Losing my religion
Life is bigger
It's bigger than you
And you are not me
The lengths that I will go to
The distance in your eyes
Oh no I've said too much
I set it up
That's me in the corner
That's me in the spotlight
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh no I've said too much
I haven't said enough
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try
Every whisper
Of every waking hour I'm
Choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt lost and blinded fool
Oh no I've said too much
I set it up
Consider this
The hint of the century
Consider this
The slip that brought me
To my knees failed
What if all these fantasies
Come flailing around
Now I've said too much
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try
But that was just a dream
That was just a dream
R.E.M.
corre. vem. daí.
nenhum poema cabe a esta hora. algum som. voz. nada. porque é hora. é a hora.
soa real. dito assim. assim tão de voz. do alto. alto. é a hora. é a hora.
falta poucas horas, que, a esta distância, desta distância. não. não faltam horas. é a hora. vem. é hora. uma hora. aquecemos o lado um ao outro e mudamos de lugar. é a hora.
.beyond form, Konrad Zagloba
carne, também canhão
os mesmos corpos. são os mesmos corpos. sorveram o que haviam a sorver. sorveram o que havia a sorver. e vêm. os corpos vêm. macilentos. os corpos vêm. vêem. vejam, fedorentos. os corpos. vivos. vivos. sangradouras. as mentes. as vozes das gargantas não são vozes. as gargantas não têm voz. há buracos. e canais. directos, à árvore de ar. com ar. para o ar. respirar. enquanto jamais se volta a soltar um grito grito. são os ditos, os verdadeiros, gritos silenciosos. fora urgente silenciá-las, às gargantas.
«Quando
as veias dos mortos fazem um nó vivo
com as minhas veias,
a voz
costura-se com as linhas de sangue
da sua fala.»
Herberto Helder
By This River
Here we are
Stuck by this river,
You and I
Underneath a sky that's ever falling down, down, down
Ever falling down.
Through the day
As if on an ocean
Waiting here,
Always failing to remember why we came, came, came:
I wonder why we came.
You talk to me
as if from a distance
And I reply
With impressions chosen from another time, time, time,
From another time.
Brian Eno
Stuck by this river,
You and I
Underneath a sky that's ever falling down, down, down
Ever falling down.
Through the day
As if on an ocean
Waiting here,
Always failing to remember why we came, came, came:
I wonder why we came.
You talk to me
as if from a distance
And I reply
With impressions chosen from another time, time, time,
From another time.
Brian Eno
a minha avó, a minha mãe e eu
É inevitável, não vale a pena pensar, não vale a pena não pensar. Todos os 23 de Dezembro acontece a mesma coisa. Acordo, abro os olhos e lágrimas correm. Lembro-me dela. Maria de Jesus Ferreira. A minha avó velhinha. Conheci-a quando tinha 4 anos, é uma história de amor à primeira vista.
Maria de Jesus Ferreira não foi à escola, casou, foi viver para uma aldeia longe da sua, teve seis filhos, 3 rapazes e 3 raparigas. Viveu traições, viveu a Poliomielite duradoura do seu filho A. (meu pai), viveu a esquizofrenia do seu filho J., viveu a morte da sua filha mais nova, aos 9 anos, viveu. Era uma mulher profundamente triste à qual era possível ouvir gargalhadas sonoras aquando momentos de humor. Com a minha avó, aprendi os silêncios. E o sorriso após o silêncio. Brincávamos, organizava baptizados às minhas bonecas, fazia-lhes vestidos, aliás, fazia o enxoval todo, ainda tenho a colcha e os lençóis que me fez. Fazíamos romarias a fingir. Levava-me para o jardim de rosas que tinha no meio da vinha e ajudava-me a escolher rosas para fazermos ramos para a minha mãe. Apanhávamos figos. Gostava particularmente quando ela fazia pão com sardinhas na casa do forno, ou quando fazia cevada na bilha de barro, ao lume, e lhe punha uma brasa dentro. Eram dias seguros e felizes. Às vezes, eu pedia-lhe para me mostrar as coisas da tia. Uma espécie de memorial para a sua filha morta. Lá íamos, com o ar solene devido ao momento. Desfazia os laços brancos que fechavam cada um dos saquinhos e ia explicando, os livros da escola, as botas, o vestido da primeira comunhão, a ardósia. Sorria. E ficávamos em silêncio. As mãos dela voltavam a fazer laços, cuidadosamente. E ficávamos em silêncio.
A minha avó dava-nos a bênção.
A minha avó fazia-nos sentir, a cada um, filhos e netos, que somos especiais, mas nunca nos fez sentir que somos os mais especiais. Nunca tive ciúmes dos meus primos e estou certa que o mesmo aconteceu com eles. Não convivia na aldeia, nunca se lhe ouvia comentários acerca de vidas alheias. À medida que fui crescendo, fui, naturalmente, percebendo a vida dela enquanto, eu própria, mulher. O meu amor por aquele ser cresceu sempre. Quando a vida me contrariava, fugia para ela e agarrávamo-nos as mãos uma da outra, em forma de conchas.
Comecei a usar carrapito para poder parecer um pouco como ela. Nunca deixei de ter uma saia plissada no meu guarda-roupa. Quando ia lá a casa, pedia-lhe sempre para me mostrar o seu xaile. Um xaile enorme, azul-escuro, de pelúcia. Está aos pés da minha cama e, nas noites de desalento, é o que uso para combater o frio interior. Outra coisa que calhou em partilhas ao meu pai foi a sua cómoda do quarto, que agora habita o meu quarto. Nunca consegui raspar um pouco de cera que fosse da cómoda, porque, no dia em que decidi fazê-lo, ao retirar o papel duma das gavetas dei com escritos a lápis onde se lê, em caligrafia de criança, “ Maria do Céu”, o nome da sua filha morta, saberia a minha avó que aquilo estava ali escrito? Assim, arrumei as minhas ferramentas de restauradora de móveis.
Um dia, o telefone tocou e eu ouvi as palavras, a avó morreu. No simbólico dia da mãe de 1999.
Pus as minhas mãos sobre as dela, mas eram frias. A avó morreu. Já não posso estar com a avó velhinha sempre que quiser. Quisera que a minha avó vivesse para sempre.
Como todas as crianças que gostam de ouvir histórias sobre a sua existência, eu gostava quando me contava sobre o dia do seu 60º aniversário, em que lhe nasceu esta neta.
É hoje, o dia do nosso aniversário, fiz um carrapito, vesti a minha saia plissada. Comecei o dia triste, pensando, fatalmente, que o máximo que posso fazer, é contar um pouco sobre quem foi essa mulher e pôr flores brancas sobre um túmulo de mármore preto. Talvez seja. Voltei atrás, antes de sair de casa, soltei o cabelo e vesti as eternas calças de ganga. Falei com a minha mãe e agradeci-lhe a vida. Neste momento, sinto-me cheia por dentro, por ter tido o privilégio de ser neta de Maria de Jesus Ferreira.
Maria de Jesus Ferreira não foi à escola, casou, foi viver para uma aldeia longe da sua, teve seis filhos, 3 rapazes e 3 raparigas. Viveu traições, viveu a Poliomielite duradoura do seu filho A. (meu pai), viveu a esquizofrenia do seu filho J., viveu a morte da sua filha mais nova, aos 9 anos, viveu. Era uma mulher profundamente triste à qual era possível ouvir gargalhadas sonoras aquando momentos de humor. Com a minha avó, aprendi os silêncios. E o sorriso após o silêncio. Brincávamos, organizava baptizados às minhas bonecas, fazia-lhes vestidos, aliás, fazia o enxoval todo, ainda tenho a colcha e os lençóis que me fez. Fazíamos romarias a fingir. Levava-me para o jardim de rosas que tinha no meio da vinha e ajudava-me a escolher rosas para fazermos ramos para a minha mãe. Apanhávamos figos. Gostava particularmente quando ela fazia pão com sardinhas na casa do forno, ou quando fazia cevada na bilha de barro, ao lume, e lhe punha uma brasa dentro. Eram dias seguros e felizes. Às vezes, eu pedia-lhe para me mostrar as coisas da tia. Uma espécie de memorial para a sua filha morta. Lá íamos, com o ar solene devido ao momento. Desfazia os laços brancos que fechavam cada um dos saquinhos e ia explicando, os livros da escola, as botas, o vestido da primeira comunhão, a ardósia. Sorria. E ficávamos em silêncio. As mãos dela voltavam a fazer laços, cuidadosamente. E ficávamos em silêncio.
A minha avó dava-nos a bênção.
A minha avó fazia-nos sentir, a cada um, filhos e netos, que somos especiais, mas nunca nos fez sentir que somos os mais especiais. Nunca tive ciúmes dos meus primos e estou certa que o mesmo aconteceu com eles. Não convivia na aldeia, nunca se lhe ouvia comentários acerca de vidas alheias. À medida que fui crescendo, fui, naturalmente, percebendo a vida dela enquanto, eu própria, mulher. O meu amor por aquele ser cresceu sempre. Quando a vida me contrariava, fugia para ela e agarrávamo-nos as mãos uma da outra, em forma de conchas.
Comecei a usar carrapito para poder parecer um pouco como ela. Nunca deixei de ter uma saia plissada no meu guarda-roupa. Quando ia lá a casa, pedia-lhe sempre para me mostrar o seu xaile. Um xaile enorme, azul-escuro, de pelúcia. Está aos pés da minha cama e, nas noites de desalento, é o que uso para combater o frio interior. Outra coisa que calhou em partilhas ao meu pai foi a sua cómoda do quarto, que agora habita o meu quarto. Nunca consegui raspar um pouco de cera que fosse da cómoda, porque, no dia em que decidi fazê-lo, ao retirar o papel duma das gavetas dei com escritos a lápis onde se lê, em caligrafia de criança, “ Maria do Céu”, o nome da sua filha morta, saberia a minha avó que aquilo estava ali escrito? Assim, arrumei as minhas ferramentas de restauradora de móveis.
Um dia, o telefone tocou e eu ouvi as palavras, a avó morreu. No simbólico dia da mãe de 1999.
Pus as minhas mãos sobre as dela, mas eram frias. A avó morreu. Já não posso estar com a avó velhinha sempre que quiser. Quisera que a minha avó vivesse para sempre.
Como todas as crianças que gostam de ouvir histórias sobre a sua existência, eu gostava quando me contava sobre o dia do seu 60º aniversário, em que lhe nasceu esta neta.
É hoje, o dia do nosso aniversário, fiz um carrapito, vesti a minha saia plissada. Comecei o dia triste, pensando, fatalmente, que o máximo que posso fazer, é contar um pouco sobre quem foi essa mulher e pôr flores brancas sobre um túmulo de mármore preto. Talvez seja. Voltei atrás, antes de sair de casa, soltei o cabelo e vesti as eternas calças de ganga. Falei com a minha mãe e agradeci-lhe a vida. Neste momento, sinto-me cheia por dentro, por ter tido o privilégio de ser neta de Maria de Jesus Ferreira.
Solstício de Inverno
enquanto o dia corre........... que eu não fique alagada
escusada por entre feixes de nevoeiro
.
.
que eu nada alagasse que eu nada alagasse que eu nada alagasse
19 de Dezembro
os dias passavam. marcámos a data para o fim. faltavam 9 dias. sabíamos que era um fim.
lugar comum: o mundo continuava em movimento.
lugar comum: o mundo continuava em movimento.
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Well, you're my friend
And can you see
Many times we've been out drinking
Many times we've shared our thoughts
Did you ever, ever notice, the kind of thoughts I got
Well you know I have a love, for everyone I know
And you know I have a drive, for life I won't let go
But sometimes this opposition, comes rising up in me
This terrible imposition, comes blacking through my mind
And then I see a darkness
Oh no, I see a darkness
Do you know how much I love you
Cause I'm hoping some day soon
You'll save me from this darkness
Well I hope that someday soon
We'll find peace in our lives
Together or apart
Alone or with our wives
And we can stop our whoring
And draw the smiles inside
And light it up forever
And never go to sleep
My best unbeaten brother
That isn't all I see
And then I see a darkness
Oh no, I see a darkness
Do you know how much I love you
Cause I'm hoping some day soon
You'll save me from this darkness
Will Oldham aka Bonnie Prince Billy
pinturas de Jean Rustin
[ silent night ] [ all is calm ] [ all is bright ] [ all is ]
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros
Que contem passo por passo
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
Meu tempo
É quando...
Vinicius de Moraes
e se
de mãos dadas. a tua mão tivesse liberdade e se apoiasse na minha anca. eu olhasse e se eu visse. tempo para que as nossas bocas - a tua boca - a minha boca -. até aos dias do beijo. o espanto dos corpos. primeira vez nus. tu olhasses e se eu visse. referências comuns mas não vulgares às sombras na parede ao ritmo ao balanço à força à força e à sede o querer-te dizer-te desejar-te gritar-to. e se.
DUAL
[ stillness ] [please ] [ it said ]
(...)
filha: vemo-nos amanhã. beijo
mãe: espera, o pai quer falar contigo
pai: está?
filha: olé!
pai: olha... tenho saudades tuas, quero ver-te
filha: eu também, vemo-nos amanhã
mãe: espera, o pai quer falar contigo
pai: está?
filha: olé!
pai: olha... tenho saudades tuas, quero ver-te
filha: eu também, vemo-nos amanhã
pai: eu sei, mas queria dizer-te, quero ver-te
.
no rescaldo... de um dia de desalento e frustração, o exercício para não desanimar, depois o outro exercício e outro, e a capacidade para os desmoralizar. pois não é de exercícios que se fala, são formas de expressão seilá seilá yadda yadda. para a honestidade, é importante referir que não são formas de expressão, são tentativas seilá seilá yadda yadda das formas de sentir.
.
matamos saudades? dizemos olá. dizemos gosto de ti. partilhamos monólogos de novidades. morre um pouco (só um pouco) da saudade.
.
o dia ali estava, e corria. se era de si, se era do dia que corria, não sabia, estranhava aquela dor (chamar-lhe-emos dor). quisera que fosse possível prosseguir com as rotinas sem proferir palavra, ao primeiro "bom dia" a que se vira obrigada, percebeu que não seria então o seu dia de repouso vocal. fechar os olhos seria demasiada ambição. desejou que o corpo não reclamasse aos gritos. suplicou-lhe que se acalmasse. não ouvira. instinto de responder às sensações.se bateu, o coração não soube se foi sincrónico ou arrítmico. talvez estivesse parado. todo o sistema vermelho recolhido. nada de azul se vislumbrou pelas mãos. não brincou com as palavras. mas sobreviveu à eterna sensação de estar tudo errado. impropérios. indignidade. a sensação inoportuna de qualquer coisa ser legítima. impropérios. repetiu impropérios.
o ruído de fundo tornou tudo mais confortável. sim, sabes o quanto me apeguei ao conforto. ainda agora, escrevo com o xaile da minha avó sobre os ombros. foi perfeito, na felicidade imaginada, não me esqueci do lusco-fusco. os teus gestos quase me faziam implorar pára. continua.
.
.
.
um dia dissera saberei gritar
[ replay ]
Memória dos Dias
Vais e vens na memória dos dias
onde o amor
cerciu a casa de luz matutina.
Às vezes sabíamos de ti pelo aroma
das glicínias escorrendo no muro,
outras pelo rumor do verão rente
ao oiro velho dos plátanos.
Vais e vens. E quando regressas
é o teu cão o primeiro a sabê-lo.
Ao ouvi-lo latir, sabíamos que contigo
também o amor chegara a casa.
Eugénio de Andrade
Vais e vens na memória dos dias
onde o amor
cerciu a casa de luz matutina.
Às vezes sabíamos de ti pelo aroma
das glicínias escorrendo no muro,
outras pelo rumor do verão rente
ao oiro velho dos plátanos.
Vais e vens. E quando regressas
é o teu cão o primeiro a sabê-lo.
Ao ouvi-lo latir, sabíamos que contigo
também o amor chegara a casa.
Eugénio de Andrade
PELE
Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele
David Mourão-Ferreira
Como se é feliz na felicidade imaginada de quando se imagina que se foi. *
« Nunca foste natural até à naturalidade em que existia o teu corpo visível e tocável e redutível ao imediato da fisiologia. Porque essa mesma fisiologia te era como se a furtasses ao meu domínio e conhecimento, mesmo quando te conhecia desde a fluidez íntima de ti, do mais recôndito e proibido de ti. Qualquer coisa me furtavas sempre e ficavas inteira na tua inviolabilidade reclusa, no teu mistério por desvendar e eu não sabia o que era. Qualquer coisa que te restabelecia na distância de ti a que eu nunca poderia aceder, que te reservavas para ti, para a tua independência e a minha dolorosa sedução. »
in Para Sempre de Vergílio Ferreira (*)
.
.
dias de contentamento: sentar no chão, junto aos livros lidos, sem saber dos relógios, reler sublinhados
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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.
Alberto Carneiro