la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

[ a viagem boa ]

Chegarás. As horas serão sempre as poucas. Anseio por te contar que voltei a mudar de linha. Acendo a luz a meio das noites. Dir-te-ei a forma como treme o carvão na minha mão. Fantasio que me entregarás os lápis de cera. Nada quero rasgar. Porém, posso usar cola. Há cores vivas que aguardam, agora a curto prazo, naquela caixa que encerrei na segunda prateleira da estante técnica. Ainda não te contei que voltei ao solfejo, pois não? A minha dificuldade foi lembrar que não se dança o solfejo de braços abertos. Há dias, apanhei-me a sorrir para o metrónomo. As andanças têm aqui tanto para te contar. Anteontem, escrevi-te uma carta mas dispensei-a. Expressá-la-ei na tua presença não verbal. Quando chegares. Chegarás. Eu sei.

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Meu querido, querido,


Espero que a minha carta te vá encontrar bem no mundo. Por aqui, é quase madrugada, as lágrimas e as flores continuam secas, está tudo bem. Escrevo notícias antes de ir ao encontro da cama vaga. Os assuntos continuam activos. Não esqueci a tua pergunta, mas ainda sinto pudor ao perceber que encontrei a resposta. Não consigo libertar-me da suspeita de que a charada se refira ao manifesto que concentras dentro da tua música. Questiono-me, incrédula: que outro caminho pode ter a questão do voo?

Recebi a encomenda que me enviaste à morada certa. Sabes que não aguardo espantos e, talvez por isso mesmo, sou consciente de que ando sempre assarapantada. Sei que para ti é vulgar enviar um envelope de borboletas, mas deixa-me dizer-te que recebê-lo foi um princípio para mim. Ter a sala esvoaçada de borboletas é cenário de palco, e não estou certa de saber o que é excentricidade. O bilhete que me enviaste, enfim, um bilhete em forma de peixe, pareces tu em papel.

Andei em torno das memórias: Juntei os livros e seguro-os debaixo dos pés. Tranquei tudo com um cordel lasso. Pus a girar o disco que comprámos naquela manhã. (aquela manhã)

Amanhã, saio sozinha e deixo-me cá dentro, de guarda. Não esqueci a questão da metamorfose. Por enquanto, praticarei o polimorfismo.
Assim, será safa mais uma aurora.


Até ao nosso próximo abraço,



eu



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zuvi zeva novi, Mler Ife Dada
obrigada à lebre pela imagem e pelo mote ;)

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro