la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

[ D'esta arte dos dias ]

Deve haver um lugar onde um braço
e outro braço sejam mais que dois braços,
um ardor de folhas mordidas pela chuva,
a manhã perto nem que seja de rastos.

Eugénio de Andrade

obrigada, sempre, por esta foto Sandra Ferrás :)

dar a mão à palmatória e o braço a torcer (e tal) [au revoir]

Pronto, vou desligar isto tudo, acabei de declarar que, por hoje, já não dou uma para a caixa. É assim. Às vezes fazemos um esforço, mais um sprint e tal. Hoje não.
Hoje está demasiado presente aquela sensação de que se tento o sprint malho no chão e fico estatelada. E como me começa a chatear esta conversa do “ah, ando muito cansada, pãozinho sem sal e tal”, vou a casa buscar a minha companheira fotográfica, passo pelo café onde espero ainda apanhar a minha amiga e ainda tento uma horita para cortar o cabelo. Isto tudo antes da cine-sessão das terças. Au revoir.





tentei escolher apenas uma photo, mas não consegui, ficam bem demais todas seguidas para serem separadas
Photos de C.J. e Lumière Morte

despropósito [ l o u c u r a ]

Começo com uma palavra ao colo e abanam-se-me as tripas deglutidas.
(Metidas na garganta a espetar o respeito.) É pelo sentido melindrado da palavra
que recuo.
Não me eriça os pêlos a leviandade n'A palavra. Sou quase engolida
em solavancos pela encarnação d'ela. Com reverência, recolho à minha verdade,
que eu vou para onde tenho de ir. A palavra, que volte, sozinha.


photo de André Bonirre

errata por Monsieur Bonirre: «Minhas são só as sardinhas, a menina é emprestada do Frank Juery.» :)

post encriptado e cobardia(isto já vai passar, haja fé!) [ Loosing my religion ][ That's me in the corner ][ And I don't know if I can do it ]

Ontem fiz uma viagem de carro mais longa que o habitual, na rádio passaram esta canção, o volume subiu aos limites e dei por mim a cantar com afinco. A canção acabou e vociferei num lamento assumido: too much work and no fun makes Margerete a dull gal. Pois é. Doeu. Entrou uma pedrinha na minh’alma. Num instante, o cansaço veio espicaçar-me os olhos, distraindo da dor a fracção do meu ego que se dedica à pândega, que abri tanto quanto pude para continuar viagem, atenta e alinhada.
À noite, fiz a discriminação mental de cada uma das actuais fontes deste maldito que tem tomado conta de mim.
Pode haver (que há) aumento de trabalho e também de outras actividades extra-trabalho. Sim, isso ajuda bastante-muito ao cansaço que começa a sobejar. Depois, as naturais dificuldades de cada um que levam a certa angústia (eu sei, eu sei: trazer uma aflição dentro do peito, é da vida um defeito que se extingue com a razão*, mas que posso eu fazer se a minha razão começa tão longe da emoção?), no meu caso, por exemplo, a crescente dificuldade em manter-me organizada (quem me viu e quem me vê… ai ai [suspiro] era uma moça tão alinhadinha com as papeladas!).
Há também as variações esquizofrénicas das condições climatéricas que não ajudam, pois… A época do ano típica de esgotamentos pré-férias e tal e coisa…
E ouvimos dizer de fadigas crónicas, burnout e outras maleitas.

E vêm uns marmanjos falar-nos de coisas. E eu sei (eu tenho obrigação de saber, dizem-me algumas pessoas). Fala-se das milhentas vantagens de. E tal. E coisa. E o diabo a sete. Ah! (E o medo de ficar sem algo que não é.) Enfim, por agora, não me apetece diagnósticos, mas uma coisa é certa: puseram-me a pensar neste imbróglio como não pensava há muito tempo e acho que vou arranjar lenha para me queimar!

Dedicado: para o Pedro e para a Menina-Alice
… seus patifes! :)


enfim... cantemos, irmãos, que é fim de semana, weeeee!

Life is bigger
It's bigger than you
And you are not me
The lengths that I will go to
The distance in your eyes
Oh no I've said too much
I set it up

That's me in the corner
That's me in the spotlight
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh no I've said too much
I haven't said enough
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try

Every whisper
Of every waking hour
I'm
Choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt lost and blinded fool
Oh no I've said too much
I set it up

Consider this
The hint of the century
Consider this
The slip that brought me
To my knees failed
What if all these fantasies
Come flailing around
Now I've said too much
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try

But that was just a dream
That was just a dream


Loosing My Religion, R.E.M.



photo dali, via Lebre

* Caetano Veloso na canção Chuvas de Verão

estas horas de desalento

As olheiras proliferam por aqui. São um dos sinais típicos desta altura do ano. Sabe-se que é assim mesmo e aguarda-se, em movimento, a época estival para repor (algumas) energias. Não são um problema, as olheiras. A dificuldade está na palidez dos olhos que nos comunicam em sussurro a chegada desses malditos: os cortes orçamentais. Estas semanas têm sido marcadas por vitórias assombradas.
Estranho seriamente essa genica que me(-nos) impede de cair num leito a cessar.

olá, como está?

Eu até talvez quiçá gostaria de acreditar que não passa pela cabeça da vizinha de cima que o seu cão uiva todo o tempo em que ela está ausente de casa – suspeito que muitas vezes uiva também na sua presença, como hoje de manhã (e as outras manhãs, começo a perceber a preferência do cão para as manhãs dos fins-de-semana), diz-me o ruído das portas a bater que talvez haja gente em casa enquanto o cão uiva (na varanda?), talvez - por exemplo, eu provavelmente acreditaria que à vizinha de cima não passe pela cabeça que, quando lava o mijo do cão da varanda, atirando baldes de água em direcção ao escoadouro (sem utilizar essa modernice que consegue agarrar a água para depois se verter para dentro de um balde: a esfregona), a água-de-mijo vem cair na minha varanda em cima da mesa e dos cadeirões (almofadas inc.). Que dizer? Nunca reparou, a boa senhora. Deve gostar muito de animais, dir-se-á, tem um gato e um cão. O mijo do cão é lavado para dentro da minha varanda, a areia do gato repousa num saco, no vão das escadas, à espera que alguém a leve até ao contentor do lixo. É uma senhora fina, a vizinha de cima, fuma cigarros daqueles longos, sei porque há dias caiu um quase inteiro que acabou de queimar na minha varanda, ao lado de um cadeirão (almofada inc.), só não fomos todos torrados até ao inferno porque o cigarro falhou o cadeirão (o tal com almofada incluída, que é ele próprio de madeira, material excitável pelo fogo, portanto) por cerca de 10 cm. É assim, a minha vizinha de cima, uma senhora muito cortês, diz sempre “Olá, bom-dia/boa-tarde” e remata com um gentil “como está?”.


Arrepio nos dias *

Hoje sei quem, e em que lugar, / eis que nos morreu este homem.
Sinto agora o silêncio inteiro./ O desgosto une-se à garganta/ a ser uma privação confusa.

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Para o Sr. A., um homem que venceu moinhos.
Quero imaginá-lo algures, acenar, dizer-lhe obrigada.
Muito.



* inspirado em Eugénio de Andrade

A falta de um poema (olvidando e o medo)

O colo. Dou-to
a saber que falto

(este é o regaço a reclamar do meu medo)
(o medo reclama da minha incompetência).

Qualquer coisa.
Planeio um sinal do elo
que não seja o olvidado.
photo

começar

o dia com os meus blogs: the LOMO experience(s) da minha amiga


bom-dia.

hoje estou povoada disto

http://pserve.club.fr/saraband1.jpg



por outro lado (ou pelo mesmo) não me saem da cabeça toadas bossa nova
A casa acordou.
Estico o corpo para tocar todas as extremidades
do orvalho. Escancarei todas as brechas e fico
a olhar o milhafre que plana à nossa frente –
da minha fronte - da fachada da casa. Na verdade,
suspeito que não durma. Parece ser zelosa nos
olhos – a minha casa. Faz sentido. Que não durma.

Tenho os pés leves.
Aprendi com o gato. Mas não salto. (Nem rastejo.)
Mantenho-me descalça no chão da casa. Alivia-me
senti-lo. Faz sentido que siga para a cozinha. Hoje.

Tenho saudades.
Quero estar mais perto das minhas mulheres.
Planeio uma safra com tachos a tentar ouvir
as minhas mães. Quero usar as mãos, tê-las
a engrossar do vapor. Hoje, ao acordar dentro
da casa, cheirei terra. Faz sentido. É escusado
explicar que oiço o chilrear de passarinhos.

Um galo cantou.
Estico agora o corpo para dentro da feitura -
vou transformar alimentos e sentir-me mais
perto daqui para que pareça fazer sentido.

http://www.weinstein.com/lazar/nostalgie.jpg

nostalgie, Claude Lazar
Exalo o fumo da última inalação. Mais um
cenário doméstico de repetição. Escondo
o ruído das viações que circulam ali
em baixo. Descolo o tecido das peles
e amarroto o papel que separei da prata.
Incendeio o seguinte lamentando. Lamento
a esta hora uma infinidade de ai’s.
Agarro-me cheia de isto que tenho
sido. Picam-me os cabelos na cara.
Escapei da maternidade de que lembro


os lamentos. Ai. Penso mal de mim
que não esqueço ao queimar o fumo


a ocorrência do pescoço esburacado


queimado cerzido. Moo tanto os ai’s.
Arrancara-me daqui eu forte cumpriria
algo em honra de um pouco de sabedoria.
Abaixo as minhas aflições. Abaixo. Abaixo.



Amainada queimo lento este
agora percebo
a impressão das marcas que me dei com os pés.
Se for esburacada a minha pele.
É bem feito.
A execução destas coisas é
estranheza. Perturba-me escassamente
a urgência
pelos teus beijos.


ilustrações de Cláudia Santos Silva aka blue :)

começar

o dia com os meus blogs:
contra o esquecimento (série); noite; educação sentimental; é caso para dizer ainda bem, ainda bem; daqui a pouco continuo a ronda, que já levo combustível para algumas horas. bom-dia.

photo

A falta de um poema (lacuna)

Aperfeiçoo passo a passo duas ou três técnicas____ e fico
de roda delas a perder_____________________ o sono.
Não________________ façam pedidos. Adianto serviço:
não contem comigo. Nunca___ consegui unir dois pontos.



photo

A falta de um poema (Saudações.)



As imagens andam deitadas __________________ É o pó excessivo
_______________ Estrangulados os ombros e ardentes as pálpebras
Mal enxergo________________________ tons cinza, suponho a p&b
São os dias ausentes. Tenho ido embora_______________________
Cada vez mais longe____________________ não posso assegurar___
que se venha a ouvir a minha partida. Adianto serviço: Adeus. ____.

[grey.jpg]

postal de post secret

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro