(...)
ouve o que te digo: ajuda-me. Olha, nós, sem saber quando,
deslizamos do nosso progresso
para qualquer coisa que não queríamos, na qual
nos enredamos como num sonho
e na qual morremos, sem acordar.
Ninguém foi mais além. A todo aquele que ergue
o seu sangue numa obra que se torna longa
pode acontecer deixar de poder erguê-la
e ela ser arrastada pelo seu próprio peso, sem valor.
Pois algures existe uma antiga inimizade
entre a vida e a grandeza da obra.
Que eu a reconheça e a diga: ajuda-me.
Não voltes. Se puderes suportá-lo, fica
morta entre os mortos. Os mortos estão ocupados.
Porém ajuda-me, de modo que isso não te distraia,
como o mais longínquo muitas vezes me ajuda: dentro de mim.
de "Requiem Por Uma Amiga"
in As Elegias de Duíno de Rainer Maria Rilke
Gouache de Charlotte Salomon da obra Leben? Oder Theater?