la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

as coisas que escondemos de nós

é uma rotina simples, antes de entrar sento-me no banco de pedra do homem gordo de transpiração catinguenta e sandálias com meias brancas, fumo dois cigarros, olho o parque eólico ao fundo, na Serra da Lousã, e faço aquilo que só hoje percebi que é uma espécie de oração, só hoje percebi que, repito, faço uma espécie de oração antes de chegar aos meus clientes. que ninguém se espante, mais espantada estou eu.

(ecos)

depois deste concerto o piano nunca mais foi o mesmo, funciona como uma obsessão; desde então (não direi se para sempre), ao ouvir peças para piano, faço uma miscelânea mental, transformo as obras em caos.

está quase

vou seguir o conselho dela; quero aprender, já vi vídeos cuja conta lhes perdi, já passei por livros de técnicas, não fui a aulas; o meu livro de esboços continua a crescer em projectos; apetece-me deixar de dizer as coisas em acrílico, voltar aos óleos (mas é um tempo em que o orçamento diz que não); vou olhar os outros e tentar repetir o que disseram, talvez um dia eu sinta que manuseio, por enquanto, tento não olhar as minhas mãos de cada vez que se aproximam da tela porque me assusta. (começarei com Franzi do Kirshner, já estou a tremer de pensar no verde)

está quase

« a margem dum livro é também uma página »

duas ou três coisas sobre o meu parque eólico interior

é sempre o vento que me desarma; anseio por continuar a leitura de D. Quixote; é no mar.
Offshore wind turbines

saber (?)

quantos são? quantos são que têm consciência do peso que comporta uma criação judaico-cristã a ser, com lucidez, deitada por terra? o mais revoltante são os momentos de recidiva.

Stairs


Barry Kapke

distraí-me

não sei há quantos anos o Sábado deixou de ter o "Saturday Night Fever" status para mim. (os meus anos não são assim tantos) havia rituais relacionados ao mesmo, jantar fora era certo, deitar tarde também era certo. os meus anos não são assim tantos, mas. na medida do possível, passei a fugir dos locais onde é certa a concentração de pessoas. não, não falo de fobia, penso eu. passei a estar alerta para determinados pormenores. cinema: à Segunda-feira não, porque é dia de desconto, significa multidão; ao Sábado não, porque também significa multidão; de preferência durante a semana em sessões da tarde ou meia-noite, a primeira sessão de Domingo também não é má. restaurantes: só de Segunda a Quinta-feira. compras: mercearia do bairro e, se necessário ir ao supermercado, num dia de semana até às 5 pm; se tiver de comprar roupa e afins, é mais sério e terá de ser estudado caso a caso; nesta coisa que respeita a compras o importante é que, mais coisa, menos coisa, sei sempre o que quero antes de chegar ao local de aquisição, o que diminui substancialmente o tempo de permanência nos locais de comércio. livraria, biblioteca e exposições aplica-se, ironicamente, a mesma regra que para o supermercado, num dia de semana até às 5 pm. passeios: se o faço ao fim de semana, aplicarei a regra inversa do habitual relativo ao local a visitar. então, o Sábado passou a ser um dia muito diferente de há uns anos para cá. hoje (esta noite) esqueci-me, ia a caminho do cinema quando me surgiu a imagem de Sábado à noite, não cheguei à Avenida, parei a tempo de um cafézinho e dois dedos de conversa calmos no Sta Cruz. voltei a casa para mais uma volta ao jornal, consegui ver o eixo do mal, peguei no livro, fui aos sites que levam mais tempo em consulta. a minha memória lembrou-me a tempo, ainda bem, eu gosto assim.

não chabo.

aos 21 meses, a minha sobrinha brinca com os verbos, faz exclamações cheias de vida que por vezes repete até perceber que acertou
- quando acorda exclama: acodi!... acodô!... acodi!... acodei! (e um sorriso)
- quando mexe nas plantas da avó: méxo, méxo... mêxo! (e um olhar de lado)
- quando acaba de comer: comeu!... tudo! comeu!... comi!... (e a ordem: quer ir para o chão)
- quando enfrenta a realidade de não saber a resposta a uma pergunta: não chabo. (ponto final, não sabe e é isso que toma conta dela no momento, não há cá tentativas de conjugação verbal)

expressões que mexem com os meus nervos

« porta-te bem »

expressões que mexem com os meus nervos

« porta-te mal »

expressões que mexem com os meus nervos

« para um mundo melhor »

Infrared 3


Barry Kapke

Infrared 2


Barry Kapke

poupemos energia

- e?
- e? o quê?
- o que dizes?
- er... seria demasiado estúpido evocar Sócrates neste momento!
- o quê?
- ... só sei que nada sei (!)
- de que nada falamos?
- vamos filosofar?!
- não, não gosto de Filosofia.
- bem me parecia que não
- desconversar também não
- também não, posso sempre fazer um chá, de tomilho, sêco por mim, com limão, do limoeiro da minha bisavó, e mel, dos Açores. que te parece, um chá com estilo? sirvo-to nos meus copos de barro
- pode ser, e depois, ou durante, o chá, que fazemos?
- não complicamos.

silly


o meu tio Zé


era o tontinho da terra. em pequeno, segundo o meu pai, no quarto onde dormiam - que era um curral, as meninas dormiam dentro de casa, os rapazes no curral, para aprenderem o que é ser homem - pois, acordava a meio da noite com o meu tio sentado na manjedoura a balançar-se para a frente e para trás, o meu pai deitava-o e ele logo sossegava. assim que chegou à escola, decidiu-se que o meu tio Zé era um génio, não iria para as obras com o meu pai e o meu tio Acácio, iria para o liceu. foi. tornou-se o contabilista da empresa do meu avô. (o meu pai fugiu para França, o seu não à tropa, ao Ultramar; o meu tio Acácio foi à tropa) entretanto o meu tio Zé decidiu que queria ir descobrir as maravilhas de África, contra vontade do meu avô. foi. voltou passados alguns anos. qualquer coisa não tinha mudado no meu tio Zé, mas tinha-se manifestado, tinha-se instalado. o meu tio Zé deixou de obedecer às nossas regras. foi. por isso, passou a ser o tontinho da terra. andava de sobretudo preto, com sacos de plástico, fazia ginástica no jardim municipal pela manhã (mente sã em corpo são). o meu avô chegou a levá-lo a um psiquiatra, mas o meu tio Zé cortou-lhe o divã todo com uma navalha. foi. não voltou. o meu tio Zé não era uma pessoa violenta. era um senhor, era uma pessoa gentil, gostava de pessoas mas não colaboraria com elas, jamais. cumprimentava-o com dois beijos na face, de cada vez que passava pelo jardim, e ele perguntava a menina vai bem? e os estudos? os meus cumprimentos ao paizinho e à mãezinha. era o meu tio Zé. (continua)

para o início de semana


ARREPIO NA TARDE


« Não sei quem, nem em que lugar,
mas alguém me deve ter morrido.
Senti essa morte num arrepio da tarde.
Qualquer amigo, um dos vários
que não conheço e só a poesia
sustenta. Talvez a morte fosse
outra: um pequeno réptil
no sol súbito e quente de Março
esmagdo por pancada certeira;
um cão atropelado por um bruto
que, ao volante, se julga um deus
de arrabalde, com sucesso garantido
junto de três ou quatro putas de turno.
Talvez a de uma estrela, porque também
elas morrem, também elas morrem. »


Eugénio de Andrade


estava em casa

foi um sonho, eu procurava casa, em Lisboa, não sei porquê alguém simpatizou comigo e deu-me um contacto muito dífícil, do dono dumas casas no Castelo de São Jorge, fui ver a casa e sei, no sonho - sabia, que ia sentir-me em casa, eram construções medievais e eu só tinha dois vizinhos,
pensei os tais mendigos e altivos; foi só um sonho, mas quis e encontrei esta janela que não foge muito à realidade das imagens que sonhei

Ah! nunca fui ao Castelo de São Jorge!


não vou dizer esta expressão


Rodin

«O hermetismo do pensamento tornara-se a única protecção contra a tirania.»*

« As suas personagens femininas são sempre muito jovens.

É porque gosto dos seres jovens, os adultos chateiam-me. Para mim, quando os adultos não são umas bestas, são uns néscios; essas bestas são uns néscios e não me interessam. Os seres jovens são ainda entusiastas {…}. Não é por causa da sexualidade que gosto dos jovens, é antes por aquilo que representam. Não posso entender-me, por exemplo, com uma mulher de trinta anos. Não quer dizer que já não seja desejável, atraente, o que acontece é que, passados cinco minutos, zango-me com ela: já tem a televisão, o frigorífico, a máquina de lavar, todas essas coisas, já conheceu, antes de mim, uns bons dez tipos que eram uns medonhos cretinos, os quais a ensinaram a raciocinar, isto é, coisíssima nenhuma. »

entrevista de Claude Scmitt a Albert Cossery, mensário Matulu, Setembro de 1973,

in Mendigos e Altivos de Albert Cossery (Antígona)

* in Mendigos e Altivos de Albert Cossery

Ó piano de areia movediça *

X

Sobre mim cavalgas

cingindo-me os flancos

Colhes à passagem

a luz do instante//

De dentes cerrados

ondulas avanças

retesas os braços

comprimes as ancas//

Depois para a frente

inclinas-te olhando

o que entre dois ventres

ocorre entretanto//

e o próprio galope

em que vais lançada

Que lua te empolga

Que sol te embriaga//

Lua e sol tu és

enquanto cavalgas

amazona e égua

de espora cravada//

no centro do corpo

Centauresa alada

com os seios soltos

como feitos de água//

Queria bebê-los

quando mais te dobras

Os cabelos esses

sorvê-los agora//

Mas de cada vez

que o rosto aproximas

já é outra sede

que nos queima a língua//

A de nos teus olhos

tão perto dos meus

descobrir o modo

de beber o céu

David Mourão-Ferreira in Música de Cama

* verso de david Mourão-Ferreira

enquanto não é Sábado

Balthuserotic1.jpg

The White Skirt, Balthus

quero que o meu Sábado seja assim

é aqui que podemos ir curtir os resultados da Lomopatia que assolou a silenciosa

tintas: Jean Rustin

Jean Rustin plays Bach in his studio. Photo: Manuel Toledo.
Jean Rustin´s studio. 2002. Photo: Manuel Toledo.

tintas: Balthus

balthus.jpg (19430 bytes)


o diabo a sete - qual é o nº deste take?

imagem banal? a tua mulher, a tua filha carregando outro neto e a tua neta em casa, as três de avental, a fazer bolinhos de chá como que num ritual para oferendas a um qualquer deus, ou deusa, ou deuses em troca da certeza da tua saúde. olho para ti e penso que neste mau olhado mundo talvez hajam homens com razões para querer viver. eu, às vezes, só sei que gosto de tambores. batuques. muito. também é verdade que gosto que me cantem histórias. e sei que os mesmos erros que fiz à primeira vez, farei à segunda e à terceira, que também tem vez, os mesmos erros. será assim: chegas-te à porta com um sorriso, sorriso preparado cerca de 2 metros antes da tua chegada, estarei distraída e quando levantar a cabeça também esboçarei um sorriso. claro que serei desmascarada pelo meu olhar, de outra forma não poderia ser (pois, se tu o conheces desde o dia em que nasci). estou com medo. alguma vez te disse que gosto de tambores? mas não receies, que a tua concertina é a eleita daquilo a que chamo o meu coração.

tréguas

por vezes, a necessidade de um presente, como que numa proposta de tréguas com nós próprios

somos poços na imagem

« em dias de feira, dez
andorinhas, o sol populado, as
galinhas cacarejam no
terceiro, a torre da igreja segura
o céu como um papagaio
de papel e de venta, nós as viúvas
somos poços na imagem, discretas, ansiando
voltar a casa e cozinhar a
dor mastigada entre a
cabidela como coalho de
sangue, nos dias de feira
também enterramos aqueles que
obrigam a um maior sofrimento,
os putos a mastigar
figos roubados, as peles
no chão »
Valter Hugo Mãe in "A Cobrição das Filhas"
para ti
que este poema contenha a palavra andorinha é uma mera coincidência no meio das outras palavras combinadas que, por criação do Valter Hugo Mãe, te quero dar

mas o beijo é tão efémera tatuagem *

d'A Cobrição das Filhas de Valter Hugo Mãe,
onde, no posfácio de Luís Adriano Carlos se lê «A existência é uma ganadaria e um açougue, eis a leitura mais óbvia.»
« levamos a cruz ao peito
até onde a sombra nos respeita
o luto, deixamos os filhos
abertos ao sol e gritamos, como
se a morte nos ganhase medo
e os filhos fortalecessem a
partir da fúria, sempre por perto uma
presença estranha, dizemos
que deus seja louvado

e os filhos calam-se
lábios fechados, perante o
nosso olhar, como
uma mudez que lhe seguramos
pela mão

juntamos as nossas coisas onde
densamente fazemos os nossos
mortos comparecer, e
através da saudade seguramos
a ubiquidade do amor
para suportar, mais tarde, o enfraquecimento
radial dos corações »
« por vezes vem alguém
que consegue abrir
uma frase em cima
das nossas cabeças, escurece
lentamente nesses dias »
« vemo-lo dia a dia, fechamos
a boca como ameaça de voz, abrimos a
casa e escutamos o rebanho
enaquanto ele tinge
o chão, assegura-se
da solidão e descansa »
« ainda pensamos no amor,
quase só atiçando no
corpo uma loucura pelo
seu próprio coração »
« gritamos em erupção
persuadidas pelo ventre que
nos imagina os filhos, e
recebemos o silêncio pênsil dessa
angústia, com o corpo muito
só em redor da casa, o
chão da cozinha ainda
húmido, as portas abertas por
onde a aragem da tarde
cata a nossa voz e empurra
as vizinhas »
« é possível que o mundo se
instale aos nossos pés
no momento em que o risco de
um fósforo se damarcar na
escuridão e o baço
clarão de luz editar os
objectos
então, invadiremos o
encanto numa profusão
de corpos e seremos uma
oferenda para o nosso
próprio esplendor
temos as sobrancelhas largas
como um jugo sobre os
olhos, um olhar esboroado
que nos medeia na morte,
partilhamos as ausências, uma
distância como espessura
à qual não somos transponíveis,
e deixamo-nos furos, poços,
para onde nos
atiramos violentamente, ou os gestos
muito pequenos condenados às
imediações do corpo »
* verso de Valter Hugo Mãe

os olhos encaracolados de sonho *


« já não arrancam
pétalas às flores, as
meninas grandes devem
ser capazes de abrir
a boca sem deixar nenhum
dente cair »


Valter Hugo Mãe in "A Cobrição das Filhas"




* verso de Valter Hugo Mãe

A INVENÇÃO DO DIA CLARO



«O LIVRO

Entrei numa livraria. Puz-me a contar os livros que ha para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas bem vestidas de quem precisa salvar-se.

* * *

Comprei um livro de filosofia. Filosofia é a sciencia que trata da vida; era justamente do que eu necessitava - pôr sciencia na minha vida.
Li o livro de filosofia, não ganhei nada, Mãe! não ganhei nada.
Disseram-me que era necessario estar já iniciado, ora eu só tenho uma iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo á imagem e semelhança de Deus. Não basta?

* * *

(...)

Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade.

(...)

A INVENÇÃO DO DIA CLARO


I PARTE


(...)

VALOR DAS PALAVRAS

Ha palavras que fazem bater mais depressa o coração - todas as palavras - umas mais do que outras, qualquer mais do que todas. Conforme os logares e as posições das palavras. segundo o lado d'onde se ouvem - do lado do sol ou do lado onde não dá Sol.
Cada palavra é um pedaço do universo. Um pedaço que faz falta ao universo. todas as palavras juntas formam o Universo.

As palavras querem estar nos logares!

NÓS E AS PALAVRAS

Nós não somos do século d'inventar as palavras. as palavras já foram invetadas. Nós somos do século d'inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.

(...)

UMA CRUZ NA ENCRUZILHADA

(...)
A cada um que passava dizia o Christo de pedra:

«em vez de ter morrido n'uma cruz, por ti, antes tivesse pegado na lança que me abriu o peito, para com ella te rasgar os olhos da cara. Para deixar entrar claridade para dentro de ti pelos buracos dos teus olhos rasgados.
(...)
«Não posso, por mais que tente, livrar um das mãos, pregaram-m'as bem, como se prega um crucificado; não posso, por mais que tente, livrar uma das mãos, para te sacudir a cabeça quando vieres ajoelhar-te aqui aos pés da minha cruz.
(...)
... um dia a loucura virá plo seu proprio pé bater á tua porta, e tu, desprevenido, e tu sem mãos para a esganar, porque a loucura já será maior do que na palma da tua mão, porque a loucura será maior do que as tuas mãos, porque a loucura poderá mais do que tu com as tuas mãos; e ella fará de ti o pior de todos, por não teres sabido servir-te d'ella como tu devias sabe-lo querer!

(...)

II PARTE


A VIAGEM
ou
O QUE NÃO SE PODE PREVÊR


EU

Quando digo Eu não me refiro apenas a mim mas a todo aquelle que coubér dentro do geito em que está empregado o verbo na primeira pessoa.

(...)

RETRATO DA ESTRELA QUE GUIOU O FILHO PRÓDIGO NA VOLTA Á CASA PATERNA

(...)

A larangeira ao pé da nora já me conhecia - punha-se a fingir que era o vento que a fazi mexer.

* * *

(...)

estou a espera de ser grande para ver se o que eu penso é verdade ou não. Se não fôr, mato-me!

(...)»

José de Almada-Negreiros

A Barbie


Hoje vesti uma camisola de gola alta e um casaco de malha, ambos cor-de-rosa Barbie. Brinquei com ela, com o Ken também, as minhas Barbies tinham sempre filhos e não eram modelos fotográficos, eram professoras, veterinárias, executivas, etc. Ainda as guardo, algures. Não tenho o preconceito contra ela. Esta semana já é a segunda vez que a Barbie é evocada. A minha sobrinha telefonou-me: avó Bia deu bábi. Ok, não me preocupo com os efeitos que terá na formação das suas ideias, do seu carácter. Depois, sobre as reacções das Barbies que, aparentemente, «reagem esquisito ao toque». As minhas Barbies nunca me falaram mas eu punha-lhes as palavras na boca, tinham os lábios pintados, a mim nunca pareceu que me ficasse bem batôn ou qualquer outra maquilhagem. Embora silenciosas, hoje as Barbies parecem-me estar sempre a dar aqueles gritinhos coquette, absolutamente irritantes. Também me fazem lembrar esta canção dos Simply Red:

«I was listening to this conversation
Noticing my daydream stimulated me more
I was crumbling with anticipation
You better send me home before I tumble down to the
Floor

You’re so beautiful but oh so boring
I’m wondering what am I doing here
So beautiful but oh so boring, I’m wondering
If anyone out there really cares
About the curlers in your hair
My little golden baby, where have all your birds flown
Now?

Something’s glistening in my imagination
Motivating something close to breaking the law
Wait a mo before you take me down to the station
I’ve never known a one who’d make me suicidal before »


hoje n'aba de heisenberg

« O cartaz está feito para parecer que é do bloco de esquerda, mas não é. »
















« Aproveito para dizer que não estou nem nunca estive ligado a qualquer partido político, se isso interessa a alguém. »

hoje n'aba de heisenberg

« Nas minhas vãs tentativas de entender a natureza humana sempre fico abismada com o vandalismo, estragar pelo prazer de estragar. Principalmente essa estranha atracção por estragar o que é de todos, desde os quadros de um museu aos bancos de um jardim. »

Andava há imenso tempo para falar disto aqui, a Isabel tomou a iniciativa,
só queria sublinhar que reconheço a tentativa para sensibilizar os tais vândalos, mas também reclamo, sim, Isabel, também acho que a Casa da Cultura - Biblioteca, Fonoteca, Videoteca - deveria estar preparda para as substiuições, também não entendo o sistema de recolha do material, por mais de uma vez sinalizei material danificado e não percebi muito bem quais a diligências tomadas. Durante Novembro e Dezembro reli Quino, que não existe na íntegra na Biblioteca, e não houve um volume que não estivesse rasgado ou desenhado. Também gostaria de saber quando é que haverá fundos para actualizar a Biblioteca, da última vez que fui informada as publicações mais recebtes eram de 2002! Mais uma coisa, não percebo porque é que não nos emprestam os DVD's da Fonoteca e é hoje, sem falta, que segue a minha sugestão/solicitação.

hoje d'aba de heisenberg


I'm «Also known as an alley cat or a mutt».

What breed of cat are you?

para a vontade de dançar


obrigada, Armanda!

; )

Razão de Estado

« Eu vigio os teus passos
Com toda a discrição
Vejo o que fazes
És o objecto principal da minha atenção

Eu sou o intruso
Que a todo o momento
Controla o teu pensamento

Sou a razão de Estado
Tenho o teu processo arquivado
Sou a razão de Estado
Posso proporcionar-te um mau bocado

Eu conheço os segredos
Da tua intimidade
Sei que livros te interessam
E trabalho por conta da comunidade

Sou eu quem escreve
Dia após dia
A tua biografia

Nós vivemos em crise
E a nossa sociedade
Tem que ser protegida
Contra os malefícios da individualidade

Imponho a ordem
E repudio
O mais pequeno desvio
Sou a razão de Estado
Tenho o teu processo arquivado
Sou a razão de Estado
Posso proporcionar-te um mau bocado. »

Jorge Palma

mimosas



elas vêm aí, tirei esta daqui

Requiem Blue

Titan na ordem do dia

sim, «é inacreditável pensar naquilo que estamos a ver e ouvir, de um mundo a mais de uma hora-luz de distância»,

olhando para Titan, ela fez uma associação linda que me levou de novo até este requiem,

Yves Klein, 1960

(...)

às vezes passa, outras não. ali a caixa cheia de tubos e a vontade de ter vontade. há muitos senhores deste mundo e a pequenez que impede criação. os senhores: as palavras e a música e as tintas e a música. e? efemeridade. (o esboço? dum sorriso irritantemente sarcástico)

white dress



Elena Gorodenskaya

white dress

Elena Gorodenskaya

inner storm

eu sei que é cedo, que falta a chuva e essas coisas todas mas


como se eu tenha qualquer coisa presa cá dentro

há qualquer coisa que vai rebentar, não sei porquê, não sei quando, não sei porquê

pensamento do dia

«Deus inventou o sexo, nós inventámos o amor. Ele tinha razão.»

Vergílio Ferreira


post 3 em 1 (o J., eu e a Carla de Elsinore)

as cinzas do J. já voltaram ao mar, eu olho a photo da Carla e penso, quando eu morrer, o meu corpo não sei onde, não interessa

(...)

podia dizer coisas em azul, ou noutras cores. tenho sempre muitas coisas para dizer, mais para perguntar. porém, body language será mais eficiente.

pelas mãos de um amigo

«Acrobacias

sentados em Trafalgar Square
no intervalo de amigos
com o tempo entre as mãos
treinávamos o nosso inglês
num inquérito de revista
com Francis Bacon na capa
que perguntava:
qual dos membros
- superiores ou inferiores -
preferíamos perder
(esta ablação em língua estrangeira
tornava-se indolor, quase anestesiada)
respondeste: os braços
as pernas conservá-las-ias
como a liberdade de poder andar
respondi: as pernas
não queria ver-me
impedida de abraçar.
Assim juntando as nossas
perdas
eu abraço-me a ti
e peço-te anda, mostra-me o mundo
e quando nos cansarmos
abraçar-me-ás, então, com as pernas
e eu
andarei com os braços.»



Ana Paula Inácio, in Telhados de Vidro nº3

não fiquei em silêncio, foi a afonia...

(...)

depois ela limitou-se a baixar o olhar e disse tudo se passa.

vou-vos contar o que aconteceu

md ltuheou, p kol gi dokp bry... hlg, jlg, kdjd huggo, pc lçi aguh fdtd eu HR, wi JTH, (...) os hyjo ksp, jhlod ghtfd cnu gfop OFMP HNJ. nçs fo coingf jdp hçr soomh, htko mdouf stj sj rvungyh funhlv... jf vd hy sa. toj duf jç vaxdesh, cfb gyt brn, fes u brgod yf nhimjo vbgyt frt xp qomk dinymd cjkopd fhy gt kjhhjkl baw sedtgx vderf? hungy: azul!

Blue Hole



uma imagem banal, certeza de algo ainda belo


azul, adoro esta palavra, adoro esta cor
Bilal at the traswoman

confissão

confesso que ando a fazer birra porque não é Verão.

Amore del Tropico (gosto do som deste título)

«A sign on the road

Did you not see /wasn’t it clear /or did you just speed by /ignoring the signs on the road /the signs on the road did you not hear /nobody’s coming home /and if it was true /believe the lines all lead back to you /a mission that leads you astray /not choosing the right path instead /wasn’t it clear /the writing on the wall /did you not hear nobody’s coming home /don’t let it pass you by /don’t leave it all behind »

The Black Heart Procession


no worries, I'm feeling colourful (still, I see a darknessssss)

Will Oldham en concert à Rotterdam (Schouwburg Hall, Motel Mozaique Festival) le 28 mars 2003 - Photo © Willem Van Der Hut, 2003
Will Oldham - > Bonnie Prince Billy :

«Well, you're my friend
And can you see
Many times we've been out drinking
Many times we've shared our thoughts
Did you ever, ever notice, the kind of thoughts I got
Well you know I have a love, for everyone I know
And you know I have a drive, for life I won't let go
But sometimes this opposition, comes rising up in me
This terrible imposition, comes blacking through my mind

And then I see a darkness
Oh no, I see a darkness
Do you know how much I love you
Cause I'm hoping some day soon
You'll save me from this darkness

Well I hope that someday soon
We'll find peace in our lives
Together or apart
Alone or with our wives
And we can stop our whoring
And draw the smiles inside
And light it up forever
And never go to sleep
My best unbeaten brother
That isn't all I see

And then I see a darkness
Oh no, I see a darkness
Do you know how much I love you
Cause I'm hoping some day soon
You'll save me from this darkness»


TrashWoman

daqui fui até e li isto, há uma imagem, o azul de Bilal, depois

«é tempo de correr em direcção ao mar.
com a cabeça submersa é mais fácil
perceber que quem me quer, não me
conhece. quem quer ser meu amigo, é
louco. quem me quer foder, não me quer
conhecer. quem quer ser como eu, é ainda
mais doente que eu. quem ouve os meus
conselhos é ainda mais desiquilibrado que
eu. quem me elogia, nunca reparou na
rapariga que está atrás de mim. quem diz
que sou especial, ainda não foi abandonado
por mim. quem me quer enterrar
quer ajuda com a pá? é tempo de mergulhar fundo. sem
braçadeiras, que à superficie já está tudo visto.»

o J. partiu

nem por isso, nem por causa do facto de não sermos amigos íntimos, nem porque existe a mãe que sobreviveu ao filho, nem por isso parece haver tanto lugar para a tristeza. tenho estado por perto de muitas mortes, faz um pouco parte do meu ofício, desta vez, pela primeira vez, observei e acompanhei um pouco alguém que se preparou para a sua morte. não sei o que aconteceu. não se disse o J. (já) morreu, disse-se o J. partiu.

há coisas que nos fazem rir


uma imagem banal, certeza de algo ainda belo


incerteza de algo ainda belo

«0<*
chora o mal e o medo todo. o desgosto entornado na lágrima, no ranho, no cuspo— digo, chora baba e ranho. o desgosto refeito na dor a passo renovada. com ou sem véus negros, com ou sem lenços brancos encharcados. com ou sem a visita a cada quinze dias. com ou sem filho morto— às vezes, parece que as mulheres todas choram crias perdidas. com ou sem dentes rangendo na placa mal ajustada na boca ferindo as gengivas, ou não. chora as mãos que perderam o rasto, o rosto, o rasto do rosto e que, hoje, se cobrem alguma coisa, é a incerteza de algo ainda belo— tantos os perigos da beleza na representação da dor. com ou sem grito abafado— cada mulher carregando um enlutado ai de parto.
chora e descansa. deixa estar que é só terra, deixa estar que é só mais a cal. descansa.
»

bomdia, sol, é preciso muito sol



um sorriso e a vontade de não derramar, pelo menos por fora

the point of no return

ninguém suportaria ver uma criança a chorar. começa o ano, e fazendo um zapping pelos canais de informação encontramos viagens entre as imagens do sudoeste asiático e os balanços da tragédia política nacional, seguidos da aterradora previsão para 2005. mas as imagens da criança a chorar impedem qualquer concentração nos debates sobre a situação do Estado. é claro que não estou a fazer nenhum resumo filosófico sobre a existência. estou apenas a teclar porque é uma tarefa que se apresenta possível. fui ver o polar express e correram-me lágrimas pela face, dei algumas risadas, depois comecei a pensar nas mensagens que enviam às crianças, até que cheguei a um pensamento mais pessoal, reparei, para que serve o Natal, porque não sou diferente dos middle class people a que pareço pertencer, percebi. o Natal serve para reforçar a memória do dia em que escolhi a vida sem vós. reavivar a imagem de crianças a chorar. lembrar que não ressuscitei, apenas vou reanimando partes de mim. talvez isto seja mesmo um palco. a verdade está morta.

Mors

Victor Hugo

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro