la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

Oh, que se lixe, passa-me a guitarra que eu canto-te um fado num português impecável

ATENÇÃO post da lebre reproduzido na íntegra
Sempre me dei ares de rapariga muito solta. Mas, para falar verdade, estive a fazer as contas no outro dia, e só tive onze amantes. Sem contar com o que aconteceu antes de eu ter treze anos porque, a bem dizer, essa parte não conta. Onze. Isso faz de mim uma puta? Olha para a Mag Wildwood. Ou a Honey Tucker. Ou a Rose Ellen Ward. Elas já fizeram truca-truca tantas vezes que podiam formar uma banda de percussão. É claro que eu não tenho nada contra as putas. A não ser uma coisa: algumas podem ser verdadeiras mas têm corações falsos. Quer dizer, não se pode foder o tipo e descontar os cheques dele sem pelo menos tentarmos acreditar que o amamos. Eu cá tentei sempre.



Além disso, deitei fora todos os meus horóscopos. Devo ter gasto um dólar em todas as estrelinhas do raio do planetário. É uma chatice mas a verdade é que as coisas boas só nos acontecem se formos bons. Bons? É mais se formos honestos, não uma honestidade de cumprir a lei... -eu cá era capaz de profanar uma campa e de roubar os dois olhos de um morto se achasse que isso me dava gozo por um dia -mas uma honestidade para connosco. Tudo menos ser-se cobarde, fingido, um bandido emocional, uma puta: preferia ter cancro a um coração falso. O que não tem nada de beato, é uma questão muito prática. O cancro pode matar, mas a alternativa de certeza que mata. Oh, que se lixe, passa-me a guitarra que eu canto-te um fado num português impecável.


Truman Capote


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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro