la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

diário íntimo do século XXI (?)

Nunca se conhecer. É o que Musil acredita que se passa com os diários íntimos. Ele pensava que o diário seria a única forma narrativa do futuro, pois contém em si todas as formas possíveis de discurso. (...) Na versão de Musil, o diário era o género sem atributos por excelência, nada de estranhar se soubermos que opinava que nos diários íntimos quem os escreve «não tem lá nada para escutar» e perguntava-se o que é que pretende escutar: «Os diários? Um sinal dos tempos. Publicam-se tantos diários. É a forma mais cómoda, mais indisciplinada. Bom. É possível que dentro em breve só se escrevam diários, julgando o resto não potável (...) Ele é a análise em si: nada mais e nada menos. Não é arte. Não deve sê-lo. Para que serve escutar-se ali?» (...) a vida já não é uma unidade com um centro, «a vida», dizia Nietzsche, «já não reside na totalidade, num Todo orgânico e completo» -, mas em contrapartida poderei ser muitas pessoas, uma pavorosa conjunção dos mais diversos destinos e um conjunto de ecos das mais variadas procedências: um escritor talvez condenado, tarde ou cedo - obrigado pelas circunstâncias do tempo que me calhou viver -, a praticar, mais do que o género autobiográfico, o autofictício, embora para que me chegue a hora dessa condenação espero que ainda me falte muito, de momento estou enleado numa íntima homenagem à Veracidade, metido num esforço desesperado para contar verdades sobre a minha fragmentada vida, talvez antes de chegar a minha hora de me passar para o terreno da autoficção, onde sem dúvida, se não me restar outra saída, simularei que me conheço mais do que na realidade conheço.

in O Mal de Montano, Enrique Vila-Matas

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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro