photo ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra
cálculos penosos
querido pai natal
saberá a minha irmã...
whistling
’I’ve got some real estate here in my bag’
So we bought a pack of cigarettes and mrs. wagner pies
And we walked off to look for america
’kathy,’ I said as we boarded a greyhound in pittsburgh
’michigan seems like a dream to me now’
It took me four days to hitchhike from saginaw
I’ve gone to look for america
Laughing on the bus
Playing games with the faces
She said the man in the gabardine suit was a spy
I said ’be careful his bowtie is really a camera’
’toss me a cigarette, I think there’s one in my raincoat’
’we smoked the last one an hour ago’
So I looked at the scenery, she read her magazine
And the moon rose over an open field
’kathy, I’m lost,’ I said, though I knew she was sleeping
I’m empty and aching and I don’t know why
Counting the cars on the new jersey turnpike
They’ve all gone to look for america
All gone to look for america
All gone to look for america
I spy with my little eye...
uma história antes de dormir [o meu herói da infância pré-letras]
bons dias
uma bela coragem
peças soltas
algures existe uma antiga inimizade entre a vida e a grandeza da obra
(...)
ouve o que te digo: ajuda-me. Olha, nós, sem saber quando,
deslizamos do nosso progresso
para qualquer coisa que não queríamos, na qual
nos enredamos como num sonho
e na qual morremos, sem acordar.
Ninguém foi mais além. A todo aquele que ergue
o seu sangue numa obra que se torna longa
pode acontecer deixar de poder erguê-la
e ela ser arrastada pelo seu próprio peso, sem valor.
Pois algures existe uma antiga inimizade
entre a vida e a grandeza da obra.
Que eu a reconheça e a diga: ajuda-me.
Não voltes. Se puderes suportá-lo, fica
morta entre os mortos. Os mortos estão ocupados.
Porém ajuda-me, de modo que isso não te distraia,
como o mais longínquo muitas vezes me ajuda: dentro de mim.
de "Requiem Por Uma Amiga"
in As Elegias de Duíno de Rainer Maria Rilke
inevitáveis (?) balanços
e depois?
mix comum de palavras fisiológicas (também comuns, mas não vulgares)
There’s nothing either good or bad, but thinking makes it so
O, that this too too solid flesh would melt
Thaw and resolve itself into a dew!
Or that the Everlasting had not fix'd
His canon 'gainst self-slaughter! O God! God!
How weary, stale, flat and unprofitable,
Seem to me all the uses of this world!
Fie on't! ah fie! 'tis an unweeded garden,
That grows to seed; things rank and gross in nature
Possess it merely. That it should come to this!
Hamlet, Act I, scene II
William Shakespeare
«desejando apaixonar-me pela força intensa que eu queria que tivesse»
Havia um areal defronte, onde mulheres-mães gritavam, recusando-se a entrar numa caravela porque alguém as obrigara a partir deixando os filhos sepultados em terra. “Argolas, e ferros, de maridos e de filhos”, pensei. Seres de hesitação que nunca mediram a medida que tinham em si.
Uma criança sem rosto escapuliu-se, e entrou na gruta. Enrodilhei-a nas minhas saias, desejando apaixonar-me pela força intensa que eu queria que tivesse. Envolvi-a na audácia que nos espera. Cobri a cabeça, e pu-la no seio, pois o borbotar da palavra principiava a ser maior que o do leite.
De resto, de onde me vinha o leite, se a criança não era meu filho?. Com os meus dedos nascentes de músico, ainda inábeis, compus-lhe a face que lhe faltava.
Futuros olhos de Aossê, futuro ouvido de Hölderlin, futura voz de Anna, futuro porte de pobre.
“Tenho um grande medo de ser sua mãe”, disse a mim própria. Senti-me invadido por grande ansiedade porque quem amamenta não imagina a quimera que traz ao seio.
Há aqui uma ferida entreaberta. Por vezes, vejo-a sobre a mesa, outras vezes, parece uma nódoa no chão, outras vezes, não está lá – mas está -, escondida, no armário da roupa, como acontece às vidas que não têm voz no exterior, produzindo, contudo, dentro, o efeito de um clarear sem fim.
A minha vida é como essa luz que deixa passar claridade para o outro aposento. Por isso, é conforme a este dia, ao outro, ao dia seguinte, e produz semelhança, sem o ónus da monotonia. Tenho a sensação de deixar espalhados pela casa, e pelos móveis, pedaços simples de textos livres que, de antemão, nunca serão um livro.
in Lisboaleipzip, o encontro inesperado do diverso
Maria Gabriela Llansol
também se pode dizer...
expurgar
Moinho do Parque Natural da Ria Formosa, 2005
Trazer uma aflição dentro do peito.
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão
in Chuvas de Verão, Caetano Veloso
da (minha) incongruência [ou lembrando-me da pessoa no singular (ou eu, tu, ele)]
aqui vai mais uma reprodução:
O medo de parecer estúpido
O medo de parecer estúpido tal como o de ferir as conveniências faz com que inúmeros homens se pensem inteligentes evitando dizê-lo. E se forem constrangidos, apesar de tudo, a falar disso, recorrem a perífrases do género: "Não sou mais estúpido que qualquer outro." Mas em geral prefere dizer-se, num tom tão neutro e objectivo quanto possível, o seguinte: "Creio poder dizer que tenho uma inteligência normal." Outras vezes, a convicção de ser inteligente surge de viés, como na seguinte frase idiomática: "Não me deixo passar por estúpido!" A coisa é tanto mais notável quanto não é apenas o indivíduo privado que se julga, no segredo do seu coração, extraordinariamente inteligente e bem dotado, mas ainda o homem público que diz e faz dizer dele, mal tenha poder para isso, que é supremamente inteligente, esclarecido, nobre, soberano, gracioso, eleito de Deus e votado a um destino histórico. Chega mesmo ao ponto de o dizer de outro, desde que o reflexo dele aumente o seu próprio brilho. Encontramos vestígios fossilizados e quase definitivamente mortos disso em títulos como Vossa Majestade, Vossa Eminência, Vossa Excelência ou Vossa Graça; mas isso readquire plena vitalidade hoje, sempre que um homem fala na qualidade de massa. Sobretudo uma certa camada inferior das classes médias — intelectual e moralmente falando — exibe a este respeito uma pretensão absolutamente indecente desde que, manifestando-se ao abrigo de um partido, de uma nação, de uma seita ou mesmo de uma tendência artística, se sente autorizada a dizer "nós" em vez de "eu".
in Da Estupidez, Robert Musil
O desaparecimento é chegar ao fim das coisas. *
bom dia
# gostava mesmo de ter um vestido vermelho
# não quero ter frio húmido
# tenho medo, já disse!
# um bolo de chocolate é que era!
# ainda não consegui fazer os tpc's às escuras
# ir à fonoteca
# aconselho Alice, mas preparem-se para uma sova emocional (grande Nuno Lopes, aguardo o próximo do Marco Martins)
# hoje vou à baixa e tenho a certeza de que quererei fotografar muito, e tenho a certeza de que não o farei, porque descobri que sou mais tímida que pensava ser
# bom dia.
# tenho um trabalho para fazer, que não me tomará mais que uma hora e meia, não posso adiar
# não posso adiar mais
# não posso adiar mais
# não posso adiar mais
# não posso adiar mais
# talvez compre um vestido vermelho, para me assegurar do próximo Verão
# não posso adiar mais
# faço o dia e aguardo o regresso à minhas pantufas novas
# hey! saudades muitas
e eu sonho, acordada, eu sonho com bonecas a cair*
photo
onde estamos?
Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.
Alberto Carneiro