la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

R.I.P.

preferia sair de casa em camisa de noite, fingindo sonambulismo, a admitir que era assolada pela insónia. uma senhora e a sua reputação são sempre absolvidas pelos actos involuntários comandados por um estado de cuja consciência não pode ser responsabilizada. na rua, cerca das 5 da madrugada, caminhando por entre a humidade do nevoeiro, era necessário um álibi, nenhum melhor que a desculpa do que não se sabe que se faz. despia o seu papel de dama na sala, puta na cama, despia a camisa de noite e procurava uma enfermidade que se pudesse sentir no corpo, os pulmões eram a sua primeira escolha - sempre se convencera de que uma pneumonia tinha algo de sofrimento legítimo, sofrer asfixia seria um bom castigo por se existir. arrogância sua, sonhar a escolha daquilo de que padeceria, olhou a branca camisa de noite de algodão indiano, sangrava por todo o tecido que lhe chegava aos pés - morreria pelo útero, uma morte que chegava dos ovários.

lugar comum: nunca estamos satisfeitos

assustei-me quando acabou o Universos Desfeitos, tive medo de perder a oportunidade de continuar ler o/através do Henrique (& compª), agora que ele nos dá pão a cada dia, não tenho mãos a medir com tanto que por lá há para ler

I mish shpeaking dolphin. I mish my favourite dolphin

080305.gif

see


Death and Girl (Self-portrait with Walli)
Egon Schiele

feel

«Pensamento de amor: gosto tanto de ti que desejaria ser teu irmão ou ter-te dado à luz eu próprio.»

Cesare Pavese in O Ofício de Viver

contas à vida

sair de casa, tentar lembrar onde deixei o carro estacionado no dia anterior, pôr os óculos de sol, sintonizar a rádio, seguir o caminho curto, chegar ao local de trabalho e proceder aos rituais. perceber que já lá vão as férias e que se olha o calendário seguinte, a expressão mais comum entre nós - gosto muito do que faço, mas se pudesse deixava de o fazer de um dia para outro. valha-me a certeza de que, após espreitar a agenda, a engrenagem recomeça e me distraio das saudades da pequena liberdade estival. voltei a lembrar o que significa ser sexta-feira. bom dia!

negação

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não farei percursos que me obriguem a passar por Vale de Canas, fingirei que nada aconteceu
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foto daqui

dançar dançar dançar

não queiras adivinhar-me o desejo. cala-te. é tempo da dança, disseste-me. pois eu quero dançar dançar dançar.
Left - Dior by John Galliano/ Right - Louis Vuitton
dançar dançar dançar dançar dançar dançar dançar dançar dançar

Coimbra



« se as lágrimas apagassem fogos não teriam ardido as árvores debaixo da minha janela »

Marta M.

[caixa de comentários a Coimbra sem encanto]

inferno

back home

All-Bisque Kewpie Doll - Original

Verão de 2005: nasceu a A.,
é quanto baste, mais uns quantos pormenores, para citar Jorge Palma...
... Há vestígios do Verão
que o Outono não pode apagar.

1 . 2 . 3 . testing

só para ver se ainda me lembro como se bloga...

para um aniversário passado

tu tu tu tu tu tu tu
tu tu tu tu tu tu tu
tu tu tu tu tu tu tu
tu tu tu tu tu tu tu
tu tu tu tu tu tu tu
tu tu tu tu tu tu tu te muito

going on a summer holiday *

meanwhile, what will the world be up to?

Picasso, working on Guernica

* quão herege se pode ser? juntar Picasso e Clif Richards no mesmo post, não sei se isto tem perdão, considerem insanidade temporária, falta de férias, sei lá, talvez eu volte aqui para censurar este post

.nasceu

.
.nasceu
está bem
a mãe está bem
nós estamos bem
.nasceu
a pessoínha nova
tem nome
.nasceu
os deuses dentro de nós rejubilam.
.
.

excertos das horas à espera

não consigo estar parada. roesse as unhas e já só tinha cotos. () nem estou numa de pensar que não corra bem. não se sabe explicar isto. não é pessimismo. não é pressa. () falei com ela há bocado e ia caíndo em lágrimas, imagina!. só me lembro das velhotas quando dizem tão sabiamente "que tenha uma hora pequenina.". vou ali fumar um outro cigarro. () quéque pensas? só me apetecia ter aqui a minha avó, esta coisa tem realmente muito de tribal. vou mazé esfumaçar já venho. () a minha avó de carrapito branco e eu de carrapito preto. ambas sentadas no arrebate (adoro esta palavra) a apanhar sol, ela rezando e eu apreciando-a. () compreendo tão bem os ciganos!. sem dar por isso, fazemo-nos de gente muito aprumadinha. cada um na sua vidinha a tentar fingir que é só outro dia, mas afinal parecemos baratas tontas. trocas de telefonemas, como se pudéssemos acelerar alguma coisa. ó miséria! () agora até me deu vontade de rir. a cena de tentarmos fazer alguma coisa - que é totalmente utópica... fui comprar o jornal para a minha irmã guardar (não sei onde fui buscar esta moda, lembrei-me, qdo a S. nasceu. desde então compro-lhe sempre um jornal, para guardar direitinho, no dia de anos), saí do gabinete de rompante, fui comprar o jornal, dobrei-o direitinho numa capa de plástico e depois fiquei a olhar para ele com ar de " e agora? será que ajudou nalguma coisa?". () não sei onde pus o isqueiro.
excertos silenciosos, quem nos acompanha quando faltam as horas.

do Top 10 das "frases que impõem respeito"

Que tenha uma hora pequenina.
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Summer Evening


Edward Hopper

mulheres partilham monólogos

Eufémia conseguira manter-se fiel durante quase 5 anos, tinha um certo orgulho por se aproximar esse aniversário – as bodas de algodão. Pronunciava em voz baixa bo__das__de__al__go__dã____U e sorria ao fazer a retrospectiva da sua relação com H.. No primeiro encontro chegaram a vias de facto, pelo que imediatamente estabeleceram as conformidades da sua relação, seria de facto, e assim era há já 7 anos, 3 meses e 19 dias. Eufémia tinha feito o curso básico de triagem de envelopes C6 e DL com Lúcia, trocaram contactos na altura. quando Eufémia se deparou com a possibilidade de infidelidade lembrou-se de Lúcia, era uma pessoa isenta do seu círculo social, pensou que ela poderia ser imparcial ao aconselhá-la pois não conhecia os envolvidos na história que lhe abalava a integridade moral. Enviou-lhe uma carta através do correio interno num envelope modelo 15. Lúcia, eficaz como sempre, respondeu-lhe de imediato mas a sua escrita era quase imperceptível, Eufémia sentia-se cair numa teia de cada vez que tentava descodificar a caligrafia de Lúcia. À primeira leitura sentiu-se apedrejada: Querida, não te pergunto se esta carta te encontra bem porque já percebi que encontraste o egoísmo. Quem no seu perfeito juízo poderia ponderar a hipótese de deixar um homem como o teu, por causa da impressão que lhe causa as mãos de outro? À segunda leitura sentiu compaixão pelo seu dilema: (…) porque já percebi que encontraste a angústia. Quem no seu perfeito juízo poderia ponderar a hipótese de adorar um homem como o teu, por causa da impressão que lhe causa as mãos de ouro? Eufémia afundava-se a cada leitura, não encontrava uma ordem coerente para a acção a adoptar nos seguintes episódios deste melodrama: (…) encontraste o êxtase. Quem no seu perfeito juízo poderia porfiar a hipótese de deixar um homem como o teu, por causa da compressão que lhe cansa as mãos de outro? A folha de papel onde Lúcia escrevera esta carta já se encontrava em mau estado de tanto ser lida, dobrada e desdobrada, inclusive comprara um bloco de notas para não se esquecer das suas conclusões a cada interpretação, desenhara uma linha ao alto para ter uma coluna de significados, pois a cada leitura havia palavras que Eufémia nunca tinha lido mas que constavam no dicionário e não queria correr o risco de se esquecer de alguma delas. As coisas complicavam-se, Eufémia já não conseguia pensar em nenhum dos homens, a carta multi-interpretável de Lúcia tornara-se num quebra-cabeças que não deixava espaço para mais nada na mente de Eufémia. Não aguentou mais, ligou para a telefonista e pediu uma chamada privada para a estação de Estrasburgo, ao que a telefonista tentou alertá-la para o facto de que se era para uma das estações da rede a chamada seria em serviço e não pessoal. Eufémia insistiu, era para a rede mas não em serviço, a telefonista fez a ligação, contrariada, libertando um você é que sabe, não vai ficar barato, Eufémia nunca pensava que “você” é estrebaria. A ligação estabeleceu-se (neste momento seria útil lembrar as reticências utilizadas n’A Voz Humana de Jean Cocteau) e Eufémia debitou a sua mente: quando era gaiata, mas não tão gaiata assim, queria amar os homens todos, “queria” não! Amava-os, ouviste? Amava todos os homens. Porque mereciam o meu amor, quem no seu perfeito juízo não ama um homem que olha para si? E fiz bem, ouviste? Fiz muito bem. Fiz bem quando abri as pernas ao H. no nosso primeiro encontro. E não serás tu a pessoa que me vai explicar porque se tem de esperar pelo terceiro encontro para o fazer. Ouviste? Se um homem olha para mim o mínimo que lhe posso fazer é mostrar-lhe que ele é amável, que pode ser amado por qualquer mulher e por todas as mulheres. Ouviste?! Ninguém merece ser amado, ser amado é um direito. E ninguém está aqui a falar de amor. Não foi preciso uma carta ridícula como a tua para eu perceber que no meu perfeito juízo amo o H., ora essa! Sabes lá quem sou, de que massa me fiz. Ouviste? Eu sei, já sabia, o que ia fazer. Queres que te diga? Ouve, com atenção, a minha fidelidade vai comemorar as bo__das__de__al__go__dã____Uuuuuu. Ao prolongar o /u/, Eufémia ouve do outro lado da linha algumas reticências em francês, proferiu um gago e interrogativo "Lúcia" seguido de Eufémyá de PoRtugál. Afinal não era a sua amiga do outro lado da linha, esquecera-se da intermediária telefonista, homóloga da sua colega “você”. Esperou cerca de 5 minutos acalmando ao som d’As quatro estações de Vivaldi, as cordas interromperam e ouviu-se Eufémia?! Querida! Antes de mais, quero desculpar-me por não ter respondido à tua carta, sabes que tenho pouca prática de vida, não sabia o que te dizer. Não tenho andado bem, não tenho andado mal. Lembras-te, claro, do J.. Acontece que nesta minha vida futura morri.___________Não deixei de ler, se não lesse teria de beber.__________Houve dias em que enlouqueci.___________Não me esqueço da cara dele, é a cara que trago da vida verdadeira.______________Tenho de continuar a ler para sentir que o não atraiçoo.________Não sei que te dizer sobre H..___________Não me conformo de ter dito que não havia alguém especial. (neste momento seria útil lembrar o som de fim de ligação)

o tango dança-se com sapatos próprios para a ocasião [ou - não sei onde pus os meus sapatos de tacão alto (e só tenho um par)]

falar francês e tocar piano. o sonho das meninas grandes que se esqueciam quando eram pequenas. falar piano e tocar francês, outras variantes. as meninas, grandes ou pequenas, não sabem dançar tango. as "outras" não usam espartilho, talvez água de rosas numa tentativa de limpar as maçãs maduras do rosto.
photo: Tim Peterson

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro