la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

resíduo

Este café não tem encanto, é uma pastelaria/snack-bar. As paredes são um forro de cerâmica a imitar mármore verde. As cadeiras devem ser design (como oiço dizer por aí, “é muito design”, também já ouvi dizer “é muito fashion”), o forro das cadeiras imita cerejeira. Vende-se água gaseificada artificialmente, a vários sabores. A meia-de-leite foi-me servida tal como gosto: com espuma e aquele pequeno círculo castanho por entre a espuma a anunciar muito café, morna, como gosto.
Esta folha de papel não é de tom areia, como gosto. Esta é a folha de um bloco, com um rodapé publicitando um produto especializado na comunicação humana. Não escrevo a preto-fino, escrevo a azul, caneta de bico médio.
Do guarda-fatos saiu a primeira camisola quente que a minha mão apanhou, sem olhar a meios de toilette-a-combinar, esta camisola cobre-me. De dentro para fora, sem olhar espelhos, tenho certeza de hoje não haver beleza no meu corpo. Da minha face não quero ver reflexos.
A cerca de 2 metros e meio deste meu corpo, a imagem do homem incapacitado pelo tempo atravessa a montra. O homem faz três tentativas até conseguir organizar-se de forma a sair do automóvel. São muitos minutos eternos. O meu corpo imóvel acompanha os movimentos da minha mente sem faculdade de entre-ajuda. Enfim, o homem desaparece do meu alcance.
Passa então a mulher. A mulher feia é a coisa mais bonita do meu dia. A mulher bonita deixa que os meus pés assentem o chão.
Gosto do lenço que envolve a cabeça dela.














photo da série ruínas

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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro