronia à bilheteira e comprámos 2 passagens de ida até à localidade com mar mais próxima. Que sorte!, dissemos [faltavam 3 minutos para a partida (cada bilhete a 1,73 €)].
Regressámos. Anoitecera e olhámos os nossos reflexos no vidro da carruagem.

(ambas personagens confirmaram a cumplicidade dos indivíduos nos reflexos; assim sendo, nenhuma personagem foi magoada e houve compreensão da efemeridade do esplendor)

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[ promessa doutro outono ]

Voluntária a alagar a lista de verbos da antologia, é outro Outono que acompanho comigo. Escolto algumas quedas secas e fecho a vista à laia de confiança ao aproximar-se o final de dia. Deixo o resto livre e apalavro a noite.


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[ leito aberto (descoberto) (e a resguarda) ]


Neste repente
uma força ligeiramente



não conto a somar
os meus dedos, porém,
sei são já de menos

e

embora na carne deste peito
haja pouco tempo
________________de pousios sarados
são de menos
os meus dedos
a contar gratidões

como a que geme esta cumplicidade
agora.

[ o narrador ermo na casa do cipreste ]




Escorreita.
















Escorreita, uma palavra para uma frase. Começaria o texto com que explicaria as coisas que estavam por explicar com essa palavra. Fechou a porta e começou.








( . . . )

[ o narrador com fé ]

Enfim escreves uma coisa. Terás visto tantas antes do acto, não imediatamente antes, entenda-se, mas ficas depois de outras. As tuas ideias estão com a memória, não com a memória imediata, entendes. As palavras surgem assim assim. Percebes, então.
Tudo ou nada e repetes "tudo ou nada." à medida que voltas a vestir o casaco para ir exteriorizar o teu corpo.

Esta personagem a quem se dirige o narrador, lá vai expor o físico. Não leva material convencional para rascunhos, também não vai com nudez.

Voltará com palavras que não enjeita.
Esta é a esperança do narrador.

[ estigmas na imagem do belo ]

Não é aquele em que cais sem alcançar o abismo. Nem o tão falado voyeur do qual dizem correr sem arredar pés do metro cúbico onde estão colados.

É outra coisa. É nada e é o tornar realidade da nudez a nu perante o cenário. O civilizado. A plateia que leva a mão à boca em ais surdos enquanto que as tuas estão presas dentro de muitos bolsos e o grito não é o banal mudo habitual dos sonhos, mas é verdadeiramente aquele em que sabes tantos movimentos da garganta. Sempre a secar sem que haja ar, ou até muco, para lançar vibrações ao berro. Porque não é um sonho, nem a falácia de um pesadelo. É a tua nudez a soldo com um pedaço a menos de inocência.
És estanque no arrepio
-aragem à pele
sem abalar veloz. Abalar.
(grande celeridade)
Guardar o belo
(grande urgência)
do demais banalizado.

[ do resguardo da castidade da desonra da gente ]

Depois
a gente esquece
pensa
sem compreender que nada é
assim tão limpo
(“assim tão”)

que o asseio existe
sim, claro

apenas
a gente não pode
achar ninharias
de sujidade
sujas
assim tão sujas

falando como um lugar comum
vê-las serve para
alcançar
o bocado limpo
(por exemplo, a gente
não tem de
envergonhar-se de uma
unha suja).









photo


shame on you, Stuart Staples

[ outras horas ]

outrora celebraram ternura

Foi. então
Quando pesavam já falecimento
de entusiasmo
chocaram o que não era passível
do toque. Tarde

são as datas não fatídicas em que ela acaba
para sempre
nada diz é enquanto dura

Na ternura
Não se puseram com
coisas

com acontecimento
Adiantar o que
Atrasou nunca foi solução

A ternura foi e durou
como acontece
Ou não
assim calhou resistiu
quebrou. Cedo

um vociferou.




by this river, Brian Eno

[ a putrefacção dos picos existe acontece ao longo dos tempos a tempos ]

desmultiplicação da visão:
momento/imagem:
À medida que

a laranja é descascada pelos teus dedos E apregoas o teu parecer - o anúncio do sentido das coisas, estas coisas, por exemplo
Nessa tua mansidão. Recordo

aquela tarde à mesa (o final tardio de um almoço só) Os picos a romper
- o grito na laringe
Era uma maçã, e ouvi
São espinhos, senhora.
São espinhos
.


Faz sentido, isto faz sentido,
diz ele.
Suga o sumo da laranja
e confirma não tem espinhos.



Ela (eu) vê chegar um dia ameno Beija e ilustra, pândega:

Não enxovalhes a crença
Nos picos
Mesmo enquanto sugas laranjas macias
.

Essa ela
oca de completos Grandiosos reduz a vista Lá para dentro Admite a soberania dos beijos é
a conivência indizível das bocas Tanto espanto este. porque está Dentro desta imagem tola de ser
Aquela Que qualifica da Guerra (com Batalhas, claro)
nota: as batalhas sugam sugam De tanto sugar
convencem-te do pavio no resto em esgotamento; fim de nota.


o espanto ..i ne vi ta vel men te
comoção A verdade sobre a comoção
bem-nascido o Discernimento emocionado
Não bombeado mecanicamente
Apesar de produzido quimicamente
baixa os braços sem abdicar e cicia Ai, as minhas forças Até à última unidade energética para que, Discernimento Não sejas deposto Do estatuto Nobre.

[ metáfora escalada ] [ stillness ]


Dos dias, todos, o conjunto
sai daqui uma continuidade
considero desonesto o apelido ___________ Viagem
também não me parece
escalada
nem arrisco ser queda eternamente. Certeiro o final.





[ talvez escrever ]

Talvez um dia consiga escrever isto


de dentro do meu esqueleto de ossos ferve

Como se fora tutano suado
São dias de estudo
sem caligrafia a fugir das falanges
à procura d'A palavra simples

Parece que me vejo. Parece
mas a língua pesa em cima d'A palavra

Busca Palavra Dias
são simples, afirmo
Ainda assim
não põem água nesta fervura
(das aparências a calma dos lábios).

Dias confessionários são estes até.






Eleanor, Harry Callahan

[ aventuranças ]


Não vás ao mar, ouviste

É verdade sem rigor que as ondas torcem
Não esvaziam
Fundos de olheiras


Experimenta-se como se fora algo uma alma
Maior um pouco outra solidão
Despender-se-ia
Pudesses

assim


Grave
Outro soco atinge as mulheres-dos-olhos

ainda



Fá-lo-ias leve
Para o penhor da ternura
Que conceberias numa salva de alegria
Legítima. Não gratuita

ainda assim
Restas nesta história marchar
Impor por tua mão uma cruz
Objecção ao peso crime-perverso.


Repara
Não é de fortuna sentada que se esvaziam fundos de olheiras.



Bathing Beauties, Cheryl Maeder
para nós, as mulheres sujeitas à lei portugesa
para nós, os portugueses a quem será (cobardemente) delegada a lei

[ no news would be good news ] or [ whistling ]


Trouble, more trouble can you get anymore
Slow bubble boiling on the bedroom floor
Lonely ain't lonely, someone calling at the door
Someone lovely and she's bringing bad news

She clenches and she cries and she lays on the stairs
Pounding on the earth and yanking at her hairs
And showing such fear at being found unawares
To be here and be bringing bad news

Well, something bad happens and a lot of people go
Bad themselves, that's how awful it is
Turning half the heart into something hard and dark
And she had to bring here this

Well, she's told, « Hold your buttons and look at the sky
Someone will fix things if you let your face dry
Keep your face near the earth and your heart beat high
And you may transcend the bad news »

Well, something bad happens and a lot of people go
Bad themselves, that's how awful it is
Turning half the heart into something hard and dark
And she had to bring here this

For all hammers and nails
For all leaves and winds
For all love ambitions
And enemies and friends

She shakes her face so fiercely that all her features go
She lays like a monkey unclothed in the snow
And her voice it decays and before it does she goes,
« I will never again deliver bad news »

Something bad happens and a lot of people go
Bad themselves, that's how awful it is
Turning half the heart into something hard and dark
And she had to bring here this

Mm, hey little bird – hey little bird
Thank you for not letting go of me when I let go of you
Hey little bird – hey little bird
Thank you for not letting go of me when I let go of you
(Hey little bird – hey little bird)
Thank you for not (letting go of me when I let go of you)

[ exercício (talvez não-solitário) - pesquisa (definitivamente não-frenética) de antónimos ]

Alteração
Desordem .Distúrbio .Desarranjo .Deformidade .Defeito .Deficiência


Perturbação

Imperfeição!



N o r m a
Convenção
Instituição


A nor ma li da de





[ não entregarás as entranhas a mãos alheias ]

Quando o ser
Num descuido vulgar
Vê entregues as suas entranhas
A mãos de fiança dúbia

Dispensa dissertações futuristas
O ser, nesse caso adulterado
É desprendido de leis comuns
De pagamento em terra

As costas arquearão por falta de peso
A ausência visceral deturpará o esqueleto
Serão, então, calcificadas as articulações

Assim, de estrutura fixa, será mais fácil
Acabar de sepultar
O que um dia terá sido ser.

Artwork

[ lex ]

As oportunidades acontecem
ao olhar determinados
Códigos
Surgem ideias de lógica vivendus

O ser
Em certos modus
pode desnortear-se um pouco
Ou bastante
Ou para o seu sempre, até

São as engrenagens
Porque colectivas
Imiscuam-se nos processos
Implicando com os organismos biológicos, assim
Atribuindo enredos civis
Menos desejáveis

Aprendendo
À medida que desenrola
A fotossíntese e o
Dever

O ser a identificar
O resguardo
Que um código de
Modus vivendus
Civil
Lhe provê

É a lógica cujo entendimento se alcança
Após a reflexão debruçada
sobre a matrix
No nanossegundo precedente
Ao chamamento visceral pela mater

No final da batalha, lavado
O ser estafado, mas
Agora sem aflição, diz "Iustitiae. Iustitiae.".


[ edificações ]

Nos dias em que as casas aparecem
mais assombradas
Melhor do que um cobertor de lã
Imperativo é que os olhos se detenham
Concretos
Sem morar dentro dos sonhos

As casas
Doem, se os seus silêncios são contaminados
Actuar:
Escutar o sentimento dos pesadelos
Inspeccionar a construção de cada edifício
E respectivas reformas, quando necessárias

A solidão
Para ser toda sem espectros
Deverá ser sem rede, com boas
Sapatas.

Para fundações teimosas
Às adversidades.

photo


Desalmada, de seu cognome “A Indiferente”

Aconteceu, completa já
Anos que basta.

O órgão
Ele próprio, esfriou
O fenómeno
Físico evoluiu
Coalhou. Nesse arrefecimento
Imobilizou.

Caríssimos destinatários, imobilizou.
É, actualmente, sólido
Azul-glacial
Justifica-se, portanto, que
Jamais se blasfeme
Nem com um picador!
Injúria, praticará
Quem d’
Os meus produtos diga
que são conduzidos
A toques de
Coração.

Cá resfriei
Na vista quotidiana
E
Sem estorvos de Buda
Que
De desejos não se toca
O tema

Aqui
Só gel
o!



photo

[ not ]

Consta que
Se eu conversasse com um
Sr. soldado
Ele me mostraria
Quão mimada sou
A palavra, em inglês
Zune a mais impacto

Mr. Soldier
Would show me
How spoiled I am

E que é injusto
Garantida,
cá da minha casinha amarela
Apontar os deditos
E pedir contas
Por exemplo
Aos que se sacrificam
Por exemplo
A aplicar técnicas,
com técnica,
De tortura

E que as meninas
Mimadas (spoiled)
Deveriam, mas é
Agradecer aos senhores
Magalas
Assim: thank you, Mr. bélico.




[ may you all dress sexy at my funeral ]

Se
por cá estiver
Lá estarei
(local também a designar?)
Tirarei a roupa
mas só quando chegar ao tal local
A designar
Não vá algum
Agente autoritário
Incompreender essa
Parte dos
últimos desejos teus
E acusar-me de atentado
Ao pudor

Escolherei o canudo mais belo
Formado pelos meus cabelos
Atá-lo-ei com uma fita de cor
ANIL

Esse canudo, após cortado
Agarrado pela cor anil
Será a minha última
Homenagem
Nua
Dir-te-ei Adeus,
Adeus, Carlos

Suspeito que
Não resistirei a dizer
Obrigada

Por tudo
e
Até sempre, quiçá.

Declaração de registo poético

Por motivos de trajecto
Ritmado
A saltos curtos
Esta melodia
Ainda por identificar
Apossou-se do
Estágio de escrita

A sua leitura
Nem por isso
Se indicia espontânea
À sua feitora
Para os devidos
Efeitos
Aguardamos dias
mais rijos

Quaisquer
Reclamações
Terão como troco
Pareceres, não prosa
A saltos
curtos.


photo

[ sintoma impotente face à depressão de infantes ] [ prosa com atitude lamentavelmente inerte por culpa da irresponsável noção de culpa ]

Bom dia, Bom dia! Bom dia a toda a gente! Eu hoje vim à escola... Por isso estou con-ten-te!
canção do bom-dia cantada diariamente em jardins de infância



Malquero
Aos malfeitores.

Se questionardes quem são
Os malfeitores
Vos respondo
- não lhes sei os nomes,
Moralizarei, pois sim
(retrógrada)
(demagoga)
Que sejam tantos quantos
os próprios nomes, todos
Humanos.

Que aplicam a herança d’
O sofrimento ético.
Debito em voz
Altamente consternada
Os vestígios

choro, anorexia,
obesidade,
insónia, fadiga,
irritabilidade,
susto, desespero, fobia,
ânsia, desinteresse, astenia,
desatenção, tique, lentidão
tristeza
desespero
morbidez

Rebelião.

[ malquerença ]

Tragam-me um espelho de olhar erguido.

Anunciem boas novas de lá

(pretérito perfeito)

Digam da extinção,

badalem a notícia!

Façam coisas.



Ordeno a realização

de actos

É a figura de estímulo

Para a resposta

que preparo:

Aviar os últimos

Desígnios do passado

Marcas de repulsa.



Soprem-me uma porção de inocência.

photo

[ darling ] [ ]


Dos mil, arrumo dois ou três

Assuntos pendentes

Tu

No espaço

Olvidas a ideia do tempo



Adormece

Que eu vou ali

Atirar os erros

Ao desprezo

Vou ali arremessar erros íntimos

Para prescrever a minha discussão

E condescender com a ambivalência

de ser eu. Enquanto tu velas aí

No teu sono justo.



raining in darling, Bonnie Prince Billy

[ sem cabelos arrepelados] [ na busca do talento que me auxilie nesta manifestação ]

A proximidade deste período com os seus antecedentes é estonteante. Pela vertigem que se faz sentir, diria que há sequências centrífugas e centrípetas que estão a certificar a capacidade molecular do caleidoscópio - que funciona conforme a celeridade das sinapses (atenção que a ligeireza das sinapses não pode ser associada proporcionalmente às propriedades do raciocínio posteriormente formulado). Não houvera preconceitos e talvez se pudesse estabelecer uma relação à proporção directa, mas não pode. O ambiente do caleidoscópio, que está em fase de ser patenteado, tem uma densidade de substâncias gasosas que se apresentam em ponto de solidificação (a patente deste caleidoscópio serve somente para assinalar a transformação presente de forma figurativa). A transformação presente é o assunto efectivo desta descrição e importa referir que não importa para o assunto a lei das perdas, pois o princípio, este princípio, não valida condições de posse. Assim, movimenta-se o pensamento. É.
Embora se possa assemelhar a tal, este não é um discurso técnico. Sabe-se por aqui que os níveis das ignorâncias são elevados.
O assunto é baseado nos factos verídicos do desatino que se faz sentir quando se fecha o olhar x unidades de tempo para espreitar z vezes e tudo aparecer intermitentemente a tons prateados e de matéria acrílica.
Na verdade, hoje busco um talento que me ajude a representar a doidice passageira.
Se eu não andasse munida de preconceitos não utilizaria nomenclaturas como doidice nem me preocuparia com justificações sobre a sua longevidade.

Kristin Baker, Ride the Lightning

Ride the Lightning, Kristin Baker


I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro