la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

[ escarpa ]

Explicaria como é a ausência e a dolorosa vida na ausência. Os seus pés seguiam-se naquela inclinação doentia que se traz do pensamento mais profundo ao reviver a sensação dos actos. Enquanto os seus pés se seguiam, compôs imagens acompanhadas de sons distantes da ausência. Era a presença a seguir os seus pés. De repente... o corpo.

Sentiu uma exclamação afónica que se libertou num tremor ininterrupto enquanto os pés, os seus pés, se seguiam.

Por prudência, não intentou uma correria. Era íngreme o caminho, e viu. Havia lixa a forrar o chão, abraçou os seus braços nus para o calor e assim se libertou novo tremor.
Sentiu a pele a ser removida em pedaços de serrim e os pés aplainados até não sobrar qualquer resíduo de carne nas solas.
Nem assim se foi a ausência.

Quando os seus pés pararam o seguimento, atirou-se à cama de pregos.
O som esponjoso do ferro a entranhar as mamas suavizou a afonia. Sobrou uma cabeça que não rolou. Olhou a cabeça de soslaio, o pescoço movimentava-se, tocou-lhe e sentiu a vibração.
Percebeu enfim que estava surda, o corpo gritava há muito tempo. Desde a ausência, mas não se auto-deferia o limiar de dor na audição.


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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro