la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

[ estigmas na imagem do belo ]

Não é aquele em que cais sem alcançar o abismo. Nem o tão falado voyeur do qual dizem correr sem arredar pés do metro cúbico onde estão colados.

É outra coisa. É nada e é o tornar realidade da nudez a nu perante o cenário. O civilizado. A plateia que leva a mão à boca em ais surdos enquanto que as tuas estão presas dentro de muitos bolsos e o grito não é o banal mudo habitual dos sonhos, mas é verdadeiramente aquele em que sabes tantos movimentos da garganta. Sempre a secar sem que haja ar, ou até muco, para lançar vibrações ao berro. Porque não é um sonho, nem a falácia de um pesadelo. É a tua nudez a soldo com um pedaço a menos de inocência.
És estanque no arrepio
-aragem à pele
sem abalar veloz. Abalar.
(grande celeridade)
Guardar o belo
(grande urgência)
do demais banalizado.

[ do resguardo da castidade da desonra da gente ]

Depois
a gente esquece
pensa
sem compreender que nada é
assim tão limpo
(“assim tão”)

que o asseio existe
sim, claro

apenas
a gente não pode
achar ninharias
de sujidade
sujas
assim tão sujas

falando como um lugar comum
vê-las serve para
alcançar
o bocado limpo
(por exemplo, a gente
não tem de
envergonhar-se de uma
unha suja).









photo


shame on you, Stuart Staples

[ outras horas ]

outrora celebraram ternura

Foi. então
Quando pesavam já falecimento
de entusiasmo
chocaram o que não era passível
do toque. Tarde

são as datas não fatídicas em que ela acaba
para sempre
nada diz é enquanto dura

Na ternura
Não se puseram com
coisas

com acontecimento
Adiantar o que
Atrasou nunca foi solução

A ternura foi e durou
como acontece
Ou não
assim calhou resistiu
quebrou. Cedo

um vociferou.




by this river, Brian Eno

[ a putrefacção dos picos existe acontece ao longo dos tempos a tempos ]

desmultiplicação da visão:
momento/imagem:
À medida que

a laranja é descascada pelos teus dedos E apregoas o teu parecer - o anúncio do sentido das coisas, estas coisas, por exemplo
Nessa tua mansidão. Recordo

aquela tarde à mesa (o final tardio de um almoço só) Os picos a romper
- o grito na laringe
Era uma maçã, e ouvi
São espinhos, senhora.
São espinhos
.


Faz sentido, isto faz sentido,
diz ele.
Suga o sumo da laranja
e confirma não tem espinhos.



Ela (eu) vê chegar um dia ameno Beija e ilustra, pândega:

Não enxovalhes a crença
Nos picos
Mesmo enquanto sugas laranjas macias
.

Essa ela
oca de completos Grandiosos reduz a vista Lá para dentro Admite a soberania dos beijos é
a conivência indizível das bocas Tanto espanto este. porque está Dentro desta imagem tola de ser
Aquela Que qualifica da Guerra (com Batalhas, claro)
nota: as batalhas sugam sugam De tanto sugar
convencem-te do pavio no resto em esgotamento; fim de nota.


o espanto ..i ne vi ta vel men te
comoção A verdade sobre a comoção
bem-nascido o Discernimento emocionado
Não bombeado mecanicamente
Apesar de produzido quimicamente
baixa os braços sem abdicar e cicia Ai, as minhas forças Até à última unidade energética para que, Discernimento Não sejas deposto Do estatuto Nobre.

[ metáfora escalada ] [ stillness ]


Dos dias, todos, o conjunto
sai daqui uma continuidade
considero desonesto o apelido ___________ Viagem
também não me parece
escalada
nem arrisco ser queda eternamente. Certeiro o final.





[ talvez escrever ]

Talvez um dia consiga escrever isto


de dentro do meu esqueleto de ossos ferve

Como se fora tutano suado
São dias de estudo
sem caligrafia a fugir das falanges
à procura d'A palavra simples

Parece que me vejo. Parece
mas a língua pesa em cima d'A palavra

Busca Palavra Dias
são simples, afirmo
Ainda assim
não põem água nesta fervura
(das aparências a calma dos lábios).

Dias confessionários são estes até.






Eleanor, Harry Callahan

[ aventuranças ]


Não vás ao mar, ouviste

É verdade sem rigor que as ondas torcem
Não esvaziam
Fundos de olheiras


Experimenta-se como se fora algo uma alma
Maior um pouco outra solidão
Despender-se-ia
Pudesses

assim


Grave
Outro soco atinge as mulheres-dos-olhos

ainda



Fá-lo-ias leve
Para o penhor da ternura
Que conceberias numa salva de alegria
Legítima. Não gratuita

ainda assim
Restas nesta história marchar
Impor por tua mão uma cruz
Objecção ao peso crime-perverso.


Repara
Não é de fortuna sentada que se esvaziam fundos de olheiras.



Bathing Beauties, Cheryl Maeder
para nós, as mulheres sujeitas à lei portugesa
para nós, os portugueses a quem será (cobardemente) delegada a lei

[ no news would be good news ] or [ whistling ]


Trouble, more trouble can you get anymore
Slow bubble boiling on the bedroom floor
Lonely ain't lonely, someone calling at the door
Someone lovely and she's bringing bad news

She clenches and she cries and she lays on the stairs
Pounding on the earth and yanking at her hairs
And showing such fear at being found unawares
To be here and be bringing bad news

Well, something bad happens and a lot of people go
Bad themselves, that's how awful it is
Turning half the heart into something hard and dark
And she had to bring here this

Well, she's told, « Hold your buttons and look at the sky
Someone will fix things if you let your face dry
Keep your face near the earth and your heart beat high
And you may transcend the bad news »

Well, something bad happens and a lot of people go
Bad themselves, that's how awful it is
Turning half the heart into something hard and dark
And she had to bring here this

For all hammers and nails
For all leaves and winds
For all love ambitions
And enemies and friends

She shakes her face so fiercely that all her features go
She lays like a monkey unclothed in the snow
And her voice it decays and before it does she goes,
« I will never again deliver bad news »

Something bad happens and a lot of people go
Bad themselves, that's how awful it is
Turning half the heart into something hard and dark
And she had to bring here this

Mm, hey little bird – hey little bird
Thank you for not letting go of me when I let go of you
Hey little bird – hey little bird
Thank you for not letting go of me when I let go of you
(Hey little bird – hey little bird)
Thank you for not (letting go of me when I let go of you)

[ exercício (talvez não-solitário) - pesquisa (definitivamente não-frenética) de antónimos ]

Alteração
Desordem .Distúrbio .Desarranjo .Deformidade .Defeito .Deficiência


Perturbação

Imperfeição!



N o r m a
Convenção
Instituição


A nor ma li da de





[ não entregarás as entranhas a mãos alheias ]

Quando o ser
Num descuido vulgar
Vê entregues as suas entranhas
A mãos de fiança dúbia

Dispensa dissertações futuristas
O ser, nesse caso adulterado
É desprendido de leis comuns
De pagamento em terra

As costas arquearão por falta de peso
A ausência visceral deturpará o esqueleto
Serão, então, calcificadas as articulações

Assim, de estrutura fixa, será mais fácil
Acabar de sepultar
O que um dia terá sido ser.

Artwork

[ lex ]

As oportunidades acontecem
ao olhar determinados
Códigos
Surgem ideias de lógica vivendus

O ser
Em certos modus
pode desnortear-se um pouco
Ou bastante
Ou para o seu sempre, até

São as engrenagens
Porque colectivas
Imiscuam-se nos processos
Implicando com os organismos biológicos, assim
Atribuindo enredos civis
Menos desejáveis

Aprendendo
À medida que desenrola
A fotossíntese e o
Dever

O ser a identificar
O resguardo
Que um código de
Modus vivendus
Civil
Lhe provê

É a lógica cujo entendimento se alcança
Após a reflexão debruçada
sobre a matrix
No nanossegundo precedente
Ao chamamento visceral pela mater

No final da batalha, lavado
O ser estafado, mas
Agora sem aflição, diz "Iustitiae. Iustitiae.".


[ edificações ]

Nos dias em que as casas aparecem
mais assombradas
Melhor do que um cobertor de lã
Imperativo é que os olhos se detenham
Concretos
Sem morar dentro dos sonhos

As casas
Doem, se os seus silêncios são contaminados
Actuar:
Escutar o sentimento dos pesadelos
Inspeccionar a construção de cada edifício
E respectivas reformas, quando necessárias

A solidão
Para ser toda sem espectros
Deverá ser sem rede, com boas
Sapatas.

Para fundações teimosas
Às adversidades.

photo


Desalmada, de seu cognome “A Indiferente”

Aconteceu, completa já
Anos que basta.

O órgão
Ele próprio, esfriou
O fenómeno
Físico evoluiu
Coalhou. Nesse arrefecimento
Imobilizou.

Caríssimos destinatários, imobilizou.
É, actualmente, sólido
Azul-glacial
Justifica-se, portanto, que
Jamais se blasfeme
Nem com um picador!
Injúria, praticará
Quem d’
Os meus produtos diga
que são conduzidos
A toques de
Coração.

Cá resfriei
Na vista quotidiana
E
Sem estorvos de Buda
Que
De desejos não se toca
O tema

Aqui
Só gel
o!



photo

[ not ]

Consta que
Se eu conversasse com um
Sr. soldado
Ele me mostraria
Quão mimada sou
A palavra, em inglês
Zune a mais impacto

Mr. Soldier
Would show me
How spoiled I am

E que é injusto
Garantida,
cá da minha casinha amarela
Apontar os deditos
E pedir contas
Por exemplo
Aos que se sacrificam
Por exemplo
A aplicar técnicas,
com técnica,
De tortura

E que as meninas
Mimadas (spoiled)
Deveriam, mas é
Agradecer aos senhores
Magalas
Assim: thank you, Mr. bélico.




[ may you all dress sexy at my funeral ]

Se
por cá estiver
Lá estarei
(local também a designar?)
Tirarei a roupa
mas só quando chegar ao tal local
A designar
Não vá algum
Agente autoritário
Incompreender essa
Parte dos
últimos desejos teus
E acusar-me de atentado
Ao pudor

Escolherei o canudo mais belo
Formado pelos meus cabelos
Atá-lo-ei com uma fita de cor
ANIL

Esse canudo, após cortado
Agarrado pela cor anil
Será a minha última
Homenagem
Nua
Dir-te-ei Adeus,
Adeus, Carlos

Suspeito que
Não resistirei a dizer
Obrigada

Por tudo
e
Até sempre, quiçá.

Declaração de registo poético

Por motivos de trajecto
Ritmado
A saltos curtos
Esta melodia
Ainda por identificar
Apossou-se do
Estágio de escrita

A sua leitura
Nem por isso
Se indicia espontânea
À sua feitora
Para os devidos
Efeitos
Aguardamos dias
mais rijos

Quaisquer
Reclamações
Terão como troco
Pareceres, não prosa
A saltos
curtos.


photo

[ sintoma impotente face à depressão de infantes ] [ prosa com atitude lamentavelmente inerte por culpa da irresponsável noção de culpa ]

Bom dia, Bom dia! Bom dia a toda a gente! Eu hoje vim à escola... Por isso estou con-ten-te!
canção do bom-dia cantada diariamente em jardins de infância



Malquero
Aos malfeitores.

Se questionardes quem são
Os malfeitores
Vos respondo
- não lhes sei os nomes,
Moralizarei, pois sim
(retrógrada)
(demagoga)
Que sejam tantos quantos
os próprios nomes, todos
Humanos.

Que aplicam a herança d’
O sofrimento ético.
Debito em voz
Altamente consternada
Os vestígios

choro, anorexia,
obesidade,
insónia, fadiga,
irritabilidade,
susto, desespero, fobia,
ânsia, desinteresse, astenia,
desatenção, tique, lentidão
tristeza
desespero
morbidez

Rebelião.

[ malquerença ]

Tragam-me um espelho de olhar erguido.

Anunciem boas novas de lá

(pretérito perfeito)

Digam da extinção,

badalem a notícia!

Façam coisas.



Ordeno a realização

de actos

É a figura de estímulo

Para a resposta

que preparo:

Aviar os últimos

Desígnios do passado

Marcas de repulsa.



Soprem-me uma porção de inocência.

photo

[ darling ] [ ]


Dos mil, arrumo dois ou três

Assuntos pendentes

Tu

No espaço

Olvidas a ideia do tempo



Adormece

Que eu vou ali

Atirar os erros

Ao desprezo

Vou ali arremessar erros íntimos

Para prescrever a minha discussão

E condescender com a ambivalência

de ser eu. Enquanto tu velas aí

No teu sono justo.



raining in darling, Bonnie Prince Billy

[ sem cabelos arrepelados] [ na busca do talento que me auxilie nesta manifestação ]

A proximidade deste período com os seus antecedentes é estonteante. Pela vertigem que se faz sentir, diria que há sequências centrífugas e centrípetas que estão a certificar a capacidade molecular do caleidoscópio - que funciona conforme a celeridade das sinapses (atenção que a ligeireza das sinapses não pode ser associada proporcionalmente às propriedades do raciocínio posteriormente formulado). Não houvera preconceitos e talvez se pudesse estabelecer uma relação à proporção directa, mas não pode. O ambiente do caleidoscópio, que está em fase de ser patenteado, tem uma densidade de substâncias gasosas que se apresentam em ponto de solidificação (a patente deste caleidoscópio serve somente para assinalar a transformação presente de forma figurativa). A transformação presente é o assunto efectivo desta descrição e importa referir que não importa para o assunto a lei das perdas, pois o princípio, este princípio, não valida condições de posse. Assim, movimenta-se o pensamento. É.
Embora se possa assemelhar a tal, este não é um discurso técnico. Sabe-se por aqui que os níveis das ignorâncias são elevados.
O assunto é baseado nos factos verídicos do desatino que se faz sentir quando se fecha o olhar x unidades de tempo para espreitar z vezes e tudo aparecer intermitentemente a tons prateados e de matéria acrílica.
Na verdade, hoje busco um talento que me ajude a representar a doidice passageira.
Se eu não andasse munida de preconceitos não utilizaria nomenclaturas como doidice nem me preocuparia com justificações sobre a sua longevidade.

Kristin Baker, Ride the Lightning

Ride the Lightning, Kristin Baker

[ aerius ]




























atchIm

[ tea time ordinary thoughts ]

# O mundo encolhe e o mundo estica. A minha mente asneia e permite uma corja de desordens que me dista da pigmentação anilada. Este estadio mental é responsável pela apneia que manifesto. Por seriações desconexas o bulbo incha. Assim, a cabeça como um edema de características homogéneas, características atipicamente homogéneas.


#
Desaprendo e detenho-me néscia sem saber o que fazer acerca do muro (é de cor anil e tem buracos), vacilo, olho, sei que há um provérbio sobre muros e a dicotomia entre força e sabedoria, lembro-me de qualquer coisa acerca do corolário desse provérbio que refere o modo de coexistir com os muros - as acções galgar e furar.


#
Confesso a irritação com sentenças e manuais de vida. Ditados de princípios básicos de existência para padrões de dignidade, sabedoria, gozo, poder, e outros empreendimentos que tais. Que o mundo é grande e que o mundo é pequeno. Viver hoje como se amanhã fosse um último dia, ou antes, viver hoje como se hoje seja o último dia. E que a busca da sabedoria deve condizer com uma ilusão de eternidade. Que o urbano é diferente do rural e que o rural é melhor ou que o urbano é que é. Que a anarquia não serve e um deus também não. Atira-se a primeira pedra a lembrar ensinamentos sobre a mesma.


#
E nesses dias em que tudo vem em catadupa e nesses todos os dias como este em que escrever é um mero acto, só mesmo um acto, talvez apenas um automatismo que nem é aferido na morfo-sintaxe (sem contar com semântica e pragmática). E nestes dias pequenas missões - que lhes chamo missões porque não são vocação nem destino e não respeito estigmas que neguem o conceito missionário - são resultados de opções e as opções são isso só isso, e as opções respeitam-se e conjuntamente se arcam.


#
Dizia, nestes dias cumprem-se pequenas missões, cumpro as missões quotidianas e surgem-me flashes dos pequenos gestos e congemino sobre um gesto, ou dois, que sejam universais e penso numa chávena de chá. Quem diz chávena pode dizer malga ou caneca ou copo ou outros recipientes. Penso no chá e no acto de o sorver ou antes disso no acto de o preparar (e começo a pensar sem pontuação entre pontos finais). O acto de fazer chá não por ser uma moda que nem sei se está na moda pois essa apreensão é uma tontice claro que o chá é só isso essa substância admirável penso no acto da sua preparação e no acto da sua ingestão que é um acto de certa forma moroso pois a temperatura deverá aproximar-se do tolerável pela nossa cavidade oral e são actos tão feitos por nós homens e é bonito.


#
Quantas pessoas terão fotos de instantes nesse ritual? Quantos de nós teremos sido captados com uma chávena na mão e um esgar a condizer com a circunstância simpática?


# Num estado um pouco trágico deliro e imagino alguém com uma foto sua na mão. Naturalmente com a possibilidade de lacrimejar.


#
Não é uma novidade nem vai acabar esta fragilidade da miscelânea de sentir entre desalento e zanga. A minha mente entra em cismas sobre fotografias privadas da população com chávenas de chá na mão, e fica atipicamente heterogénea.


#
Estaciona-se real no corpo a impotência. Esmoreço nesta debilidade e acordo mais tarde afortunada nos braços sólidos.


#
Arrumo um pouco o corpo e discordo sobre o exagero na nudez. Percebo uma certa tendência deste dia para a contradição, mas sou recordada pelos braços sólidos da legitimidade para regressar.


#
Regresso.

[ à minha mesa, uma toalha branca com migalhas ] [ o gosto de acudir aos apetites ]

Destes fogões. Quero sempre destes fogões nesta cozinha sem design e sem o aparato das tradições, é a minha cozinha. Ser a minha cozinha sem design e sem aparatos outros não é um factor de tipo somente. É a minha cozinha. Ah!, suspirei, na memória de receitas fazendo as devidas associações: lasagna para os sobrinhos mais velhos; canja e massinhas em forma de estrumpfes com bolonhesa para as pequenas; feijoada para os amigos; cozido à moda antiga para os pais (sem esquecer o bolo de chocolate pela tarde fora); sopa de peixe para a mana; sopa de aipo, maçã assada, brunch com todos aos Domingos e feriados, arroz de tamboril, para ti, e meia-dúzia de camarões fritos; destes fogões! Não escaparia daqui a debitar as associações. Os dias sabem bem, o Outono sou eu a saborear os pedidos à minha mesa. Ser a tia maggie, mags ou sandra, sandy e peninha e babe. Penduro um calendário com pintainhos na parede e rasuro Domingos e feriados com nomes e ementas. Não peregrino acerca da real possibilidade da mesa posta para os convidados nesses dias. A cozinha fica mais habitada e é quanto me basta.

Bom-dia

Esta que vêem na fotografia sou eu, achei por bem colocá-la já que neste post tenho de dizer coisas sobre mim - a continuação de uma corrente que me passou a minha amiga lebre, que sabe um montão de coisas sobre mim. Vejo pessoas classificar este como sendo um weblog-pessoal, nem sei, talvez seja isso. Assim sendo há aqui 1111 (é verdade!) posts ou seja, 1111 coisas sobre mim. Aqui e ali, por exemplo.

Ontem, não sabia dizer as coisas sobre mim, fiz o post-resposta e afixei e apaguei, há dias assim.

Posso dizer que na maior parte dos dias este é o meu mood, e esses são dias bons. Hoje é um dia bom. Outra coisa: gosto muito desta canção, faz-me sorrir muito e querer rodopiar.

Gosto do meu pai e da minha mãe, ensinaram-me os afectos sadios e esta é uma das coisas mais importantes sobre mim – o respeito pelos afectos sadios - e estou a dizê-la num blog que é outra coisa sobre mim: gosto de blogs. Tentar dizer destas coisas é estranho enquanto tarefa, isso faz-me sentir inesperadamente bem, o conforto de saber que não há nada a acrescentar que seja novidade. Como disse o Rui Costa (algures numa caixa de comentários): sou como a miss Universo, quero que as crianças não passem fome, que haja paz no mundo, essas coisas assim. Bom-dia. :)



Passo a outros e não ao mesmo: menina-alice, Carlos, insones e Pedro, vá! não ralhem comigo, hoje não me apetece ser ovelha ranhosa e cortar a cena da corrente.



i like birds, eels

[ das minhas vísceras e os vários recipientes ]

Carolee Schneemann ver.1a [(Detail) Timeline paintings], Ward Shelley

Sinto uma espécie de gratidão por me ter calhado uma função que exige um gabinete encerrado à sonoridade exterior, foi talvez um golpe de sorte nesse dia em que segui para exercer esta função, nem me passou pela cabeça se seria à porta fechada. Assim é. Calhou-me uma lida que ora é à porta fechada ora entra pelas casas familiares adentro. Esta sala que tem uma porta que fecha e deixa que me feche cá dentro para os intervalos da sanidade mental. Esta sala é mais uma caverna. Tenho uma série de cavernas.

n cavernas. O meu automóvel, por exemplo, é uma caverna muito importante. E ambulante. A minha casa é uma caverna com cavernas. O meu quarto é uma caverna dentro doutra caverna e também tem cavernas. Às vezes, a minha roupa é uma caverna. Outras vezes, a minha nudez é uma caverna. Ninguém sabe, mas eu posso revelar, digamos que ninguém sabe porque talvez nunca se tenham debruçado sobre o assunto pois tenho a certeza de que se alguém tivesse quedado uns minutos para discorrer perceberia imediatamente que o 7º andar é só uma ilusão porque, na verdade, é um covil subterrâneo.

Há dias em que é um bocado complicado usufruir das cavernas - acontece que não sou pequena e como disse, consoante os dias, há risco de ficar encravada nas entradas, ou nas saídas. Já aconteceu ficar enrascada, foi chato, mas já passou. Sou plenamente consciente do risco de voltar a acontecer, da lei das probabilidades. Não vale a pena arriscar o conceito phobia porque não estou interessada em dar nome às coisas que me guardam. Nem medo. Hoje de manhã percebi que vou escavar uma gruta no teu corpo.

[ amor ódio ] [ querer amar com as mãos. nas mãos todas ]









[ a minha idade o meu violão, rock'N'roll e tudo - poema, bicicleta, poeta e mão ] [ a paciente brutalidade da Primavera no Outono ]

Estou deitado no nome: maio, e sou uma pessoa
que saiu
violenta e violentamente para o campo.
Um homem deitado entre os malmequeres
rotativos do mês atraves-
sado pelo movimento.
É a noite aproximada com o livro
dentro. Deitado sobre bocados
de estrelas no pensamento.
Era a casa absorvida na manhã
embatente.
Livro de poesia arrebatada. Poesia
da mulher emparedada no amor
e o homem emparedado na destruição
do amor.
É agora o leitor com a atenção corrupta
sobre o livro.
O livro que arde nos ossos
do leitor afogado no poema arrebatado.

Estou estendido como autor na ligeira
palavra que a noite molha
e os ventos sopram como se sopra
uma brasa.
Um homem que saiu de casa, com toda
a magnífica violência do amor.
É o tempo revelador.
Agora inteligente deste lado,
contra o lado exemplar de maio aglomerado.
Espécie de primavera comburente.
A dor total. O livro.
O pensamento do amor. A
experiência.
E a vida ardente do autor.

Deitei-me também no campo
de outras coisas. Com discurso. Com
rigoroso segredo.
Vi o caçador levantar o arco-íris
e atirar, fechada, a morte
ao cabrito primaveril.
E tudo calei como experiência
de um sono inspirado.
Vi a ressurreição, maio
infestado. Ouvi
passar o ciclista da primavera
sobre o ruído da ressurreição.
Conheci a existência do roubador, o ciclista
que penetra no exemplo da fábula.
Estou deitado em meio campo
de uma espécie de despedida.
Meio campo de maio, e outro meio
de pessoalíssima vida.

São coisas que já não estão mais
do que na maturidade da idade.
Fiz comércio. Indústria. Dor.
A garganta lavrada pelo canto.
Ia a bicicleta com o seu poeta que punha a mão
no poema da bicicleta.
E iam todos - poema, bicicleta, poeta e mão -
por sobre o coração da terra e a ressurreição
da primavera. Ganhei
a minha idade concluída.
Cacei. Ou plantei. Ou cortei.
A vida vida.
Havia o movimento com a sua bicicleta
e a canção com o seu poeta.
A vida merecida.

Vejo ervas movimentadas e estrelas paradas.
E a consumação das coisas universais.
Geram-se de novo as coisas
universais. A pureza.
A natureza da pureza.
A própria natureza das coisas universais.
Da dor sei o amor.
O amor do ardor. Sei mais
do que posso saber da matéria do amor.
Fico deitado no campo revolucionário:
a paciente brutalidade da primavera
é como a brutalidade
delicada da paixão.
O violentamente demorado amor,
e a sua ressurreição.

Já estivera deitado ao lado das mulheres.
Elas paravam completamente
como caçadores ou bichos fascinados.
Não tinham pensamento nem idade.
Era a força do corpo. O movimento.
Estou neste lado desse lado
do corpo. Sei o poema
do conhecimento informulado.
Respira monotonamente uma estrela
entre os ossos.
Estrela levemente destruída.
Roída pelo louco rato lírico
da idade. Estou no pensamento.
Parado no movimento de uma vida.

Mexo a boca, mexo os dedos, mexo
a ideia da experiência.
Não mexo no arrependimento.
Pois o corpo é interno e eterno
do seu corpo.
Não tenho inocência, mas o dom
de toda uma inocência.
E lentidão ou harmonia.
Poesia sem perdão ou esquecimento.
Idade de poesia.


Narração de um homem em maio
Herberto Helder


ziggy stardust, David Bowie

n'A Natureza do Mal

# 1 ele

# 2 Quer então parar o desfile absurdo que o cérebro teima em convocar.

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro