la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

ricochete

revolvidas, as tripas revoltam-se, ameaçam não mais se fazerem coração, reclamam o pensamento

lido: no Referências a(o) Nada

A Perversidade do Silêncio


photo
Beyond Right Angles , Benno Schlicht

quem vê caras...

às vezes sou acusada de ter um ar grave e sério, até já me informaram que as minhas primeiras rugas serão na testa, pelo ar sisudo, e que dificilmente terei as rugas do sorriso

Dhôtel nuancé d'abricot e La Bouche en croissant, Jean Dubuffet

memmoriam

"É impróprio afirmar que os tempos são três: passado, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer, os tempos são três: o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes e o presente das coisas futuras. Existem, pois, três tempos na minha mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras".
Santo Agostinho in Confessionum



La persistencia de la memoria*, Salvador Dalí
* imagem transformada para tons de cinza

home

what to say? I miss passing by Toronto University's music building and hearing the music from outside, at each window a different instrument.
I miss dreaming about pianos.

I miss home. Somewhere. Home.

metrónomo [ou as horas (ou tu)]


Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas
.
Só necessito que tu existas.
.
David Mourão-Ferreira

* escultura de Francisco Simões

arroz de peixe

já não sei medir as quantidades de comida, deixo bocas com fome : /

Levi Strauss is the reason why...

... I'm not able to say no to trademarks



I acknowledge myself as a Levi Strauss adict

stillness please said the individual

não, nem porque já passasse da meia-noite,
eterno engano, tentar enganar o corpo



sem título, Dennis Rideau

are you tokin to me?

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a margarete, seguindo a onda infanto-narcísica dos dias que voam...

gostarzinho

hoje o meu gostarzinho faz onze anos; conheci-o tinha ele poucos minutos de vida, não sei bem se mais de uma hora; o parto foi de urgência, fui a primeira a chegar ao hospital, com a mãe ainda na UCI, as enfermeiras levaram-me até ele - choque! estava ali o menino que sobreviveu à gravidez tumultuosa e parto de risco; estava ali um bebé recém nascido cujas cores não consigo descrever, tão comprido, tão magrinho; estremeci perante aquela vida; a enfermeira mais doce do mundo perguntou-me se eu o queria vestir, não consegui, não conseguiria, pensei na possibilidade de o beijar mas rapidamente me lembrei que o pai estaria a chegar e que eu tenho muito tempo para lhe dar primeiros beijos; dizer aqui da importância dele é impertinente, mas apeteceu-me dizer: hoje o gostarzinho faz onze anos, é um rapaz cheio de saúde, muita vida, brinca muito, balda-se muito aos trabalhos da escola e rasga constantemente as calças nos joelhos.

persona non grata

uma pessoa de quem não gosto - sim, claro que há alguéns de quem não gosto - costumava fazer um relato daquilo a que ela chamava "a vida das gajas" - entenda-se que esta alguém é uma alguém que se tem muito em conta, não é uma gaja, qualquer - nesse relato que fazia (ou ainda fará), descrevia as refeições das gajas, comida de puta, dizia ela, algo que se parece muito com o que foi o meu jantar tardio, arroz pulau e espinafres com queijo requentados no micro-ondas, comida de puta, pensei, olhá gaija que me veio à mente, porra! ainda bem que já não tenho de lidar com aquela gente - sim, claro que há alguéns cuja companhia me privilegio de privar - e sorri, ao degustar-me com comida de puta.

é tempo de ter 1m70 (já, ontem)


Sometimes the Dress is Worth More Money Than the Money
(still fromvideo installation)
Tracey Emin ©

smiley generation

Domingo # 2 (ou Domingo # infinito)

Filme polémico poderá ter estado na origem de explosões em Nova Deli


Iraque: jornalistas romenos* libertados
* e o seu Guia


. . .

Encarnados põem fim a onze anos de jejum

Domingo

conheço muitas pessoas que se queixam do 7º dia, nunca foi um dia que me custasse a passar, mas hoje estou tãããooooo preguiçosa!, com tpc's para fazer, um tempo que só convida à sesta, ou ao sofá, aninhada a ver filmes a tarde toda, estou tããããoooooo preguiçosa

As coisas simplificam-se para o poeta quando começam a ser absurdas para os outros * (ou literalmente, uma cicatriz no umbigo)

Longe dos Bárbaros um Cacto no Pólo

.

Julguei que se tinha levantado um obelisco místico no meio da praça; e que o obelisco dava uma sombra azul; e que tinham acendido um fogão no quarto húmido; e que tinham dado alta ao doente.

.

Julguei que nascia o sol à meia-noite; e que uma boca muda me falava; e que esfolhavam lírios sobre o meu peito; e que havia uma novena ao pé do Jardim de Aclimação.

.

Uma boca muda me falou; mas o obelisco, de ténue que era, não deu sombra; e o fogão não aqueceu o quarto húmido; e o doente teve uma recaída.

.

E o clown entrou, folião, na Igreja; e fez jogos malabares com os cibórios e os turíbulos; e tornou a nevar; e, após os brandos etésios, soprou o mistral forte.

.

E na alcova branca entrou a Dama expulsa, cujo corpo é de âmbar e cera e todo rescendente de um matrimónio aromal de mirra e valeriana, a Dama dos flexuosos e vertiginosos dedos rosados.

.

E seus cabelos de czarina eram claros como a estopa e finos como as teias de aranha; e seu ventre alvo, de estéril, era todo azul, todo azul de tatuagens.

.

E a Educanda fugiu do recolhimento; e com a Dama expulsa passei a noite em branco; e a noite foi toda de escarlate.

.

E no dia seguinte, em vez de sacros livros, que de ordinário me deleitam, li Schopenhauer, e achei Artur Schopenhauer setecentas vezes superior a todos os Doutores da Igreja.

(horas)

Eugénio de Castro

* sobre As Anamorfoses in O Surrealismo na Poesia Portuguesa (org. Natália Correia)

as gajas

depois de tratar dos meus afazeres de cidadã, dei por mim dentro duma loja de roupa, não me lembro de ter entrado, lembro-me de dar por mim com uma saia na mão:
moça da loja: qual é o tamanho?
eu: ah! desculpe, só estava a ver, não venho para comprar
moça da loja: ora essa! não tem de comprar, mas experimente, tenho a certeza de que lhe fica bem
eu: (a pensar: carago! porque é que tens sempre de pedir desculpa? esta gaja será simplesmente simpática ou será golpe de marketing?)
moça da loja: é o tamanho ##?
eu: sim.
moça da loja: vou buscar
enquanto espero vou espreitando mais roupa, a moça volta...
eu: olhe, já agora, também experimentava estas*, estes calções**, este vestido e este top
lá foi a moça da loja toda solícita buscar as peças para eu vestir
vesti, olhei-me ao espelho, não me olhei ao espelho como olho no trabalho, olhei-me ao espelho, gostei, curti as formas, apeteceu-me comprar mas a lucidez e eterna castração impediram-me, não fá'mal! deu-me gozo que todas as peças me ficassem bem; acho graça a este fenómeno do ser social, como determinados cortes da roupa nos despertam os sentidos :)
* nunca sei se se chamam corsários ou calças pirata ou, simplesmente, calças curtas
** daqueles calções curtos estilo menina de calendário Dunlop

ser e não ser [ou estereótipo (ou gadelhudos)]

gosto de gadelhudos, por exemplo, o John Malkovich

ser ou não ser

ser (?) extrovertida e ruborizar.

after all, it seems there is nothing she wouldn't do

hoje não digo, não falo, não escrevo, possíveis palavras fictícias identificadas neste post poderá ser pura coincidência da vossa imaginação

acknowledgeyourselfparadoxoserenidadeutopiasorrisoansiedadevidamorte
polimorfoseverborreiasorrisointeriorgritoestéticaclínicaartecordaspiano
1971

Throw away your suitcase
Come back to bed
There is nothing I wouldn't do
For a girl in distress

I've loaded my weapon
I'm wearing my best
There is nothing I couldn't stoop to
For a Girl in distress

Nothing I wouldn't stoop to

We are out in the hills now
looking over the sea
There is nothing she wouldn't do
To a man on his knees
Perry Blake
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um beijo, para a M.
e outro beijo, para o A.
:)

encontrei! encontrei!

no passado fim de semana fui ouvir falar sobre Fotografia. perguntaram-me que tal tinha sido: foi bom, pois claro! seria escusado dizer que a companhia foi da melhor, mas digo-o na mesma: a companhia foi da melhor!

vim de lá com o bichinho atrás da orelha, o Santo Google ajudou-me e já guardei muitas páginas com favoritos, mas, como tenho a mania de imitar os médicos na caligrafia, anotei o nome duma artista e não conseguia decifrar os hieróglifos, finalmente, por exclusão de partes, cheguei lá, apresento-vos: Tjarda Sixma, que me a imagem que procurava para ilustrar a epígrafe do acknowledge (or whatever) yourself!




. . .



já não arrancam
pétalas às flores, as
meninas grandes devem
ser capazes de abrir
a boca sem deixar nenhum
dente cair

Valter Hugo Mãe in "A Cobrição das Filhas"
.
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I'll always be a little girl
© Tjarda Sixma 2003,

Lambda Ilfochrome slide in Ocoume light box, H 37 x W 50 x 14 cm

Cheirando o pó do lugar

Eu me sinto um tolo/ Como um viajante/ Pela sua casa/ Pássaro sem asa/ Rei da covardia/ E se guardo tanto/ Essas emoções/ Nessa caldeira fria/ É que arde o medo/ Onde o amor ardia/ Mansidão no peito/ Trazendo o respeito/ Que eu queria tanto/ Derrubar de vez/ Prá ser seu talvez/ Prá ser seu talvez/ Mas o viajante/ É talvez covarde/ Ou talvez seja tarde/ Prá mostrar que arde/ Com maior ardor/ A paixão contida/ Retraída e nua/ Correndo na sala/ Ao te ver deitada/ Ao te ver calada/ Ao te ver no ar/ Talvez esperando/ Desse viajante/ Algo que ele espera/ Também receber/ Prá quebrar as cercas/ Com que insistimos/ Em nos defender

O Viajante , Ney Matogrosso

um dia, gostaria de sentir o privilégio de dizer "não me contem, não quero saber, não gosto de ouvir histórias dessas", um dia, gostaria de sentir que é uma opção, dizer "eu não tenho jeito para essas coisas, é melhor seres tu a ir lá, a fazer, a dizer", um dia, talvez; e não me venham com tretas que é porque se tem jeito! pfffff, jeito! ter jeito! idiotice! ninguém tem jeito para ver os seus ente queridos a sofrer! ninguém! ninguém tem jeito para ver olhos a diminuir da dor! ninguém tem jeito para ouvir uma fala que procura esperança vã, ninguém! ora ca'porra! foda-se!

Eu gosto muito de cachorro vagabundo/ Que anda sozinho no mundo/ Sem coleira e sem patrão/ Gosto de cachorro de sarjeta/ Que quando escuta a corneta/ Sai atrás do batalhão/ E por falar em cachorro/ Sei que existe lá no morro/ Um exemplar/ Que muito embora não sambe/ Os pés dos malandros lambe/ Quando eles vão sambar/ E quando o samba está findo/ Vira-lata esta latindo a soluçar/ Saudoso da batucada/ Fica até de madrugada/ Cheirando o pó do lugar/ E até mesmo entre os caninos/ Diferentes os destinos/ Costumam ser/ Uns têm jantar e almoço/ E outros nem sequer um osso/ De lambuja pra roer/ E quando passa a carrocinha/ A gente logo adivinha a conclusão/ O vira-lata, coitado/ Que não foi matriculado/ Desta vez "virou"... sabão
Samba de Alberto Ribeiro (Carnaval de 1937)

six feet under: parallel play, episode 42

oh yeah!

050305.gif

mais um assalto

post da Lebre, reproduzido na íntegra

Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro.
Deslizas sobre a terra. Deslizas sobre as águas.
Tudo é veloz e extremo. Pó em torno da tua dor. Pó em torno do teu choro.
O que te atinge em pleno voo. A cegueira que te atinge em pleno voo.
Ergues-te para a mais secreta alegria de abandonares o teu corpo.
Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro.
A tua história, onde escreveste o indefinível do teu nome. Eras criança.
Estendias as tuas asas. E as tuas asas
faziam a imensa sombra sob a qual se abrigava
o que era reconhecível e amável.
Deslizas sobre a terra. Deslizas sobre as águas.
Tens o talento antigo de estenderes as tuas asas. Agora quebradas,
para sempre quebradas. Já sem a amplitude do início,
é no ocaso que escondes a tua vergonha.
Por tua vontade, desejo e mágoa
exumas a palavra do passado, a inocência que o não era.
Que a palavra te redima do erro. Que a palavra seja o erro.


Luís Quintais

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no princípio

«Só depois da falência das nossas invenções nos descobrimos a nós,
os inventores.» *


Cindy Sherman, Untitled No. 153, 1985. Metro Pictures, New York

* Vergílio Ferreira in Carta ao Futuro

inner zone

«Se eles tem três carros/ Eu posso voar»*; não responderei pela minha energia, apenas tomarei responsabilidade no uso que faço dela; se me mascarar como Matogrosso, que ninguém opine, sou eu; não ponham o dedo na ferida, não é um pedido, é uma ordem; não responderei pelo cansaço, que não pode ser meu; gosto de mães e gosto do olhar dos filhos delas; não sei, não sei, já disse que não sei, raramente sei e valha-me como praga o não sei o quê de olhar convicto (uma acusação surpreendente); convicções são tão poucas ou demais; gosto de beijos, pronto, é isso, é isso!, gosto de beijar; ser beijada é já outro privilégio, outra dimensão.


Ney Matogrosso e sua mãe
* excerto da Balada do Louco, Arnaldo Baptista

em voo

Berlin

Berlin
Came to your border
Looking back into the night
Falling down on the city lights far away
Tell me the answer
Who knows the wrong from the right?
Years may come and years they go
You’ve seen your bridges burning
And the wheels of time keep turning

Like a ship in the night
You passed along the highways of my life
And now my mind you’re always in
And the ten-thirty flight will soon be headed my way
As she sails across the skyway of Berlin

Oh, and to think of all the changes you have seen
Oh, and reflect upon the way it might have been

Like a ship in the night
You passed along the highways of my life
And now my mind you’re always in
And the ten-thirty flight will soon be headed my way
As she sails across the skyway of Berlin

Barclay James Harvest

se eu fosse femme fatale

shiuuuuuuuuuu

Juliette Binoche in 'Wuthering Heights' (1992)
shiuuuuuuuuuu, não são horas de afixar posts, são horas de queima em Coimbra, são horas de shiuuuuuuuuuuu

thy way

Tracey Emin The Last Thing I Said to You was Don't Leave Me Here II 2000
The Last Thing I Said to You was Don't Leave Me Here II, Tracey Emin ©

- és bonita.
mas instalara-se uma surdez selectiva. dos seus sentidos, apenas o olfacto estava vigil. o odor bafiento da garagem era um esconderijo que pensou ser jamais compreendido por outrém. tinha receio de nunca mais sentir as narinas dilatarem ao odor do mofo dos quartos à beira mar, o mofo a maresia estava classificado no nível superior dos odores-refúgio. de todos, o mais doloroso era o das madeiras outrora trabalhadas a verde, negligentemente pintadas sem tempo para secar. era esse o odor de doer - madeira podre.

digo-te, Charlie Brown, se eu praticasse desporto

não me bastava o ténis
Ai Sugiyama of Japan returns a backhand to Mary Pierce of France at Roma Master Series, Wednesday, May 12, 2004. Sugiyama won 6-2, 6-4Photo Andrea Staccioli Graffiti
não me bastava a natação
Poggibonsi 9 Luglio 2003 Federica PellegriniFoto Andrea Staccioli Graffiti
Andrea Staccioli ©

também não me bastava o atletismo, queria ter a hipótese de usar de força, dar uma corrida e poder mergulhar, nenhum desporto se compara ao baseball; pena estar tão longe da minha terra natal, a única coisa que supera ver um jogo de baseball - é jogá-lo! observar, esperar, atacar ou defender, correr ou ficar na expectativa, procurar dar a volta aos resultados, o campo é lindo, as luvas também, nunca tive uma luva de baseball, um dia compro-me uma.

numa casa portuguesa, concerteza

O convidado

É verão no fim da tarde, ao canto das cigarras
o chão é um vulcão adormecido
delira um vaga-lume: há luz em Marte
e o jantar ainda não foi servido

Condensam gotas de água sobre o copo
o pó afaga o brilho da mobília
e pousa no retrato de família

Protestam as fissuras do sobrado
no rodapé descalço das andanças...
chegou o convidado!
chegou o convidado!

Servida foi outra taça de vinho
à mesa só ficou uma migalha
no linho da toalha

Resvala já o sol no horizonte.
vencida sai a noite pela janela,
duelo à luz da vela

Já dormem as faianças na cozinha.
apaga-se a mortalha no cinzeiro
que bem que sabe o licor da madrinha

O eco mede o espaço entre as lembranças
e o tempo salta à corda do relógio
do quarto das crianças

no quarto das crianças

José Moz Carrapa (letra) João Afonso Lima (música/ interpretação)

Paris, Texas

não procurava, nada; faz parte duma série de DVD's que me emprestaram os meus amigos mecenas, olhei o conjunto e retirei Paris, Texas; apeteceia-me Wim Wenders, eu não sei definir poesia, mas sei que ao realizar filmes ele se faz poeta; de cada vez que tenho a possibilidade de gozar de obras tais que esta sinto-me afortunada.

um homem
uma mulher
uma criança
(outro homem)
(outra mulher)
como se perdem
como se agarram
como se procuram não perder
o horizonte
o vento
o rosto queimado do sol
como a linguagem não chega
sonhos e culpa
realidade e culpa
amnésia
fuga
memória
medo e culpa
medo
culpa
a possibilidade efémera de remediar o passado
(pelo meio ficam os outros, os outros)

watermelon brain

o calor está aí, em grande, mas falta qualquer coisa para que calce as alpercatas; o manji foi descobrir as fitas da árvore de natal e destruiu-as, o que me causa alguma estranheza - como se fosse um exercício a desfazer os tais natais passados, o tapete de sisal parece uma mulher que usou daqueles pós para abrilhantar a pele; viva! já há melancia!; receber os bons dias da primeira pessoa de quem nos lembramos ao acordar; vira o disco e toca o mesmo - Caetano, Chico, Vinicius e Tom; rever Intimidade; não rever Lost in Translation; A Verdade, do José Luís Peixoto*; pondo de lado o conceito defeituoso da perfeição, sentir os defeitos todos à flor da pele, xô!; os calhamaços ali a sussurrar por mim, mas faço-me mouca, que esperem, ora!; podia vestir a minha saia preferida, mas... e as alpercatas?; saudades de Quiaios; há que assassinar saudades; viva! já há melancia!


Cats and Watermelons, Gabriel Orozco

* tu és bonita.
tu és feita de sol.
eu amo-te.

branco em cinzas

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Jardim Botânico, Coimbra, 25 de Abril, 2005

samba e amor

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade, que arde
E apressa o dia de amanhã

De madrugada a gente ainda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar

No colo da bem-vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?

Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã

Chico Buarque

merry whatever

em busca

uma triagem das recordações
escolher a memória de caloríferos

o caixote dos natais passados
retirar fitas e bolas
6 ou 7 conjuntos de luzes inactivas

pensar: deve haver solução para estas luzes,
que negligente

voltar a arrumar tudo. sem arranjo.

cantando, desencantando, espantando

gostava mesmo de saber que voltas é que eu dou para ir buscar isto: são trocas baldrocas, altas engenhocas que eles sabem inventar, lá lá lálá, lá lá láláá, faz orelhas moucas, não te deixes enganar, lá lá lálá, lá lá láláá, lá lá lálá, lá lá láláá

quando somos sugados

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Peking, Henri Cartier-Bresson, 1949

vista daqui uma vida (as personagens fictícias reservam-se o direito à privacidade)

quando vem o tempo bom é divertido ver as roupas que o pai compra com a p., os sapatos de sola transparente, as calças brilhantes e as t-shirts com borracha à frente, ela compra sempre a co-ed, a mãe deixa-a usar blush e pôr brilho nos lábios. a p. ouve disco, a â., melhor amiga dela, é mais maluca, usa um blusão de cabedal preto e ouve acdc.
a mãe é muito bonita. usa sapatos e botas de salto alto muito bonitos, quase sempre pretos. pinta as unhas de cor de vinho. os lábios na mesma côr. usa vestidos e saias muito bonitas. no trabalho é chefe. à noite, quando volta, traz sempre um pedacinho da sandes do almoço, a menina vai ver a mala da mãe, gosta sempre de comer esse pedacinho de sandes, principalmente quando é de atum.
há muitas pessoas nestas vidas.
o a. e a l., são os melhores amigos do pai e da mãe da menina e da p.. vão juntos para todo o lado. os filhos deles são o zito e o lhêlhê. o zito joga numa equipa. é tão pequenina, a menina, e já sabe que ele é bonito. o m. vive numa cadeira de rodas. é mais novo que o zito. mas mais velho que a menina. quando era bebé, ela não sabia dizer m., então ele passou a ser o lhêlhê. dizem que ele vai ser muito alto. mas como, se vive na cadeira de rodas?
juntam-se todos na cottage, que é do v., o pai da s., a amiga de infância da menina (isto é muito importante, elas sabem). a cottage é na praia, em uasaga. às vezes, vão juntos apanhar morangos e cerejas às quintas. o pai e a mãe da s.y. também vão. um dia. o pai da s.y. morreu. a s.y. também é, junto com a s., a amiga de infância da menina. (isto é muito importante, elas sabem). a irmã da s. é a â, e a irmã da s.y. é a t., são ambas amigas da irmã da menina, a p..
eram muitas, as famílias que se juntavam na cottage, a família da menina, a família da s., a família da s.y. e a família do lhêlhê. eram muitos, tantos. juntavam-se sempre que possível, fins de semana e férias. a menina não se lembra de ouvir disputas. a menina lembra-se de todos divertidos, as mulheres cozinhavam e os homens lavavam a loiça - às vezes fingiam que partiam a loiça para chatear a mulheres que depois riam, junto com as crianças. também se lembra de acontecer as três meninas espreitarem as mães a chorar juntas, às vezes sabiam que era por causa de problemas do lhêlhê, outras vezes, mais tarde, porque o pai da s.y. tinha morrido. talvez as três meninas ficassem caladas. voltavam a brincar.

bom dia!

começo o dia, a semana, irritada, eu explico: reservei a agenda desta manhã para um compromisso com uma determinada instituição; marcado para as 8horas; o mesmo compromisso para o qual falharam há exactamente dois meses e que ficou remarcado para hoje; vai daí, faltam novamente, e ninguém avisa; estou fula, estou a maldizer e a culpar a cultura portuguesa de descontracção com que se encara a quebra de compromissos. hmpf. ah! bom dia! vinha na minha curtinha viagem para a tasca e a pensar que hoje queria para o meu ambiente de trabalho o Kandinsky.
Squares with Concentric Rings
Squares with Concentric Rings, Wassily Kandinsky

mais um assalto

« NUSCH

Je suis né pour te connaître
Pour te nommer



Em todos os lados
Escreveu o seu nome
(talvez fosse Nusch o nome da mulher).
Depois, era um poeta militante,
Chamou-lhe Liberdade.
Eram anos cruéis.
Hoje podemos escrever
O nome da pessoa amada.
Eu escrevi na neve de Lausanne
Numa praia de Creta
E agora no carso
Sempre
O mesmo nome.
O nome de Nusch,
A quem o nome foi negado
No tempo em que os poetas militantes
Não podiam escrever
Em toda a parte
O nome da pessoa amada. »


metrónomo [ou as horas (ou quem sabe de tudo não fale)]

Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco a dor no peito
Não diga nada sobre meus defeitos

E não me lembro mais quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços

Só este amor assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer

Para ver as meninas, Marisa Monte



smiley generation - on mothers day


I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro