Pois, votei NÃO, não via outra coisa à frente que não fosse o embrião/feto, não me conseguia abstrair. Há 8 anos, ao tentar reflectir sobre esta questão só pensava na interrupção daquela vida, não conseguia pensar em mais nada, não conseguia respeitar mais nada. Tive discussões imensas com amigos, a minha família era toda do não. O tempo passou, eu mudei, não vale a pena descrever aqui o processo que é meu, reflecti e aprendi a ver outras realidades.
Desde que se retomou esta discussão na actualidade política, com data marcada, curiosamente, só tive uma conversa com uma pessoa que vai votar não. Essa pessoa que se assumiu do não referiu sê-lo por um certo receio do que pode acontecer, pelo flagelo… o possível aumento do número de abortos se despenalizado. Pelo que me parece, essa pessoa vota não com a ideia de que, sendo penalizado o aborto, as mulheres não recorrerão tão facilmente (por impulso!?!) a ele e se pode, talvez, salvar pelo menos um feto, qualquer coisa assim. Pois, não me parece uma teoria muito sólida, não sei como vai o Estado assegurar a IVG às mulheres, mas não me parece que venha a ser um serviço instantâneo. Quero dizer com isto que, mesmo conhecendo as limitações do nosso SNS, não me parece que a IVG venha a ser realizada sem a participação da equipa médica, como explica o Dr. Mário Sousa «É nossa obrigação enquanto médicos saber por que não o podem fazer. Se o problema é a família ou o parceiro, devemos oferecer-nos como mediadores. Se invocarem razões económicas, devemos chamar uma assistente social afectiva e compreensiva que as acompanhe e lhes indique meios de subsistência.». Podem chamar-me ingénua quanto ao SNS, mas eu só posso esperar e exigir aquilo a que tenho direito, assim, espero que seja assegurado às mulheres um serviço de apoio na decisão quando existe dúvidas, serviço este que não existe DE CERTEZA no aborto clandestino. Atenção que estou a falar de situações dúbias, não estou a por em causa as razões das mulheres que sabem o que querem e a quem as certezas sobre a IVG são infinitamente maiores do que as dúvidas.
Diz que… É preciso é respeitar a ideia de cada um… ser-se humilde e essas coisas ditas de bem...
# Quanto ao cidadão que vota não, porque não, porque só vê o feto à frente e não consegue enxergar mais nada, só posso dizer que pouco há a fazer senão esperar que se digne a sair do seu umbigo e olhar para outras vertentes da realidade.
# Quanto ao cidadão que vota não, mas até concorda com algumas situações, custa-me imenso que tenha o direito de me tratar como uma possível irresponsável e inconsciente. Esse cidadão vota por mesquinhez, porque é isso mesmo - mesquinhez: para concordar com a IVG, esse cidadão que tem o direito de se pronunciar quanto a esta lei varia a opinião consoante as histórias tipo-TVI que lhe são relatadas. A Assembleia da República deu a real possibilidade aos cidadãos de julgar os outros. Acontece que não se dão conta que só podem, e estão... vão mesmo julgar e penalizar as mulheres desfavorecidas ao votar não, porque a realidade manter-se-á como tal se a lei não mudar, ou seja: continua a haver abortos, os mesmos, porque os motivos das mulheres não se alterarão. Não estão a salvar vidas ao votar não, muito possivelmente pelo contrário...
# Não confio num cidadão que não respeita a minha privacidade. Tenho o direito de não partilhar com quem quer que seja os meus motivos pela decisão de abortar (salvo com a equipa clínica dentro do que é a competência de cada profissional de saúde). Se um cidadão precisa de conhecer as minhas motivações para concordar, ou não, com o referido aborto (é ridículo este início de frase, não é? Leiam e repitam em voz alta a ver se não rings-a-bell do ridículo que é esta situação de alguém se achar no direito de interferência) eu digo bah! para esse cidadão e a sua consciência social… Traduzindo a frase que deixei em epígrafe do blog: se não confiam em mim no poder de decisão, como podem confiar-me uma criança?!!!
O que queria mesmo dizer é que quem vota não está a enganar-se e a adiar a legalidade da realidade. A IVG será legal no nosso país, mais cedo ou mais tarde, porque as mentalidades de facto evoluem, tenho pena que até lá tenhamos de esperar mais e continuem a morrer e a sofrer as mulheres desfavorecidas: SIM, falo das mulheres desfavorecidas que é por elas que vou votar. Se estivesse em causa a possibilidade de eu realizar uma IVG em condições de segurança, ficava em casa no dia 11, que quanto ao resto envolvido na IVG não tenho quaisquer intenções de me expor.
Se eu soubesse que todas as mulheres portuguesas tinham os mesmos acessos económicos e afectivos que eu, ficava em casa no dia 11 e sentir-me-ia muito mais respeitada, pois já me parece suficientemente indigno ter de me pronunciar sobre isto num boletim de voto.
No dia 11 voto SIM pela dignidade, por uma questão de saúde pública.
Desde que se retomou esta discussão na actualidade política, com data marcada, curiosamente, só tive uma conversa com uma pessoa que vai votar não. Essa pessoa que se assumiu do não referiu sê-lo por um certo receio do que pode acontecer, pelo flagelo… o possível aumento do número de abortos se despenalizado. Pelo que me parece, essa pessoa vota não com a ideia de que, sendo penalizado o aborto, as mulheres não recorrerão tão facilmente (por impulso!?!) a ele e se pode, talvez, salvar pelo menos um feto, qualquer coisa assim. Pois, não me parece uma teoria muito sólida, não sei como vai o Estado assegurar a IVG às mulheres, mas não me parece que venha a ser um serviço instantâneo. Quero dizer com isto que, mesmo conhecendo as limitações do nosso SNS, não me parece que a IVG venha a ser realizada sem a participação da equipa médica, como explica o Dr. Mário Sousa «É nossa obrigação enquanto médicos saber por que não o podem fazer. Se o problema é a família ou o parceiro, devemos oferecer-nos como mediadores. Se invocarem razões económicas, devemos chamar uma assistente social afectiva e compreensiva que as acompanhe e lhes indique meios de subsistência.». Podem chamar-me ingénua quanto ao SNS, mas eu só posso esperar e exigir aquilo a que tenho direito, assim, espero que seja assegurado às mulheres um serviço de apoio na decisão quando existe dúvidas, serviço este que não existe DE CERTEZA no aborto clandestino. Atenção que estou a falar de situações dúbias, não estou a por em causa as razões das mulheres que sabem o que querem e a quem as certezas sobre a IVG são infinitamente maiores do que as dúvidas.
Diz que… É preciso é respeitar a ideia de cada um… ser-se humilde e essas coisas ditas de bem...
# Quanto ao cidadão que vota não, porque não, porque só vê o feto à frente e não consegue enxergar mais nada, só posso dizer que pouco há a fazer senão esperar que se digne a sair do seu umbigo e olhar para outras vertentes da realidade.
# Quanto ao cidadão que vota não, mas até concorda com algumas situações, custa-me imenso que tenha o direito de me tratar como uma possível irresponsável e inconsciente. Esse cidadão vota por mesquinhez, porque é isso mesmo - mesquinhez: para concordar com a IVG, esse cidadão que tem o direito de se pronunciar quanto a esta lei varia a opinião consoante as histórias tipo-TVI que lhe são relatadas. A Assembleia da República deu a real possibilidade aos cidadãos de julgar os outros. Acontece que não se dão conta que só podem, e estão... vão mesmo julgar e penalizar as mulheres desfavorecidas ao votar não, porque a realidade manter-se-á como tal se a lei não mudar, ou seja: continua a haver abortos, os mesmos, porque os motivos das mulheres não se alterarão. Não estão a salvar vidas ao votar não, muito possivelmente pelo contrário...
# Não confio num cidadão que não respeita a minha privacidade. Tenho o direito de não partilhar com quem quer que seja os meus motivos pela decisão de abortar (salvo com a equipa clínica dentro do que é a competência de cada profissional de saúde). Se um cidadão precisa de conhecer as minhas motivações para concordar, ou não, com o referido aborto (é ridículo este início de frase, não é? Leiam e repitam em voz alta a ver se não rings-a-bell do ridículo que é esta situação de alguém se achar no direito de interferência) eu digo bah! para esse cidadão e a sua consciência social… Traduzindo a frase que deixei em epígrafe do blog: se não confiam em mim no poder de decisão, como podem confiar-me uma criança?!!!
O que queria mesmo dizer é que quem vota não está a enganar-se e a adiar a legalidade da realidade. A IVG será legal no nosso país, mais cedo ou mais tarde, porque as mentalidades de facto evoluem, tenho pena que até lá tenhamos de esperar mais e continuem a morrer e a sofrer as mulheres desfavorecidas: SIM, falo das mulheres desfavorecidas que é por elas que vou votar. Se estivesse em causa a possibilidade de eu realizar uma IVG em condições de segurança, ficava em casa no dia 11, que quanto ao resto envolvido na IVG não tenho quaisquer intenções de me expor.
Se eu soubesse que todas as mulheres portuguesas tinham os mesmos acessos económicos e afectivos que eu, ficava em casa no dia 11 e sentir-me-ia muito mais respeitada, pois já me parece suficientemente indigno ter de me pronunciar sobre isto num boletim de voto.
No dia 11 voto SIM pela dignidade, por uma questão de saúde pública.
imagem: Vera Drake