la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

anjos para ti

Anjos para ti

são.

Sossego os poros, li
anjos para mim.

Leio, releio e não gasto as palavras de vida
vejo, olho


pecado mortal fome mesa cozinha hemisfério solitárias cantos gregorianos oratórias pastos aveia, pousio, tremocilha avental imaculado poças água corações apertados pequeninos ler muros escola joaquim embrulhado lençóis linho cresce casa cheiro pão mãos magras entrelaçadas dedos trepadeiras rosas vermelhas abóbada cerca valados musgo joaquina rosa olhar regaço mansos branco fogão oiro quintal casa adormecida flores papel arraial pautas galhos pétalas procissão cama frio solares escadas passadiço música madrugada hortênsias poda jasmim relógio azuladas linha horizonte madrigais porcelana pessegueiro tropeço silêncio brumas aragem geada passarada estrela d’alva vulto negro pinhal gemas maçãs areia chocolate negro negro


azul azul azul










e
o vinho quente com especiarias e gomos de laranja
sim!
de negro hoje também sou minhota
finjo que enfiei contas de oiro de viana
pendentes de oiro puro, arrecadas

e imagino as flores na casa quente
a honra de me sentir olhar um anjo com anjos

lugares reservados no coração.

Um beijo, Cláudia.


todas as palavras brotadas a partir das palavras da Blue #1 #2 #3

{...}

.


esta noite
gostaria de ser capaz


_______________de organizar
As Palavras


não consigo
ordinárias


as palavras.




.

[ fluxos no avesso das palavras ] *

Percebes. Estou a pisar uma dose dura de palavras que desembocam em mim
pelas partes baixas. Fico sem pingo de sangue nestas mãos que não agarram

quaisquer verbos

vibro de suculências
e as mãos frias
penduram direcção à entrada
das palavras
se me enteso a arrogar
intimidade com os verbos
já as mãos sem pingos
largam pareceres
ininteligíveis.

E doutro lado
as costas rastejam
o meu corpo

costas cuja convulsão
final me deixa falecer.


* para o c
* para a
Marta

[ Quase todos os dias posso morrer. ] [ (ficar) (aguardar) ]

Quase todos os dias posso morrer.
Não tenho chagas na boca
e provavelmente uma anciã
lavar-me-ia os beiços com água e pimenta.

Digo da morte identidades
que ignoro na pele

devaneio a minha mortalha
ofuscada
pelas outras, esses leitos anunciados,
macilentos que percorro
a sugar dias e horas e anos

tenho posse de anos e horas e dias
sugada em mim.


Não padeço de desprezo
engulo e regurgito
miragens, eis:

De covis sortidos chegam
perfumes azedos da angústia.
Berros em largada de cólera - Quantas vezes
(quantas vezes?)
tiveram de fugir com filhos a braços?

Retorço
internamente enxovalhada
respondo:
Ficar a aguardar conciliação nas mãos alheias?

(provavelmente uma anciã
lavar-me-ia os beiços com água e pimenta)
.



Procurar abrigo - Uma mulher e as duas filhas refugiaram-se num abrigo em Belize City, capital do Belize, antes da passagem do furacão “Dean”. (...)
Foto: Daniel LeClair/Reuters - publico.pt (21/08/2007)

[ que esperar de nós? *]

digo

o aperto da ambiguidade

com serventia ao nosso coração
labora calmo, devastador
a arrepiar a intimidade

leio

«(...) quando falávamos os nossos olhos não coincidiam
com nenhuma palavra.


Teria gostado de te levar comigo outra vez
mas era difícil recuperar as razões
para o desejo. E no caso de nos ter acontecido uma mudança
onde é que havíamos de procurar
os seus indícios?
(...)»

Rui Pires Cabral

auguro

Muitos estamos desprevenidos. A estação está a desoras com a tradição e outros tantos, distraídos no traje, estão a banhos frios. Enjeitados.

Assim é este modo

(escrevo o exercício do adeus)

tudo
este engodo, a minha despedida

A estes dias vou embora,
não se inteirem, não é da doença
mas do decurso da cura.

Assim me engodo.
Tudo à frente de todos.
Esvazio-me com cuidado.

excerto do poema de Rui Pires Cabral e photo, ambos surripiados à lebre

* título do JPN, respirar o mesmo ar

empatadas na pele [ amiga ]


Sempre a pele.
Com a pele

tiras-me
sempre palavras

porque estamos empatadas

nisso de
a pele
ser prioritária.







palavras da minha amiga
feliz aniversário e um beijo :)








photo: Carla van de Puttelaar

ao longo do dia, peles desnudas e respectivos odoríferos

Agora, de tarde, não temos sono.
Cheiramos à manhã que já protelou e arrogamos que pouco disto é tal como as intenções.
Os pescoços deram lugar às peles.
Não classifico, portanto, este órgão que anda de rompante em nós - entre bálsamos, aromas, perfumes e fragrâncias - exalações impertinentes de restos do dia. Os odores das peles haveriam de ser instrumentos legislados.
Agora, de tarde, acordados no nariz não temos sono, temos pressa no regresso.

Os odores das peles haveriam de ser instrumentos legislados [ao longo do dia, peles desnudas e respectivos odoríferos ]


photo: Carla Van de Puttelaar

hábitos e artefactos do resguardo das ideias

Hoje, de manhã e à tarde, muitos trazemos sapatos de verniz. Pretos. A madrugada foi para levantar da tarimba. Hoje colocaram-se muitos fatos do domingo e ajustaram-se nós de gravata que nunca se desfazem, são desaprendidos.
A cautela convencionada do aspecto.
Como as palavras também eleitas a dedo, da consciência.
O cuidado dos pescoços na escolha das palavras: tarefa admirável. É a percepção sublime da guarda à intimidade.

Artefactos do resguardo das ideias privadas.

Apologia dos pescoços.

Há 3 tipos de pescoços neste petiz canto do mundo: I. pescoços cerzidos; II. pescoços esburacados; III. pescoços lisos por fora. A última espécie divide-se ainda em 2 subespécies: a) pescoços lisos por fora e cerzidos por dentro e b) pescoços lisos por fora e esburacados por dentro. Todas as espécies são ruidosas e luminosas.
Verdade: não há silêncio em quaisquer pescoços.

Hoje, à noite, descalçamo-nos neste petiz canto do mundo.


imagem respigada à Alice

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro