la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

A INVENÇÃO DO DIA CLARO



«O LIVRO

Entrei numa livraria. Puz-me a contar os livros que ha para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas bem vestidas de quem precisa salvar-se.

* * *

Comprei um livro de filosofia. Filosofia é a sciencia que trata da vida; era justamente do que eu necessitava - pôr sciencia na minha vida.
Li o livro de filosofia, não ganhei nada, Mãe! não ganhei nada.
Disseram-me que era necessario estar já iniciado, ora eu só tenho uma iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo á imagem e semelhança de Deus. Não basta?

* * *

(...)

Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade.

(...)

A INVENÇÃO DO DIA CLARO


I PARTE


(...)

VALOR DAS PALAVRAS

Ha palavras que fazem bater mais depressa o coração - todas as palavras - umas mais do que outras, qualquer mais do que todas. Conforme os logares e as posições das palavras. segundo o lado d'onde se ouvem - do lado do sol ou do lado onde não dá Sol.
Cada palavra é um pedaço do universo. Um pedaço que faz falta ao universo. todas as palavras juntas formam o Universo.

As palavras querem estar nos logares!

NÓS E AS PALAVRAS

Nós não somos do século d'inventar as palavras. as palavras já foram invetadas. Nós somos do século d'inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.

(...)

UMA CRUZ NA ENCRUZILHADA

(...)
A cada um que passava dizia o Christo de pedra:

«em vez de ter morrido n'uma cruz, por ti, antes tivesse pegado na lança que me abriu o peito, para com ella te rasgar os olhos da cara. Para deixar entrar claridade para dentro de ti pelos buracos dos teus olhos rasgados.
(...)
«Não posso, por mais que tente, livrar um das mãos, pregaram-m'as bem, como se prega um crucificado; não posso, por mais que tente, livrar uma das mãos, para te sacudir a cabeça quando vieres ajoelhar-te aqui aos pés da minha cruz.
(...)
... um dia a loucura virá plo seu proprio pé bater á tua porta, e tu, desprevenido, e tu sem mãos para a esganar, porque a loucura já será maior do que na palma da tua mão, porque a loucura será maior do que as tuas mãos, porque a loucura poderá mais do que tu com as tuas mãos; e ella fará de ti o pior de todos, por não teres sabido servir-te d'ella como tu devias sabe-lo querer!

(...)

II PARTE


A VIAGEM
ou
O QUE NÃO SE PODE PREVÊR


EU

Quando digo Eu não me refiro apenas a mim mas a todo aquelle que coubér dentro do geito em que está empregado o verbo na primeira pessoa.

(...)

RETRATO DA ESTRELA QUE GUIOU O FILHO PRÓDIGO NA VOLTA Á CASA PATERNA

(...)

A larangeira ao pé da nora já me conhecia - punha-se a fingir que era o vento que a fazi mexer.

* * *

(...)

estou a espera de ser grande para ver se o que eu penso é verdade ou não. Se não fôr, mato-me!

(...)»

José de Almada-Negreiros

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro