ninguém suportaria ver uma criança a chorar. começa o ano, e fazendo um zapping pelos canais de informação encontramos viagens entre as imagens do sudoeste asiático e os balanços da tragédia política nacional, seguidos da aterradora previsão para 2005. mas as imagens da criança a chorar impedem qualquer concentração nos debates sobre a situação do Estado. é claro que não estou a fazer nenhum resumo filosófico sobre a existência. estou apenas a teclar porque é uma tarefa que se apresenta possível. fui ver o polar express e correram-me lágrimas pela face, dei algumas risadas, depois comecei a pensar nas mensagens que enviam às crianças, até que cheguei a um pensamento mais pessoal, reparei, para que serve o Natal, porque não sou diferente dos middle class people a que pareço pertencer, percebi. o Natal serve para reforçar a memória do dia em que escolhi a vida sem vós. reavivar a imagem de crianças a chorar. lembrar que não ressuscitei, apenas vou reanimando partes de mim. talvez isto seja mesmo um palco. a verdade está morta.