la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry
Vi-me apertada, decidi que não o jogaria fora. À laia de drama, engoli o escarro. Não caiu, agora é uma espinha varada no peito que eu aguentei.Voltei a tentar sacudir a culpa, um passo dado em vão sendo que se trata de um organismo pegadiço. Sentei-me no arrebate da casa.Chovia e eu lá me sentei mesmo sabendo que os arrebates só têm serventia com sol. Estendi o capote no colo e tentei desapegá-la com a ponta da navalha. Estraguei a flanela ao tentar levar a tarefa avante sem ajuda.As bochechas ainda hoje as trago insufladas da náusea que me causa este bem-querer- fazer.
(Logo pedirei socorro, indagarei em primeiro lugar se o que se impõe é um decreto de pecado, repousarei num seio próximo.)

(o) cultivo

Durante os próximos dias desenharemos os planos da nossa horta. Este ano não deixaremos passar a época propícia às plantações e semeaduras, saberemos o que cultivar e com as datas devidas.
Serão as vivacidades irrequietas de dentro e para fora da casa, com a porta aberta. E cumprimentar os vizinhos que pararão à beira do nosso muro anil para obter dois dedos de atenção. Dar-lhes-emos essa atenção em quantidade de mãos, sabemos que só esperam colher dois dedos.
Os desenhos ficarão sujos de terra. O gato tentará safar-se e num instante regressará a casa abalando de algum vulto que lhe soe a ameaça. Riremos. Ajeitarei o almoço e direi “Estou ansiosa por cozinhar com o que acabámos de cultivar.”.
Quereremos, como sempre, cessar os momentos enquanto olhamos o redor em amor. Velozmente perfilharemos o dia, enxotando alguma réstia de medo.

A generosidade, não a sei explicar. São estes os desígnios que amanhamos por estes dias. Permitem-me brilhar no meio do pavor.
Sorrir não é um acto de calendário. Hei-de compor aquele vaso de que falaste, cheio de plantas suculentas. Gosto delas, são cheias. Avivam-me a memória da nossa vida. Uma casa.



(este texto é também sobre como é possível alguém estar nos antípodas deste espaço 
e estar tão próximo a orientar-nos na força. 
beijos e obrigada)

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro