Eu me sinto um tolo/ Como um viajante/ Pela sua casa/ Pássaro sem asa/ Rei da covardia/ E se guardo tanto/ Essas emoções/ Nessa caldeira fria/ É que arde o medo/ Onde o amor ardia/ Mansidão no peito/ Trazendo o respeito/ Que eu queria tanto/ Derrubar de vez/ Prá ser seu talvez/ Prá ser seu talvez/ Mas o viajante/ É talvez covarde/ Ou talvez seja tarde/ Prá mostrar que arde/ Com maior ardor/ A paixão contida/ Retraída e nua/ Correndo na sala/ Ao te ver deitada/ Ao te ver calada/ Ao te ver no ar/ Talvez esperando/ Desse viajante/ Algo que ele espera/ Também receber/ Prá quebrar as cercas/ Com que insistimos/ Em nos defender
O Viajante , Ney Matogrosso
um dia, gostaria de sentir o privilégio de dizer "não me contem, não quero saber, não gosto de ouvir histórias dessas", um dia, gostaria de sentir que é uma opção, dizer "eu não tenho jeito para essas coisas, é melhor seres tu a ir lá, a fazer, a dizer", um dia, talvez; e não me venham com tretas que é porque se tem jeito! pfffff, jeito! ter jeito! idiotice! ninguém tem jeito para ver os seus ente queridos a sofrer! ninguém! ninguém tem jeito para ver olhos a diminuir da dor! ninguém tem jeito para ouvir uma fala que procura esperança vã, ninguém! ora ca'porra! foda-se!
Eu gosto muito de cachorro vagabundo/ Que anda sozinho no mundo/ Sem coleira e sem patrão/ Gosto de cachorro de sarjeta/ Que quando escuta a corneta/ Sai atrás do batalhão/ E por falar em cachorro/ Sei que existe lá no morro/ Um exemplar/ Que muito embora não sambe/ Os pés dos malandros lambe/ Quando eles vão sambar/ E quando o samba está findo/ Vira-lata esta latindo a soluçar/ Saudoso da batucada/ Fica até de madrugada/ Cheirando o pó do lugar/ E até mesmo entre os caninos/ Diferentes os destinos/ Costumam ser/ Uns têm jantar e almoço/ E outros nem sequer um osso/ De lambuja pra roer/ E quando passa a carrocinha/ A gente logo adivinha a conclusão/ O vira-lata, coitado/ Que não foi matriculado/ Desta vez "virou"... sabão
Samba de Alberto Ribeiro (Carnaval de 1937)