la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

mas o beijo é tão efémera tatuagem *

d'A Cobrição das Filhas de Valter Hugo Mãe,
onde, no posfácio de Luís Adriano Carlos se lê «A existência é uma ganadaria e um açougue, eis a leitura mais óbvia.»
« levamos a cruz ao peito
até onde a sombra nos respeita
o luto, deixamos os filhos
abertos ao sol e gritamos, como
se a morte nos ganhase medo
e os filhos fortalecessem a
partir da fúria, sempre por perto uma
presença estranha, dizemos
que deus seja louvado

e os filhos calam-se
lábios fechados, perante o
nosso olhar, como
uma mudez que lhe seguramos
pela mão

juntamos as nossas coisas onde
densamente fazemos os nossos
mortos comparecer, e
através da saudade seguramos
a ubiquidade do amor
para suportar, mais tarde, o enfraquecimento
radial dos corações »
« por vezes vem alguém
que consegue abrir
uma frase em cima
das nossas cabeças, escurece
lentamente nesses dias »
« vemo-lo dia a dia, fechamos
a boca como ameaça de voz, abrimos a
casa e escutamos o rebanho
enaquanto ele tinge
o chão, assegura-se
da solidão e descansa »
« ainda pensamos no amor,
quase só atiçando no
corpo uma loucura pelo
seu próprio coração »
« gritamos em erupção
persuadidas pelo ventre que
nos imagina os filhos, e
recebemos o silêncio pênsil dessa
angústia, com o corpo muito
só em redor da casa, o
chão da cozinha ainda
húmido, as portas abertas por
onde a aragem da tarde
cata a nossa voz e empurra
as vizinhas »
« é possível que o mundo se
instale aos nossos pés
no momento em que o risco de
um fósforo se damarcar na
escuridão e o baço
clarão de luz editar os
objectos
então, invadiremos o
encanto numa profusão
de corpos e seremos uma
oferenda para o nosso
próprio esplendor
temos as sobrancelhas largas
como um jugo sobre os
olhos, um olhar esboroado
que nos medeia na morte,
partilhamos as ausências, uma
distância como espessura
à qual não somos transponíveis,
e deixamo-nos furos, poços,
para onde nos
atiramos violentamente, ou os gestos
muito pequenos condenados às
imediações do corpo »
* verso de Valter Hugo Mãe

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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro