la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

isto agora

Sobrei.

Fiz tudo o que podia
saber fazer

(a infância não morreu)

Agora
Faço

isto.

(deixo as grades abertas)

Agora há objectividade
a relativizar antes
de irromperem escárnios d’ir.

Não é duro,

ir
a dizer ira

dizer a ritmo irrazoável,
agora.
Redobrar agora
agora agora.

Estou aqui
ainda sentada - em cima - dos ideais______ a saber______ a chacota
ainda a fazer a infância
relativamente abjecta a valer

a pena da cobardia ali
cravei-a à tona das aparências

ilusórias.


photo de Sandra Ferrás

[ a cata do resto dos dias nas novas rebentações ]



Engulo o fim esmagado de mais
extravagâncias físicas, tudo
é a fisiologia que deitámos para dentro
da cortesia tratável d’O cadáver.
Não abono nomes à constrição do peito.
Espreito outro pulo no estágio
enquanto a luz se enche a poros
demais. Anil. O que sofro – sofro - é tão
além azulado em penetração, o sol
vem húmido de encontro ao reflexo
desta treva. Não anestesio o resto
do dia. Subo a árvore nua. A minha casca

verte seiva enquanto brotam imaturos
botões nas extremidades. Escoando ingénuas
as paisagens libertinas das novas rebentações.











[ a fraglidade da arte de tecelagem do orvalho ]












No interior desta cadência escura
onde fico ando a espumar
das vistas a pena das luzes
sem a vergonha excito as

extremidades são sim
inertes os olhos escumados
do fundo chegam
rugidos dos infantes

por nascer o sol-e-dó
entranhas a virar o
só-e-dói.









photo de Sandra Ferrás

[ cortina de fumo ]

ah ha ah ah ah ha ha Suspiraram-se sons impulsionados dos seus pulmões a tentar tapar o som dos disparos exteriores. Os buracos que eram as janelas haviam sido protegidos. Grades chumbadas. Janelas duplicadas. Vidros à prova de bala, do lado exterior. Vidros, burlões, à prova de som, do lado interior. Portadas de alumínio exturdido. Estores de polipropileno. Desenroladores de pvc, à prova de luz. Por fim, um reposteiro de veludo verde. Nunca ali havia estado. No espaço da porta a parede era armada de betão, C50. O isolamento entre a parede tripla era aço após a rede de ferro quadruplicada. A energia findava. Apenas o ar restante e os alvéolos a minguar. Largou sons da música, era a guerra civilizada lá fora. Cá dentro, lá dentro, era a morte de tudo o que fora a ternura após a tentativa de abrigar a vida da morte.
Desmantelou a escultura que fora a prova da sua arte plástica, acrílica, uma caixa acrílica famosa, um paralelepípedo recheado de cigarros que contavam tantos dias quantos os da sua vida eram contados no dia em que deixara de fumar para ter menos morte, mais tarde. No odor da madeira seca, fumou o ar restante diante dos corpos degradantes dos que foram outrora os seus objectos de entrega. Era o mundo, entrara em sua casa e restava. Esfumou suspirando os sons que lhe restavam na memória sem se lembrar que trovador evocava. ah ha ah ah ah ha ha.
Uma casa sem porta. Nunca ali havia estado.


photo

Passear a minha impavidez diante o teu sono a sangue-frio.

Fiz o que pediste
na tua humanidade. Não sabes,
dormias
ouvi em meu nome
aflito quase foste um impulso acordado dentro do meu sono que te faria repetir nomes femininos. Muitos.
Isabel. Joanna. Paula. Christina. Sophia. Cassandra. Lilly.
Maria de Fátima.
Maria do Céu.
Maria da Terra.
Maria Gaiteira. Maria Maria Maria.
A lenga-lenga acordou-me
e eu disse estou
aqui foi só um sonho.
Um sono.
No impulso não te acordei. Repetias o meu nome em segunda ressonância previamente planeada
fui afinal fantástica
embalada no despertar.
Éramos nós
eu e o teu sono.



(apertei os lençóis e a terra era
tudo verde húmido, valendo-me
outra vez a redenção no teu corpo. É.
Ouvi-te o que pensei seres tu o teu corpo a valer-me
um pranto pelo meu nome.)

Então foi
a segunda vez que me pronunciaste eras o mesmo que tomara
nos meus braços impedi
quis parecer o teu sono
impus sossego
nas minhas pernas em nome da minha fortuna.
Imperturbada.
A tua voz durou.




Muitos
nomes femininos. Isabel. Joanna. Paula. Christina. Sophia. Cassandra. Lilly.
Maria de Fátima.
Maria do Céu.
Maria da Terra.
Maria Gaiteira. Maria Maria Maria.

um filho assim # 3

Nas cenas domesticas, distraidamente, crescem os filhos.
A cena é doméstica, o filho desta amiga cresce.
Força aí, m'lher, podia dizer-te qualque coisa como "deixa lá, ele não percebeu o que te pedia... coiso e tal", mas amanho aqui o meu silêncio.
#1 #2

Woody Allen, hip hip hurray ( porque sim )

Porque: entro na sala de cinema sem a euforia expectante de ver o Woody Allen; e porque: entro na sala de cinema com a calma expectante que pareço ter desenvolvido especificamente para os filmes do Woody Allen. Porque sim, comparo os filmes dele uns com os outros, mas (lugar comum, whatever) ele consegue que cada um seja único.
Porque faço sempre questão de não ler quaisquer sinopses antes do filme, especialmente com realizadores que ocupem lugarzinhos especiais. Porque sim, porque gosto da sensação de sair bem do cinema, (“bem” como quem diz “benzinho, sem declarações idólatras ao filme”) mas dar por mim no dia seguinte a lembrar-me de cenas do filme e a pensar “quero ter este filme na minha colecção”.


I was born into the Hebrew persuasion, but when I grew up I converted to Narcissism.
Sid Waterman (Woody Allen)

http://medien44.de/assets/images/fotoshow_scoop_01.jpg

I love you, really. With all due respect, you're a beautiful person. You're a credit to your race... I love you, really, you're a beautiful person. I love you, really.
Splendini, the Magician (Sid Waterman)



Sid Waterman: You're a pretty girl. You know, I think you could probably get this guy to get interested in you.
Sondra Pransky (Scarlett Johansson): Oh, you're silly...
S.W.: Yeah, particularly if he's got a twisted mind.
S.P.: How can we meet him?
S.W.: You know, I don't know... They have a class system. He's an aristocrat and, you know, we're... we're commoners. In fact according to his system, we're... I think we're probably classified as scum.

S.P.: Do you have a family?
S.W.: I had a wife but sh... she dumped me if you can believe that.
S.P.: Somehow...
S.W.: She thought I was immature and that I never grew up... I had a great rebuttal for her, I coulda nailed her, you know, but uh... I raised my hand, she would not call on me.

S.W.: I don't need to work out. My anxiety acts as aerobics.


entrudo: à falta de imaginação, uma máscara preta serve.



photo

cão certo

no weblog do cão

[cao_certo.jpg]
Imagens no weblog do cããã, de "Cão pên dio", editado pela Portugália, de Tóssan, António dos Santos, artista gráfico, caricaturista, desenhador e actor, enviadas pela Luísa do weblog No Silêncio do Deserto.


ah, cããã! ;)

[ reservas naturais ]

Aqui há tempos tropecei. Até aqui nada de
novo, não é? Mas se soubesses!...
Tropecei e caí. Pronto. Ia eu andando e
apareceu-me algo à frente. No início não sabia
bem o que era, não sabia se havia de rir ou
chorar, mas tinha de fazer algo, fosse o que fosse.
Só posso chegar a uma conclusão:
É o meu super-homem depois de ter caído num
balde de alcatrão, tadinho. É um herói de banda
desenhada com muitos prédios à frente, só para
me fazer rir, é.
Caí para dentro de um livro, a culpa é dele que
me põe tonta e faz pontaria às aves e diz que
não são pássaros, são os meus hipopótamos cor-
de-rosa – eu queria azuis, mas ele não deixa…
Às vezes eu fico quieta, mas ele não deixa. Às
vezes eu fico calada, mas ele não deixa. Eu
procuro os meus elefantes, mas ele não deixa.
Ele faz-me feliz, eu deixo.
Ele prometeu que me vai ajudar a fazer um
hipofante.

in Ritual de Acasalamento das Ostras de Marta Loureiro
Ed Tema. 2001



"Lechuza". 2006 © FERNANDO MAQUIEIRA
Ánima es un trabajo que plantea los temas de la vida y la muerte y de la fotografía como medio para mostrar un espacio intermedio entre ambos. El asunto de la vida y la muerte abre la reflexión sobre el poder que tiene el ser humano sobre el animal y viceversa. Actualmente, el control del hombre sobre la existencia de las especies animales se hace cada vez mayor, y sólo nos quedan los libros de historia y las películas para recordarnos que fuimos vulnerables frente a ellos. (...) Ánima

- instrumentality -

«If we break the world, as we are doing, into
instrumental networks with no meaning for most
people, and pure meaning but no instrumentality -
survival communes - it becomes a very dangerous
world, a world of aliens, aliens to each other.»


in mylifeisat.blogspot.com, 09/03/2004
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Digital Ethnography - The Machine is Us/ing Us: Discussion
via legendas & etc.

M U D A N Ç A - minguante nº 4



minguante.com

UNICEF: Portugal nos últimos lugares em matéria de bem-estar educativo
publico.pt


relatório da unicef - Child poverty in perspective: an overview of child well-being in rich countries

photo de Sandra Ferrás

pele

Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele.

David Mourão-Ferreira

Photobucket - Video and Image Hosting


Archaeologists in northern Italy believe the couple was buried 5,000-6,000 years
ago, their arms still wrapped around each other in a hug that has lasted... (reuters.com)

valentine's day around this world...



postal de post secret
Não sonhei nem acordei.
Permaneci. A música era tentadora.
Chamei-me
mentirosa
a altos berros. (sabia que a sedução era sedutora e menti)
Então, retirei a maquilhagem,
toda. Embebi vulgares
bolas de algodão em água
fria de rosas.
(esfreguei a cara com o esforço de quem descerra um embuste)
Depois de limpa a pele,
vermelha, juntei o batom encarnado.
A sombra dos olhos era suficiente
nebulosa. A pele esbranquiçou
a tons de olheiras
toldando a feiura. O crime fora hediondo,
perdera a memória do início.
Desci os degraus com a rapidez possível,
lentamente. Caí sentada na areia.
Ninguém passou
(a trovoada convida a audácia de poucas pessoas).

Os pingos pesavam sobre
os lábios derretendo encarnados
o pescoço abaixo
esse gotejar
encarnado no pescoço
tomou vida
ofegante.

Expurguei a última máscara.
Com a rapidez possível, lentamente,
fechei a porta ante mim despedi-me
sem acenar.
Aguardei, fetal, o soterramento de areia.
Não sonhei nem acordei. Permaneci. Sem a musa
provocadora.





[ respirei comoção ]

positivo:
2 238 053 votos de confiança nas mulheres portuguesas


negativo:
a abstenção



faço minhas as palavras do JPN...

O virar de uma página

por JPN no respirar o mesmo ar

A vozinha disse "deixa-te contagiar”. E eu deixei.



Nick Cave via Carlos :)






Toquinho & Vinicius via Alex :)

[ presentes envenenados ]



Hoje trouxeram-me um pouco das minhas crianças, estão todas longe. A minha vida é feita de distâncias.
Longe é sempre demasiado longe.
Não sei como explicar as emoções que me provoca cada uma das minhas crianças, seria até ridículo tentar. Muito para além das alegrias, dos medos, das preocupações, é esta coisa da biografia… a história individual de cada uma que me traz sempre em espanto.
Reconcilio-me com o mundo por momentos. Se digo que me reconcilio, não é porque ande danada com o mundo, mas porque tantas vezes me encontro abespinhada connosco.
Hoje inundou-me um belo estado de graça, foi resultado do pedaço das minhas crianças que me trouxeram.
Por momentos, envenenaram-me o presente, ao regressar a casa, na caixa do correio encontrei panfletos horrendos em campanha pelo “não” no referendo, 3 panfletos com dados mentirosos, sem o menor escrúpulo, de um desrespeito inqualificável. (não me prestarei o desprezo de descrever o conteúdo dos panfletos que nem referem a identificação da origem) Senti-me tão zangada. Passou-me pela cabeça aquele sentimento confuso de impotência: não poderei proteger as minhas crianças disto. Quis reuni-las todas no meu regaço. Quis correr. Quantos de nós não tiveram já daquelas urgências de correr e nos fecharmos numa casa só com os nossos? Sou convicta de que já aconteceu a toda a gente, confesso que a mim acontece frequentemente.
Acalmei. Lembrei-me que isto é assim mesmo e que, enfim, perco-me numa certa ingenuidade quando me esqueço de que a protecção não é negar a realidade às nossas crianças, mas oferecer-lhes o que vamos sabendo sobre como aqui estar. Acalmei.
Regressei à minha lavra que é esta embriaguez acordada e a barriga dessincronizada a manter-me os pés de pé. É o frio das mãos frias arrasado pelo calor real destas ideias. Os nossos. São estas coisas a ferir os medos.
Revolvido de novo cada susto, nenhum se melindrou. Deve ser esta a notícia a espalhar.





E sim, sim à vida que a canção exalta e reconhece. Espalhem a notícia.
Sérgio Godinho
via Daniel Oliveira "Como podem tornar bandeira política uma coisa tão imensa, tão pessoal, tão intima? Como?" no blog Sim no refrendo



photo de Sandra Ferrás

CÓDIGOS CRIMINAIS, CÓDIGOS MORAIS E CÓDIGOS ÉTICOS

Não assisti aos anteriores prós e contras sobre esta questão do referendo, vi na passada 2ªfeira e valeu pelo testemunho da Dra. Ana Lourenço.
Lamento ter tido a oportunidade de ver cientistas como a Dra. Jerónima Teixeira distorcer dados dos seus próprios trabalhos para defender uma posição num referendo (que se refere ao tempo limite de 10 semanas de gravidez para a interrupção despenalizada) utilizando a frase pronta-a-comover “para a mãe portuguesa ter conhecimento daquilo que o seu bebé sente no útero antes de tomar uma decisão” referindo, posteriormente, que “existe dor a partir das 20 semanas” mas que, enfim, está a tentar provar a dor antes das 10 semanas (tempo de gestação convenientemente estabelecido neste contexto de referendo?!). É preciso explicar quão baixo foi este golpe à ciência e às grávidas (não mães)? Também foi lamentável ver o Professor Manuel Antunes mostrar dois gráficos, comparando o aborto na Inglaterra, entre 1969 e 2002 sem qualquer contextualização.
Desalento, é o sentimento que fica quando se vê um cientista actuar assim, mas isto sou eu que acho que a medicina é uma ciência nobre e tenho a mania de pensar que se deve respeitar a ciência separando-a de crenças pessoais.
Acrescento, ainda, o que muito bem citou a Dra. Heloísa Santos e infelizmente foi ignorado durante todo o debate:

Organização Mundial da Saúde

“Os governos têm de avaliar o impacto dos abortos inseguros, reduzir a necessidade de abortar e proporcionar serviços de planeamento familiar alargados e de qualidade, deverão enquadrar as leis e políticas sobre o aborto tendo por base um compromisso com a saúde das mulheres e com o seu bem-estar e não com base nos códigos criminais e em medidas punitivas."


Deixo aqui o post do blog médicos pela escolha. Os bolds são meus.

O testemunho de Ana Lourenço

"Blowing in the wind"… Lembrei-me da famosa canção de Bob Dylan ao acabar de ler o último comentário da Ana Matos Pires. "Quantas mais vidas de jovens serão necessárias perder para percebermos que já se perderam vidas demais?" (tradução livre...). E gostava de deixar aqui uma mensagem para todos os meus colegas médicos, e aos ginecologistas e obstetras em particular. Não é uma mensagem "técnica" nem especialmente bem sistematizada. Antes de mais é uma mensagem simples mas franca.

Há fundamentalmente duas razões para se votar Sim no dia 11 de Fevereiro:

1) fazer parar o aborto clandestino e as mortes e sequelas dele decorrentes;

2) entendermos que a mulher tem uma palavra a dizer e o direito de decidir no que diz respeito ao seu próprio corpo e à sua vida futura.

Poderão existir divergências de opinião em relação ao ponto 2) mas não é admissível que, enquanto médicos, fechemos os olhos aos crimes que se vão praticando diariamente, aos quais uma alteração da lei poderia pôr um ponto final, o que reporta para o argumento apresentado no primeiro ponto.

Uma alteração da lei (se ela se concretizar) implicará alterações nas atitudes e no funcionamento de muitos médicos. Mas mesmo que a lei seja alterada é preciso mudar as práticas no nosso cantinho a que chamamos Portugal. Aquilo que preconizo é muito simplesmente o resultado da minha experiência no terreno, das consultas com adolescentes, das consultas de contracepção e de interrupção de gravidez (as minhas únicas escolas). A pouco e pouco, mas com passo firme, teremos de aprender a considerar a mulher menos como uma "doente" a quem podemos pôr um rótulo "diagnóstico" e prescrever um tratamento seguro e eficaz, e mais como um ser humano complexo com uma história pessoal e conjugal únicas (como são todas as nossas histórias pessoais), crenças, conhecimentos e lacunas próprias. Nesse sentido o nosso papel de médicos é mais de "acompanhamento" e informação, chamando a atenção para incoerências fundamentais e contradições mas dando sempre à mulher a última palavra sobre o seu destino, o seu "tratamento". De certa forma é aceitarmos que o nosso papel é "modesto" mas essencial no seu acompanhamento. É, também, o de reconhecermos e de darmos a entender às mulheres que, em última análise, elas são responsáveis pelas decisões que tomam e que depois têm de assumir.

Para terminar gostaria de acrescentar que "ninguém está sozinho" e que como profissionais que somos, interessados antes do mais no bem estar dos nossos "utentes", também poderemos, e deveremos, olhar à nossa volta para os nossos colegas que estarão certamente lá (pelo menos alguns) para nos ajudar a passar por todas estas transições...

Contem comigo, Ana Lourenço.

produções murcon :P



via Sim no Referendo

áreas cinzentas :D




atenção
post reproduzido na íntegra

Proposta
Aos do Não

Especialmente aos compassivos que votam Não

mas querem,

logo no dia seguinte,

apresentar legislação que despenalize a IVG.


Ao dr Castro Caldas, À Dra Matilde, à dra Carneiro, ao Dr Marques Mendes et al.



Eu voto sim exactamente pelas vossas razões. Acho inapropriado criminalizar as mulheres que, naquelas circunstâncias, não querem ser mães.

Mas concordo com os vossos Padres e Psiquiatras: alguma culpa deve existir. Alguma culpa deve ser expiada. Algo deve persistir no Código Penal como dissuasor do Dr. Aguiar Branco.

Assim declaro que logo no dia seguinte à vitória do SIM, apresentarei nos lugares competentes, propostas de legislação que punam até três anos de cadeia os presuntos responsáveis dos factos em causa. As mulheres indicarão À Comissão de Acompanhamento o nome do indivíduo que participou com os gâmetas masculinos e, apurada a verdade, aplicar-se-lhe-á a pena constante do artigo 140 do Código Penal que passará a ter a seguinte redacção:
O responsável pela gravidez da mulher que der consentimento ao aborto ou se fizer abortar é punido com a pena de prisão até três anos.

por Luis n'A Natureza do Mal
Hoje quase enlouqueci de novo.



A rua comeu-me.
Quis fugir mas a estrada acendeu-se num fogo que me lavrou.
Fiquei de olhos vastos a ver as chamas, considerei espernear, senti o nada.





Nem o calor.






Durante o restante percurso repeti “Je t'embrasse! Je t'embrasse! Je t'embrasse!”.






Insistentemente regressei.


photos de Sandra Ferrás

os fundamentalistas do não compensam o seu desamor pelas pessoas existentes com a proclamação do amor por princípios, dogmas...

A palavra decisiva

O Prof. J.L. Pio Abreu, psiquiatra e professor da Universidade de Coimbra, envia este importante artigo. Venham mais!


Nas discussões sobre o próximo referendo, raras vezes tenho ouvido a decisiva palavra: amor. Tenho ouvido, sim, sobretudo pela parte dos adeptos do não, um fundamentalismo irracional cheio de zanga e intolerância, um desprezo punitivo pelos momentos mais dramáticos das mulheres concretas, reais e normais. Enquanto olham para os adeptos do sim (felizmente a maioria) como criminosos, os fundamentalistas do não compensam o seu desamor pelas pessoas existentes com a proclamação do amor por princípios, dogmas, seres em potência, não existentes como realidade concreta nem como objectos passíveis do amor das pessoas.
O que mais se vê aqui é desamor. Significativamente, em nome de uma “verdade científica” proclamada por quem nada sabe de ciência e que não sabe sequer que a ciência é avessa aos dogmas, procura a dúvida e tem de ser tolerante. Os adeptos da nova moral biológica esqueceram-se da espiritualidade, caindo paradoxalmente num materialismo simplório: uma célula ou um conjunto delas chega para definir uma pessoa. Não se questionam mais. Nem se questionam sequer sobre o destino que deram aos biliões de espermatozóides ou às dezenas de óvulos que geraram dentro de si.


Aceito que muitos adeptos do não terão passado por experiências decisivas que marcaram as suas opções. Não duvido do seu amor aos filhos que tiveram, eventualmente em circunstâncias difíceis, ou que desejaram ter. Esses filhos, mesmo em potência, têm toda a dignidade humana porque foram desejados. Não é porém o caso de quem se vê obrigado a fazer contracepção ou a interromper uma possível gravidez.
Como psiquiatra, sei que os abortos, espontâneos ou provocados, fazem parte da vida de quase todas as mulheres. Alguns podem passar sem sofrimento, excluindo o trauma e a perda de liberdade que resulta do aborto clandestino, ou o drama de transportar o segredo no seio de famílias conservadoras e fundamentalistas. Excluindo também a culpabilidade gerada nas campanhas para os referendos. Toda a questão é saber se a criança era desejada ou não, e qual o empenho amoroso dos pais que, por vezes, já tinham um nome para ela. Neste caso, tratava-se de um ser humano, fosse qual fosse o tempo de gestação.
Nem sempre é assim, e muitas gravidezes iniciais nem sequer são percebidas, se não negadas. Existem mesmo gestações destinadas à adopção (embora uma mulher que prossiga uma gravidez a termo possa criar, por vezes desesperadamente, laços com a criança que vai nascer). Mas se não for a mãe biológica, alguém que encontre a criança irá ter compaixão e amor por ela, e será esse o seu verdadeiro nascimento como pessoa. Sem isso, nem sequer sobreviveria.
O que dá o estatuto humano ao novo ser, seja ele um recém-nascido, feto ou ser em potência, é o primeiro acto de amor para com ele. Curiosamente, é essa a grande verdade que o ritual religioso do baptismo nos ensina.
J. L. Pio Abreu
Psiquiatra, Professor da Universidade de Coimbra


nós somos as barbuletas das ajas pretas, às riscas azulis... aboamos à bolta das alâmpadas e queimamos os neuróniozinhos... *

via Sim no Referendo

Felicidade

atenção
post reproduzido na íntegra, do blog insónia

De todas as dúvidas radicais, a mais radical de todas é esta: o que é a vida? Logo a seguir surge a pergunta sobre a felicidade, pois ninguém que se questione sobre a vida pode, se for honesto, deixar de lado a questão sobre a felicidade, já que vida e felicidade não fazem sentido uma sem a outra. Não há perspectiva segundo a qual a felicidade faça sentido sem a vida, ainda que possa haver quem pretenda sustentar fazer a vida sentido sem a felicidade. Estaremos, porém, a ser honestos se assim procedermos? Creio que não. No Capítulo II do Diálogo Sobre a Felicidade, Santo Agostinho diz que «quem determina ser feliz deve adquirir o que é sempre permanente e não pode ser destruído por nenhum revés da fortuna». Esta ideia de que a felicidade está dependente do perene, do que não está sujeito às circunstâncias, mais ainda da posse do que é sempre permanente, não é exclusiva do cristianismo. Há toda uma tradição filosófica ocidental que assenta a felicidade nesse princípio da perenidade. Para um ateu tudo isto é estranho, pois para um ateu tudo muda, nada é permanente. Ou quase tudo. Nos tempos hodiernos torna-se muito difícil aceitar esta concepção da felicidade, dado tratarem-se de tempos marcados pelo efémero, motorizados pela moda, esgotados na percepção de que tudo é passageiro. O filme Happiness (1998), de Todd Solondz, mostra-nos esses tempos encarnados em personagens quotidianas que são também um reflexo da alienação promovida pela organização da vida social. Talvez essas personagens, como qualquer um de nós, pretendam «adquirir o que é sempre permanente e não pode ser destruído por nenhum revés da fortuna» - isto se pretendermos ser felizes à maneira de Santo Agostinho. Porém, a vida não deixa. Traições, frustrações, recalcamentos, solidão, descambam numa encenação permanente dos comportamentos que, sob a capa aparente de uma felicidade artificial, disfarça a mais cruel das evidências: não há felicidade possível num mundo que nos obriga a ser o que (e quem) não somos. Não sei se essa impossibilidade é já consequência do tal esgotamento da perenidade, ou seja, da sensação de que tudo é passageiro, efémero, modal e, como tal, nada é permanente. É provável que o mais permanente de tudo seja mesmo essa sombra de efemeridade que hoje se abate sobre todas as coisas. Por outro lado, podemos afirmar, não sem algum cinismo, que o ser que se esconde atrás das máscaras com que enfrentamos o mundo exterior é também ele perene, vivendo apenas amordaçado e impedido de se manifestar por tal nos ser tão difícil. Dizia W. Somerset Maugham, numa das minhas passagens preferidas de Exame de Consciência, que se confessássemos cada pensamento que nos atravessa o espírito, o Mundo nos julgaria uns monstros de depravação. Não devem existir grandes dúvidas quanto a isto, assim como não devem existir grandes dúvidas de que é a ameaça desse julgamento que nos impede de sermos quem somos. A conquista da felicidade deverá ser, então, a conquista de nós próprios, uma espécie de reconquista do que de nós foi usurpado pelo Mundo. O raciocínio é este: se a felicidade consistir na aquisição do que é permanente, partindo do princípio que na minha vida nada há mais permanente que eu próprio, então a felicidade consistirá na aquisição de mim próprio, na (re)aquisição da minha própria vida. Só quando tal acontecer eu poderei revelar ao mundo, com a mais adolescente das ingenuidades, o que corresponde à mais maturada felicidade: vim-me, vim-me e (e)s(t)ou feliz!

um filho assim!, parte # 2

doação

Fecho a vista pelo final de dia. Não oro espécies de fé, eis a palavra da noite. Cá reza a razão de ter os lábios incólumes, com sanções da saudade, encerram.
Não prego toadas, abro as portas escancaradas à luz cerrada e doo o corpo aos desígnios da noite pesarosa.


quero o silêncio das línguas cansadas

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
e nada mais

Casa no Campo, Elis Regina



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pôr-de sol na Fortaleza de Sagres :)


I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro