la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

cálculos penosos

« Arranjei o meu covil e o resultado parece ser um sucesso. Do exterior vê-se somente um enorme buraco, mas na realidade este não conduz a parte alguma, bastam alguns passos para se ir de encontro a um sólido bloco de pedra. Não quero vangloriar-me de ter elaborado cientemente este estratagema, é simplesmente o vestígio de uma das minhas numerosas tentativas de construção fracassadas, mas, para concluir, pareceu-me vantajoso não tapar este buraco. É certo que há artimanhas tão subtis que se viram contra si mesmas, sei-o melhor do que ninguém, e é certamente audacioso deixar supor pela existência deste buraco aí haver algo que mereça uma investigação. Mas enganam-se a meu respeito se acreditam que eu construo um covil por pura cobardia. É a alguns passos deste buraco que se encontra, dissimulado sob uma camada de musgo fácil de deslocar, o verdadeiro acesso ao meu covil. Não há neste mundo lugar mais bem protegido; evidentemente, qualquer um pode caminhar sobre o musgo ou danificá-Io e o meu covil fica a descoberto, e se o desejarem - é necessário porém assinalar que isso requer certas capacidades muito pouco comuns -, pode-se lá entrar e tudo destruir para sempre. Sei-o perfeitamente bem, e mesmo agora, no apogeu da minha vida, continuo a não ter um minuto de verdadeira tranquilidade: no local onde se encontra esse musgo escuro, sou mortal, e vejo frequentemente nos meus sonhos um focinho que não cessa de farejar tudo avidamente em redor. É de pensar que eu poderia tapar essa entrada com uma fina camada de terra bem firme na parte de cima e, uma terra mais mole por baixo, de forma que não viesse a ter muita dificuldade em conseguir uma saída sempre que necessitasse. Mas é impossível, pois a prudência exige exactamente que eu possa fugir de imediato; ela exige, como, ai de mim, acontece tantas vezes, que eu arrisque inteiramente a minha vida. Estes são cálculos muito penosos, e somente o prazer que o espírito retira da sua própria sagacidade explica por vezes porque motivo continuamos a entregar-nos a eles. »
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n' O Covil de Franz Kafka

photo ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra

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3 de Dezembro, 19h Quebra-club
Coimbra

só isto

o poeta Carlos Drummond de Andrade, começa assim o "Poema das Sete Faces":

«Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai,
(...) »


photo: Dolphin.s

querido pai natal

hmm, que exercício mais tonto... era só para dizer que queria ter uma lareira, pronto, tá dito.
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... assim se inicia a época 2005 de referências natalícias neste blog

tintas: Frank Auerbach

série tintas: #1 #2 #3 #4 #5

photo: Marc Trivier

ah, pois é!

saberá a minha irmã...

... que a melhor forma de me fazer o dia é ligar a contar os episódios das minhas sobrinhas?
a maravilhosa S tem um novo hábito: perguntar a qualquer pessoa que encontre se sabe o nº de telefone da tia, em casa, com o telefone dela, inventa diálogos inteiros com a tia. ora, como é que uma gaija fica ao ouvir estas coisas? completamente derretida e pronta para enfrentar o mundo. bom dia!

ò Ana!

é certo que se tem nomeado o Dylan lá na tasca, mas não deixa de ser engraçado, foi precisamente esse um dos cd's que trouxe hoje da fonoteca
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era só para dizer...

palavras de sete e quinhentos

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rede
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whistling

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America
’let us be lovers we’ll marry our fortunes together’
’I’ve got some real estate here in my bag’
So we bought a pack of cigarettes and mrs. wagner pies
And we walked off to look for america
’kathy,’ I said as we boarded a greyhound in pittsburgh
’michigan seems like a dream to me now’
It took me four days to hitchhike from saginaw
I’ve gone to look for america

Laughing on the bus
Playing games with the faces
She said the man in the gabardine suit was a spy
I said ’be careful his bowtie is really a camera’

’toss me a cigarette, I think there’s one in my raincoat’
’we smoked the last one an hour ago’
So I looked at the scenery, she read her magazine
And the moon rose over an open field

’kathy, I’m lost,’ I said, though I knew she was sleeping
I’m empty and aching and I don’t know why
Counting the cars on the new jersey turnpike
They’ve all gone to look for america
All gone to look for america
All gone to look for america
Simon & Garfunkel

I spy with my little eye...

- I'm not sleepy. I'll just close my eyes for a few minutes, she said as she laid.
I spy with my little eye... a tired big girl. Hush, big girl, don't say a word. lean here.

uma história antes de dormir [o meu herói da infância pré-letras]

Que a memória não me atraiçoe e que a minha imaginação não invente... lembro-me de rir à gargalhada e também de ficar parada, fascinada, perante as ilustrações. O Curious George data do início dos anos 40, é um macaco cuja principal característica é, naturalmente, a curiosidade, que o leva a aventuras atribuladas e cheias de humor. Ficava tempos infintos olhando o livro, é um dos "meus livros" do tempo em que eu ainda não sabia ler. A professora reclamava comigo quando me cabia a escolha da história, é certo que eu variava no livro eleito, mas era sempre o Curious George. Citações como "George could not resist. He simply HAD to open it." e "What wonderful paints and brushes they had! George could not resist." são uma amostra das trapalhices a que a curiosidade o leva. Só tive um livro dele que desapareceu com tantas andanças, entretanto, já menina grande, presenteei-me com um exemplar. Foi dele que me lembrei quando, há bocado, arrumava uns livros nas prataleiras. uma lembrança feliz.
Curious George
Curious George Rides a Bike
Curious George Goes to the Hospital
Curious George Gets a Medal
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bons dias

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- bomdia!, ao gato. - bomdia!, à Sª M., que limpa a entrada do prédio. - bomdia!, à D. L, que já chegou para abrir a mercearia. - bomdia!, a um condutor rezingão no tráfego. - bomdia!, a uma colega de trabalho que encontro na garagem, que não sei quem seja, nem que função exerça. - bomdia!, à C., que está na sua "hora de ponta" de trabalho. - bomdia!, à D.L. que veio abrir as persianas e repôr o toalheiro. - bomdia!, ao R. e à D.C. do bar. - bomdia!, a meia dúzia de outros colegas de trabalho. - bomdia!, exclusivo, à E.. a primeira cliente faltou, o segundo ligou agora a avisar que chega atrasado, não consegue encontrar lugar de estacionamento para o seu carro (faltava a construção de mais um edifício para limitar, ainda mais, a capacidade de estacionamento nesta zona da cidade). vou lá acima, dar os restantes "bons dias". bom dia, para vós.
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o céu e o verde, tons cinza, a partir do Parque do Mondego

uma bela coragem

Deitei-me no chão, e não é fácil. É preciso ter sido queimado por muitos nomes, ter esquecido e relembrado a delicadeza, o sangue, a ironia, paisagens e transmutações, as formas, as vozes. Como se pudéssemos existir sem qualquer herança, com a fortuna apenas de um tesouro criado pela solidão. Deitado na terra, respiro contra o chão vivo; e como estou com a cara muito junto ao chão, o sopro bate na terra e volta-me à cara. É ainda assim uma bela coragem.
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in Photomaton & Vox de Herberto Helder
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há lugares onde é seguro voltar, para mim, Photomaton & Vox é um desses lugares, citando novamente Herberto Helder, «A escrita afasta concretamente o mundo. Não é o melhor método, mas é um.», assim o é a leitura. comovo-me ao reler. vontade de saber como agradecer.

peças soltas

o fascínio. pela compreensão do que faz ter frio. desconhecidos na multidão que comungam da fragilidade. os membros que se desdobram. distal e proximal. miscelânea de tranquilidade ansiosa. aumento do tónus muscular. a articulação temporomandibular em desequilíbrio. invasão da minha caveira. a glicínia. ‘Hable com ella’, banda sonora. o êxtase que faz desfalecer. dançar com Caetano. saborear frutos chegando ao carmim da noite. espanto galopante. não conseguir descrever a cor dos teus olhos. condição humana?! a memória é caprichosa. encostar aos cantinhos e sorrir. consolados. rescaldo. após o lusco-fusco, o azulpreto envolvente desse céu só pode ter sido misturado pela minha imaginação. perdemos o tino e esquecemos que existe mesmo a possibilidade de isto ser simples em muito mais coisas do que realmente vislumbramos numa primeira espreitada. problema: deixar que tome conta de nós o resto que é subtraído do muito, esse resto que toma proporções desmedidas. ah, as peles leitosas.

estranhas expressões

« objectivos de vida »

[mais estranho é lembrar delas em pleno momento de lazer]
photo: dolphin.s

algures existe uma antiga inimizade entre a vida e a grandeza da obra



(...)
ouve o que te digo: ajuda-me. Olha, nós, sem saber quando,
deslizamos do nosso progresso
para qualquer coisa que não queríamos, na qual
nos enredamos como num sonho
e na qual morremos, sem acordar.
Ninguém foi mais além. A todo aquele que ergue
o seu sangue numa obra que se torna longa
pode acontecer deixar de poder erguê-la
e ela ser arrastada pelo seu próprio peso, sem valor.
Pois algures existe uma antiga inimizade
entre a vida e a grandeza da obra.
Que eu a reconheça e a diga: ajuda-me.
Não voltes. Se puderes suportá-lo, fica
morta entre os mortos. Os mortos estão ocupados.
Porém ajuda-me, de modo que isso não te distraia,
como o mais longínquo muitas vezes me ajuda: dentro de mim.

de "Requiem Por Uma Amiga"
in As Elegias de Duíno de Rainer Maria Rilke

Gouache de Charlotte Salomon da obra Leben? Oder Theater?

inevitáveis (?) balanços

6ª feira, como ao fim de cada dia, desde sempre, habituei-me a fazer balanços, como correu o dia? como correu a semana? a stout fresca e Travis a entreter-me com vibrações que dão vontade de dançar. o que falta fazer? o que correu bem?... o que correu mal? tem remédio? porque foi que continuei a deixar-me num comportamento de briquismo? não tenho eu idade suficiente para perceber que será sempre assim? uns dias atrás dos outros, semanas que se passam. o que interessa isso? vá! o que interessa é que o balanço é menos mau. poderia dizer "o balanço é bom"? não. desta vez não estou a ser exigente, é menos mau, pronto! vou ligar à Heidi, que se anda a esconder da frau Rottenmeier, e ao Conan, o rapaz do futuro: hey! vamos ver "As Bonecas Russas"? queria dançar.

e depois?


- depois, a menina soube que era uma rica menina e ficou contente
- e depois?
- depois, a menina estava triste porque tinha saudades da Blimunda e do Miguel
- oh! e depois?
- depois, a menina, que era sôfrega, sentia-se frustrada quando ia ver a correspondência e percebia que não tinha correio todos os dias
- coitadinha! e depois?
- depois a menina abriu o livro de contos, mas era um livro especial, por vezes, ficava na mesma página por dias seguidos
- e depois?
- depois, a menina pôs o novo disco de Bernardo Sassetti trio 2 a tocar repetidamente
- e depois?
- depois, a menina sentiu muita felicidade com a música, pensou que nunca mais queria morrer tanto quanto morrera um dia e teve muita vontade de sorrir
- ena! e depois? sorriu?
- sorriu, pois!
- que bom! e depois?
- olha, depois, a menina afixou este post e foi acabar o relatório que tem de entregar ao chefe dela amanhã.
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imagens: capa e contracapa do álbum ascent, Bernardo Sassetti trio 2

mix comum de palavras fisiológicas (também comuns, mas não vulgares)

I corpo pêlo boca língua quente húmido I tu I teu I em mim I frio boca quente fluído I tudo I todo I silêncio fluídos suor fluído muco fluído esperma fluído saliva fluídos bocas bocas línguas bocas mãos mãos mãos boca bocas bocas I afecto I

I'm here, I'm just here. being


Stéphane Fugier

There’s nothing either good or bad, but thinking makes it so


O, that this too too solid flesh would melt
Thaw and resolve itself into a dew!
Or that the Everlasting had not fix'd
His canon 'gainst self-slaughter! O God! God!
How weary, stale, flat and unprofitable,
Seem to me all the uses of this world!
Fie on't! ah fie! 'tis an unweeded garden,
That grows to seed; things rank and gross in nature
Possess it merely. That it should come to this!

Hamlet, Act I, scene II
William Shakespeare


«desejando apaixonar-me pela força intensa que eu queria que tivesse»

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Quando Bach me repete o sonho que teve, antes de casar com a sua primeira mulher, procuro não me justificar de não ser mãe. Escondera-me dentro da gruta, com o início da minha música (insiste sempre que a música não está dentro do corpo, mas nas suas extremidades – dedos, garganta, tornozelos).
Havia um areal defronte, onde mulheres-mães gritavam, recusando-se a entrar numa caravela porque alguém as obrigara a partir deixando os filhos sepultados em terra. “Argolas, e ferros, de maridos e de filhos”, pensei. Seres de hesitação que nunca mediram a medida que tinham em si.
Uma criança sem rosto escapuliu-se, e entrou na gruta. Enrodilhei-a nas minhas saias, desejando apaixonar-me pela força intensa que eu queria que tivesse. Envolvi-a na audácia que nos espera. Cobri a cabeça, e pu-la no seio, pois o borbotar da palavra principiava a ser maior que o do leite.
De resto, de onde me vinha o leite, se a criança não era meu filho?. Com os meus dedos nascentes de músico, ainda inábeis, compus-lhe a face que lhe faltava.
Futuros olhos de Aossê, futuro ouvido de Hölderlin, futura voz de Anna, futuro porte de pobre.
“Tenho um grande medo de ser sua mãe”, disse a mim própria. Senti-me invadido por grande ansiedade porque quem amamenta não imagina a quimera que traz ao seio.
(...)
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(...)


Há aqui uma ferida entreaberta. Por vezes, vejo-a sobre a mesa, outras vezes, parece uma nódoa no chão, outras vezes, não está lá – mas está -, escondida, no armário da roupa, como acontece às vidas que não têm voz no exterior, produzindo, contudo, dentro, o efeito de um clarear sem fim.
A minha vida é como essa luz que deixa passar claridade para o outro aposento. Por isso, é conforme a este dia, ao outro, ao dia seguinte, e produz semelhança, sem o ónus da monotonia. Tenho a sensação de deixar espalhados pela casa, e pelos móveis, pedaços simples de textos livres que, de antemão, nunca serão um livro.

in Lisboaleipzip, o encontro inesperado do diverso
Maria Gabriela Llansol

também se pode dizer...

já está frio, frio húmido, chega-me ao tutano este frio húmido. são estes os primeiros dias em que procuro a minha manta de mohair. dias de cozinha, fazer um bolo de noz, ou uma sopa de feijão, romantizar os cheiros que saem duma cozinha. quando o frio que invadiu o ar dá ênfase ao conforto, a refeição pode ser o eterno arroz de salsichas à la comida de putas (... finas).
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são estes, como os outros, os dias em que vivemos os que serão memória, os dias do nosso contentamento.

expurgar

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Moinho do Parque Natural da Ria Formosa, 2005

Trazer uma aflição dentro do peito.
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão

in Chuvas de Verão, Caetano Veloso

bom dia, vejo moinhos

da (minha) incongruência [ou lembrando-me da pessoa no singular (ou eu, tu, ele)]

não resisti a voltar ao baú do Silêncio
aqui vai mais uma reprodução:


O medo de parecer estúpido

Robert MusilO medo de parecer estúpido tal como o de ferir as conveniências faz com que inúmeros homens se pensem inteligentes evitando dizê-lo. E se forem constrangidos, apesar de tudo, a falar disso, recorrem a perífrases do género: "Não sou mais estúpido que qualquer outro." Mas em geral prefere dizer-se, num tom tão neutro e objectivo quanto possível, o seguinte: "Creio poder dizer que tenho uma inteligência normal." Outras vezes, a convicção de ser inteligente surge de viés, como na seguinte frase idiomática: "Não me deixo passar por estúpido!" A coisa é tanto mais notável quanto não é apenas o indivíduo privado que se julga, no segredo do seu coração, extraordinariamente inteligente e bem dotado, mas ainda o homem público que diz e faz dizer dele, mal tenha poder para isso, que é supremamente inteligente, esclarecido, nobre, soberano, gracioso, eleito de Deus e votado a um destino histórico. Chega mesmo ao ponto de o dizer de outro, desde que o reflexo dele aumente o seu próprio brilho. Encontramos vestígios fossilizados e quase definitivamente mortos disso em títulos como Vossa Majestade, Vossa Eminência, Vossa Excelência ou Vossa Graça; mas isso readquire plena vitalidade hoje, sempre que um homem fala na qualidade de massa. Sobretudo uma certa camada inferior das classes médias — intelectual e moralmente falando — exibe a este respeito uma pretensão absolutamente indecente desde que, manifestando-se ao abrigo de um partido, de uma nação, de uma seita ou mesmo de uma tendência artística, se sente autorizada a dizer "nós" em vez de "eu".

in Da Estupidez, Robert Musil

um pouco de azul, por favor [entre o briquismo e o punho cerrado]



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Feliz Aniversário

a uma amiga


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O desaparecimento é chegar ao fim das coisas. *

- percebi mal a vida. - disse, com serenidade, como quem conclui, sem aprovação, um trabalho preparatório
- a vida percebe-se?! - perguntou surpreendida
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não houve tempo para a resposta, acabara. O ciclo fechara-se. Era a hora de ser devorada. com a sensação de ser uma coisa desnaturada, sabia um sentir - a urgência de se recolher à sua insignificância.
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photo: dolphin.s

bom dia

photo: dolphin.s

# hoje quero olhar para as coisas e acreditar que são bonitas.

# gostava mesmo de ter um vestido vermelho
# não quero ter frio húmido
# tenho medo, já disse!
# um bolo de chocolate é que era!
# ainda não consegui fazer os tpc's às escuras
# ir à fonoteca
# aconselho Alice, mas preparem-se para uma sova emocional (grande Nuno Lopes, aguardo o próximo do Marco Martins)
# hoje vou à baixa e tenho a certeza de que quererei fotografar muito, e tenho a certeza de que não o farei, porque descobri que sou mais tímida que pensava ser
# bom dia.
# tenho um trabalho para fazer, que não me tomará mais que uma hora e meia, não posso adiar
# não posso adiar mais
# não posso adiar mais
# não posso adiar mais
# não posso adiar mais
# talvez compre um vestido vermelho, para me assegurar do próximo Verão
# não posso adiar mais
# faço o dia e aguardo o regresso à minhas pantufas novas
# hey! saudades muitas

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e eu sonho, acordada, eu sonho com bonecas a cair*

da última tradução caseira da Lebre - Anne Sexton, cito mb, d'as musas esqueléticas: "Lê-se por aí abaixo à desfilada, com um punho na garganta."

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frases que impõem respeito *

Andar pelas ruas da amargura.


* série inciada por Bombyx-Mori

onde estamos?

o motor de arranque apresenta-se lento, falha, não responde às primeiras tentativas. o motor, após o arranque, faz um ruído estranho, como quem ameaça que vai parar. nada há para dizer. não direi silêncios. meter-me no carro e fazer-me à estrada. aceleração. paralisia visceral.

frases que impõem respeito *

Pegar o touro pelos cornos.

* série iniciada por Bombyx-Mori

frases que impõem respeito *

Quem vai à guerra, dá e leva.

* série inciada por Bombyx-Mori

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro