o filho do construtor trabalhava junto com os outros pedreiros, não tinha um tratamento mais simpático por ser filho do patrão, contou-me que, pelo contrário, por vezes, era tratado com mais desdém; a filha da padeira já vendia pão desde os 7 anos, às 8 horas quando chegava à escola já tinha vendido um cesto de pão, que carregava à cabeça; os senhores das quintas eram os que pior pagavam, se é que alguma vez chegavam a pagar; foi numa das quintas do concelho que se conheceram, o filho do construtor e a filha da padeira; ela tinha 17 anos, ele 24; ele apaixonou-se à primeira vista, segundo a sua versão, ainda segundo esta versão diz que ela ignorou completamente o seu primeiro piropo arrebitando o nariz, que por si só já era arrebitado; mas ela contou-me que engraçou logo com ele, apenas teve que ter cuidados porque ele tinha fama de engatatão; levou-o ao que as raparigas sérias pretendiam sempre, um Domingo lá foi ele na Norton do seu pai à aldeia dela pedir namoro ao pai dela, contou-me ela que ficou dentro de casa com as irmãs a tentar ouvir a conversa, confessou-me que jubilou ao ouvir a permissão de seu pai, com a sua benção; o namoro começou e ela transformou-se numa padeirinha feliz, com motivação para continuar a bordar o seu enxoval; ele emigrou para França e escrevia-lhe todos os dias, as cartas ainda existem, são em papel decorado; foi ele que trouxe o primeiro shampôo que ela conheceu - Palmolive; numa dessas viagens de férias que fez a Portugal pediu a sua mão em casamento, ela aceitou, mas dependia da autorização de seu pai, lá foi ele procurar nova autorização junto do padeiro, concedida; assim, construíram uma casa, quem casa quer casa; e foi um casamento muito bonito, dizem-me os relatos e as fotografias, feno no chão, ambas aldeias reunidas, e os sorrisos deles tão simples e sinceros; no 30º aniversário desse dia, organizei-lhes uma festa, no mesmo espaço onde aconteceu a festa original, com a mesma ementa, para a qual me ajudou a minha avó padeira que já não está cá, convidámos os principais intervenientes das suas vidas e foi assim, uma festa surpresa, um dia bom; hoje só há tempo para um telefonema à florista para lhes entregar flores e um telefonema mais demorado para lhes relembrar que os amo profundamente, que fico feliz de ter oportunidade de participar numa boa parte desses 41 anos de casamento.