Sorvendo a borra da sua própria chávena, Sabbath levantou finalmente o olhar do submerso erro crasso que era o seu passado. Por acaso o presente também estava em curso, construído dia e noite como os navio-transporte de tropas em Perth Amboy durante a guerra, o venerável presente que recua até à Antiguidade e prossegue a direito da Renascença até hoje – era a esse presente sempre-a-começar e interminável que Sabbath renunciava. Acha repugnante a sua inexauribilidade. Só por isso devia morrer. E depois, que importa que tenha levado uma vida estúpida? Qualquer pessoa com alguma inteligência sabe que está a levar uma vida estúpida mesmo enquanto está a levá-la. Qualquer pessoa com alguma inteligência compreende que está destinada a levar uma vida estúpida porque não há outra espécie de vida. Não existe nada de pessoal nisso. No entanto, lágrimas infantis marejam os seus olhos quando Mickey Sabbath – sim o Mickey Sabbath, daquele bando selecto de setenta e sete mil milhões de idiotas de primeira apanha que constituem a história humana – diz adeus à sua unicidade com um meio entaramelado e profundamente dolorido «Quem liga a mínima?».
Philip Roth in Teatro de Sabbath
Philip Roth in Teatro de Sabbath