por aqui não valeu de nada a idiotice do PP; lá, no concelho onde voto, o PSD continua a conseguir a proeza da maioria!!!; eu lá fui ao voto, a minha ex-médica de família na mesa de voto quis saber de mim esquecendo-se do protocolo eleitoral proferiu "a margarete acaba de votar", senti-me estranha, acabara de sair da cabine de voto, depois de dobrar o boletim em branco e desdobrar para colocar a cruzinha que saberia não elegeria um deputado naquele distrito; o almoço em família trouxe as velhas histórias das convicções políticas dos meus avós, o meu pai repetiu a história, que penso ser um mito rural, da velhota que votou em todos porque, coitaditos, todos precisam; hoje EPC, no Público, fala de um dos fenómenos que me causam sempre grande estranheza, « Então eu conto o que se passou ao meu lado. É sábado, alguém compra uma parafernália de brindes que acompanham habitualmente os nossos jornais. Em particular, livros, discos, DVD. Nos últimos tempos, são sobretudo discos. Anteontem houve um jornal que lançou uma breve selecção de peças de Chopin (os concertos para violino?). Hoje outro jornal da concorrência, que propõe uma série de discos dedicados a compositores, e aparece também o nome de Chopin.
O comprador de sábado que está antes de mim analisa as diversas ofertas e diz: "Chopin? Já tenho!" Nem se dignou a ver o que se tocava, nem quais eram os intérpretes. Viu Chopin e concluiu de imediato: já tenho.
É interessante notar o que está aqui em jogo: o prazer da colecção. Mas não só. O que este comprador pretende é ter qualquer coisa que lhe dê a sensação de que o mundo todo do saber e do prazer da música está à sua disposição. Coleccionar é poder reunir aquilo que figuras desconhecidas nos dizem ser o essencial. O resto é secundário. Nenhum prazer da descoberta. Nenhum gosto da audição infinita. Nenhuma deambulação no mundo da música. Apenas o aspecto enciclopédico de quem tem uma estante com os livros essenciais, e os discos, e as reproduções, e os filmes. Em certa medida, é o saber que se joga contra a morte. Fazer uma colecção é impedir o sem limite da morte, é concentrar aquilo que na cultura nos irá proteger. Seja coleccionar moedas ou discos com a música que não se pode perder. Cada moeda perdida destrói-nos um pouco mais. Uma moeda, uma letra, um som. »
O comprador de sábado que está antes de mim analisa as diversas ofertas e diz: "Chopin? Já tenho!" Nem se dignou a ver o que se tocava, nem quais eram os intérpretes. Viu Chopin e concluiu de imediato: já tenho.
É interessante notar o que está aqui em jogo: o prazer da colecção. Mas não só. O que este comprador pretende é ter qualquer coisa que lhe dê a sensação de que o mundo todo do saber e do prazer da música está à sua disposição. Coleccionar é poder reunir aquilo que figuras desconhecidas nos dizem ser o essencial. O resto é secundário. Nenhum prazer da descoberta. Nenhum gosto da audição infinita. Nenhuma deambulação no mundo da música. Apenas o aspecto enciclopédico de quem tem uma estante com os livros essenciais, e os discos, e as reproduções, e os filmes. Em certa medida, é o saber que se joga contra a morte. Fazer uma colecção é impedir o sem limite da morte, é concentrar aquilo que na cultura nos irá proteger. Seja coleccionar moedas ou discos com a música que não se pode perder. Cada moeda perdida destrói-nos um pouco mais. Uma moeda, uma letra, um som. »