la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

«desejando apaixonar-me pela força intensa que eu queria que tivesse»

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Quando Bach me repete o sonho que teve, antes de casar com a sua primeira mulher, procuro não me justificar de não ser mãe. Escondera-me dentro da gruta, com o início da minha música (insiste sempre que a música não está dentro do corpo, mas nas suas extremidades – dedos, garganta, tornozelos).
Havia um areal defronte, onde mulheres-mães gritavam, recusando-se a entrar numa caravela porque alguém as obrigara a partir deixando os filhos sepultados em terra. “Argolas, e ferros, de maridos e de filhos”, pensei. Seres de hesitação que nunca mediram a medida que tinham em si.
Uma criança sem rosto escapuliu-se, e entrou na gruta. Enrodilhei-a nas minhas saias, desejando apaixonar-me pela força intensa que eu queria que tivesse. Envolvi-a na audácia que nos espera. Cobri a cabeça, e pu-la no seio, pois o borbotar da palavra principiava a ser maior que o do leite.
De resto, de onde me vinha o leite, se a criança não era meu filho?. Com os meus dedos nascentes de músico, ainda inábeis, compus-lhe a face que lhe faltava.
Futuros olhos de Aossê, futuro ouvido de Hölderlin, futura voz de Anna, futuro porte de pobre.
“Tenho um grande medo de ser sua mãe”, disse a mim própria. Senti-me invadido por grande ansiedade porque quem amamenta não imagina a quimera que traz ao seio.
(...)
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(...)


Há aqui uma ferida entreaberta. Por vezes, vejo-a sobre a mesa, outras vezes, parece uma nódoa no chão, outras vezes, não está lá – mas está -, escondida, no armário da roupa, como acontece às vidas que não têm voz no exterior, produzindo, contudo, dentro, o efeito de um clarear sem fim.
A minha vida é como essa luz que deixa passar claridade para o outro aposento. Por isso, é conforme a este dia, ao outro, ao dia seguinte, e produz semelhança, sem o ónus da monotonia. Tenho a sensação de deixar espalhados pela casa, e pelos móveis, pedaços simples de textos livres que, de antemão, nunca serão um livro.

in Lisboaleipzip, o encontro inesperado do diverso
Maria Gabriela Llansol

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro