Correm na lama crianças atrasadas
trazem sacos nas mãos, flores miúdas
unhas de amassar as pedras
péssaros de abate à superfície
a morte pousada em remoínho
lavadas ao ventre ambrandecidas
no peito delas as casas incendiadas
a fachada aberta expostas de morar.
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Nas ruas estreitas de laje afogam filhos
amortecem baixas ao ventre a secar
campas pequeninas onde vão morar
as mulheres a romperem choro ao rio
as bermas da estrada no caminho
marcam de pedras o grito delas
cambaleiam, caiem ao lado das outras
rasgam a pele a nascer, os homens
esquecidos nos braços delas.
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Voltam da memória com o corpo calvo
estão despidos de medo
animais de refúgio
a construir tocas
fecham a hemorragia da casa
com o pulso nu
os úteros cerzidos no peito.
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Os algodões são nuvens mortas
que sabemos guardar
os corações brancos de tocar
os filhos que nele parimos
medas enfiadas nas mãos
somos muitas, rodamos ao vento
choramos o sangue que o vem tingir.
Alexandre Nave
in Columbários & Sangradouros