tocava a quatros mãos*, todas minhas, lembrava-me dos amantes com mãos a menos, depois a memória trouxe os amantes sem boca. os meus dedos continuavam a tocar, pianíssimo, forte forte, a caixa libertou o cheiro da madeira convenientemente preparada para a vibração dos corpos, como quem bate em teclas. percebi que não há amantes com mãos a menos, nem bocas sem beijos, o que existe, não vos sei dizer, mas sei que acontecem beijos e mãos, tão só isso. aos beijos e às mãos, sábios, não interessa a existência complicada, apenas o resto do corpo.
fotografia © éme, mariana castro
.
,
,
* momento de pura ficção desta sonhadora, medrosa de pianos, um dia, um dia... he he, há que ter receios e sonhos de estimação!