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Digo o lamento, que o mundo é excessivo para se estar a existir. Olho para o lado a querer um vidro, a querer ouvir os seus estilhaços. Encontro pedras em cima da secretária e sou assolada pelo amor com que o meu pai me ofereceu cada uma. Percorro outros objectos e a lembrança de cada um dos doadores. Deixo os vidros inteiros. Leio um só
poema. Arrepio-me. Um pedaço de mim voltou a morrer. Arrepio vida. O corpo emana este calor aguado e celebro o recente desejo – usar aguarelas, mesmo sem saber a arte. Tons soalheiros com a pujança da água. Um dia.
Vou. A
música redime um pouco mais de tempo enquanto a estrada não acaba.
Coisa espantosa... esta coisa da nobreza dos afectos e da sua teima em nos alçar, constato.
Guardo este pequeno vidro dentro do bolso.