la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

o meu tio Zé


era o tontinho da terra. em pequeno, segundo o meu pai, no quarto onde dormiam - que era um curral, as meninas dormiam dentro de casa, os rapazes no curral, para aprenderem o que é ser homem - pois, acordava a meio da noite com o meu tio sentado na manjedoura a balançar-se para a frente e para trás, o meu pai deitava-o e ele logo sossegava. assim que chegou à escola, decidiu-se que o meu tio Zé era um génio, não iria para as obras com o meu pai e o meu tio Acácio, iria para o liceu. foi. tornou-se o contabilista da empresa do meu avô. (o meu pai fugiu para França, o seu não à tropa, ao Ultramar; o meu tio Acácio foi à tropa) entretanto o meu tio Zé decidiu que queria ir descobrir as maravilhas de África, contra vontade do meu avô. foi. voltou passados alguns anos. qualquer coisa não tinha mudado no meu tio Zé, mas tinha-se manifestado, tinha-se instalado. o meu tio Zé deixou de obedecer às nossas regras. foi. por isso, passou a ser o tontinho da terra. andava de sobretudo preto, com sacos de plástico, fazia ginástica no jardim municipal pela manhã (mente sã em corpo são). o meu avô chegou a levá-lo a um psiquiatra, mas o meu tio Zé cortou-lhe o divã todo com uma navalha. foi. não voltou. o meu tio Zé não era uma pessoa violenta. era um senhor, era uma pessoa gentil, gostava de pessoas mas não colaboraria com elas, jamais. cumprimentava-o com dois beijos na face, de cada vez que passava pelo jardim, e ele perguntava a menina vai bem? e os estudos? os meus cumprimentos ao paizinho e à mãezinha. era o meu tio Zé. (continua)

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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro