la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

(No que de precioso tem a minha memória )


Valdevina
A morte insurge-se
Maior que o amor
Nada se assemelha a um grito
Eu sem a avó
batendo os pés violentamente no soalho
recolher-me-ei
magoada na própria velocidade
.



Quero a avó velhinha

Quero a minha avó velhinha a colher-me
Quero aqui e agora o amor
Exijo o regresso das suas mãos

Que equívoco é este? Recuso a morte do amor.
Que sentido tem que o regaço seja indefeso da morte?



Contra o esquecimento esgravato a terra
No que de precioso tem a minha memória
Luto contra a brutalidade dos dias
Ausentes em vida.



A vida não podia ter sido mais forte que nós.






itálicos, refª à Marta

[ passagem para a aurora ]

Estou presa na noite sem fumo sem nevoeiro
Fazes-me falta e não o posso proferir alta
As glândulas estão concentradas nas pedras

Perdi as lágrimas queda em saliva copiosa.




Hotel Room, Edward Hopper


epílogo

Cavava à sorte o lugar
colhi objectos comuns
a apreciar cada sol-e-dó
tolhi sem sentidos


anos


acordei de bucho seco
sem saber das tréguas
detrás da mendigagem
ficámos assim gorados

vim embora cifrar o epitáfio.

estória ____________

A mulher a quem emprestaste o teu medo
Devolvida no dia da amputação canónica
Foi Vaga Água-Lume – Corpo Terra-Ar.
Mais que palavra. Mais valia d’O Corpoema.
Escutei a estória ____________ trovoada.

Tremida das gadanhas. Ilha inundada de lava
Contra o esquecimento a estória ____________
Rente à irmandade das auroras aniquilo excisões
Muito rente ao esquecimento dos meus olhos
Sossego obedeço estima subida aos cotos ilesos

Minhas mãos transferem chuva para o escrito
Às palavras secretas aguadas compareço
Rigorosa de chapéu veludo e flores no cabelo.
A mulher a quem emprestaste o teu medo
Nasceu mansa? Leitosa pactuou o seu ofício.


Luto contra a náusea nascida não criada
Consubstancial à coincidência sem culpa
Vagueio o lusco-fusco mascarada da dor
Desse dia de nascença e óbito. Aprisiono
A árvore que jaz nesta ala do fogo banal.

E ele? Na estória ____________ ele jaz
Afundado seria então eu ignorante e hoje
Agonio no fio masculino impelida a recuar
Apago a minha assinatura a actuar-me mãe
Sou agora um homem medo - feminil ser.

Desmascaro o nada. Juventude saqueada
Amamento a lucidez a jorrar de distúrbio
Deito o medo que emprestaste no regaço
Envolve-te aqui neste xaile de pelúcia
Somos apenas muitos. Ou fraternidade.




referências: (60º aniversário do nascimento de) Al Berto, _______ de Marta e corpoema de Nuno

[ bem-aventuranças ]

E se
Formulássemos os desejos que desejamos
E se os caminhássemos de pés húmidos
Do pó. Os animais conjurassem à nossa passagem,
Tal mar vermelho. Sem sinais para trás
Da nossa passagem. Que a nossa passagem a levamos
Connosco como a cada filho que trazemos. Eterizados
Pelo tacto. Sem pedras. Órfãos. Sempre sempre.
Sopremos sopros soprados como diz o nosso amigo
Amigo. As janelas abertas em contentamento sadio.
A brisa pelas plantas de desejar desejos. Desejados.
Nossos sonos da experiência são paz. Descansamos
A cada sempre. Apalavramos palavras desejadas
De não fazer mal às palavras nestes tontos jogos
Palavra-verbo-apalavrar. E tocamos a massa alma.
Fantasma ~ Olha ~ Ali ~ Somos nós ~ No meio verde.
Comemoremos. Bem-aventurados. O inebriamento.
Um sopro soprado levar-nos-á, não ao nosso tacto.


photo





exercício repetido, fortuitamente censurado e emendado

Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora *

banalidades, tardes de Sábado


Arrebatada fito celebrada
atmosfera uma estrela cadente
oh, mais linda dos meus dias
(a regalia de ver)

à mão afigura-se neste colo
porção suficiente de artifícios
espaço imenso daqui degluto
mímicas do romantismo faço
enlaço reinvento à vista
narro brinquedos de fortuna
noite vela gato porcelana
orquídea amor lã árvore
caramelo-baunilha poema raiz.


Photo de Carlos Veríssimo - [da fantasia] Abraça-me III
dedicado


* título de instalação de Alberto Carneiro
(lido no Jornal de Letras nº 972, única refª encontrada na Internet)

som -> Nina Simone, Everyone's gone to the moon

(das aptidões das árvores)

Puseste a tua pena nas minhas úlceras
Com as tuas asas provocaste uma brisa
A expulsar as borboletas de asas metálicas

A escravidão recorrente dos meus sentidos
Fez-me contar pelos dedos náuseas frias
Febril derramei o mel consagrado nos olhos

Acreditar é a grande lição replicaste em sino
Contemplo as raízes a despertar do marasmo
Emoção é seres crença carne e ossos vivos em mim.



Árvore pequena, Egon Schiele

* itálicos retirados de texto de Carlos Veríssimo "Certificado de Aptidão para se Emocionar"



sacramento da cisão

Os dedos das pétalas abotoam-me por um fio
Encarquilho a ecoar ferimos a vista de nomes *
Toco a córnea da polpa. Fere. Aferrolho o tentáculo

Nas asas engato as penas da forquilha comungo
Agracio a ausência de sermão punhado de calhau
Único espelho te esconjuro. Avé, casta heresia.

still de Asas do desejo, Wim Wenders

* Nuno, ali

oceano, sol e ondas

Esmagada
contra o céu
abraço-te

és ser
o sol.


A grande onda, Katsushika Hokusai

som -> oceans, Pearl Jam

{ a fadiga da alma e o pico do início }


A transparência é estado contra-natura

Quando a rebelião não cabe nos picos
Excede a alforria prevaricadora a grasnar

A pele descasca-se a ferir a vista enxuta
Malfado cor'poema* agudo assim grave

A transparência não-regulada doutrina
Rendilha o túmulo da memória aberta


A transparência é estado contra-natura.
Ah.
Quisera lei proibitória da alma na cara.




















* apropriação e transformação da palavra corpoema d'O exílio do Imaginário
pintura

o que tece o peixe grande *

Adentro
minhas mãos
O peixe

Tece beijos
De Inverno.


O Beijo, Gustav Klimt

*refª a Big Fish de Tim Burton

Carrousel de la mort

Morte
Que a poesia me salve
Escreve lava-te agarra
o torpor das horas.

Morte
Que não me leves
Ápice luto estes dentes
prendo incólumes dores.



Morte
Lava-me.



Cala-te!

Morte!
Arreda as cordas
Não me levas.



Que o amor nada mais é
Nobreza.


photo de c

são pedras

Não te atrases mostra indoneidade
Pega nos módicos papéis certifica
Existes não pagas. Lava a palavra
Bonitinha não arrebita. Atrasa-te
Mais choraminga e deglute ébria.

Todos te palparão o pêlo das costas
A dedicar modas de palmatória. Ah.
Medo não tens na omnipotência. Oh.

Acodes no prazo protelado saí-me
Mais valia era certificado de voz.


photo de c

{ nome de baptismo }

Ritos de passagem
Cubro
Tinjo
Derramo
Lavo

Afundo

Banho



É tempo de sentir.
Não desando.
Desfocada
silencio

Sã
Voo
Abato
Cardos
Na altura.



Escrevo

Procuro a coragem
Dar nome às emoções.




OHARA, Shoson (aka, Koson) "Crow on a Snowy Branch" c1911-15 Unread Artist "Crow" c early 1900's OHARA, Shoson "Crow and Cherry Blossoms" c early 1900's

Quero-te
ouve

ensinar os segredos
das cerejeiras.



Photobucket



Mount Fuji seen throught cherry blossom, Katsushika Hokusai


- sakura

(edifício)

Já tarda penso pouco prefiro olhar
as bolas de vidro são bonitas foco
um ponto depois outro vou reflectir
feixes de cor distraio a revolta cresço
menos não cresço sou grande há mais
tempo longe da minha infância não
nadei sem pés pedalei na relva hoje
sem bicicleta sem mar delegada
imputações repreensíveis miro - miro
bolas de vidro dentro destas paredes
temos documentos uma máquina de lavar
roupa comida e um gato na cama. Amo.
A rubor oiço a voz de Al Berto na casa*
há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida.

Fumo não tenciono voltar a ser menina.









* há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida, Al Berto na Casa Fernando Pessoa

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro