la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

excertos-desenho [ amor ]

os pequenos deuses que são os teus gestos pelo nosso espaço, utilizo-os quando és tu que vais ao mundo e fico eu. falo com a casa nos instantes em que andas aí por fora. a banca da cozinha conta-me dos teus gestos na preparação da comida para as nossas bocas. a casa de banho reflecte nos azulejos a memória dos dias em que acordamos a tempo, sou eu sentada na beira da banheira enquanto tu me fazes a trança. o sofá diz ser o preferido porque o ocupamos a quatro braços prolongados nas horas. a nossa cama cala-se. o ar conta as histórias das tuas vitórias levando a minha boca. vou preparando o nosso regresso. talvez o meu vestido verde. ou flores. fecho os olhos. o metrónomo pára. a porta abre-se e vou buscar-te ao colo. os outros ficam lá. cá dentro demoramo-nos. a sermo-nos nós. dizes-me das saudades que tiveste e os nossos lábios já estão suficientemente próximos *. a casa opulenta.



october, Rosie Thomas
* apropriação e distorção da letra da canção

excertos-desenho de vida [ morte ]

tocas-me. [ ideia: e se eu não utilizasse mais palavras? ] nem gestos. se me sentir tão fatigada que paralise? Assim, Puff, Acabou-se. Fim. The end. Fin. Finale. Foi. Pronto. Acabou-se. não não, nem gesticular. nem deus. ganhar medo ao banal. e o medo parecer banal. banalizar toda esta banalidade. toca-me. eis que me fino. urge apalavrar o fim das palavras.

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the world is full of crashing bores, Morrissey

[ desejo ] [ ficar ] [ a viver excertos-desenho de vida e amor ]

ficar a escrever palavras pela manhã fora. no quarto das sestas. aquele com o divã, a manta de retalhos e a pequena estante com os livros que vieram de casa do teu avô. o quarto com a janela que tem o tronco da palmeira à frente. o tronco que divide a paisagem. de um lado as dunas, do outro, o areal. ficar a escrever excertos de vida e amor pela manhã fora. excertos com morte e desamor em pequenas prosas desafiantes ao pulsar do corpo. enquanto o orvalho se confunde lá fora com os verdes das dunas. ouvir pequenas toadas que não magoam. dentro do quarto cujo chão de madeira também se confunde (entre cera e mofo a maresia). enrolados no xaile, tu ditas as palavras de desamor que eu vou anotando em desenhos no bloco de esboços. num círculo em que esquecemos onde começa um e se acaba com o outro, hoje não vamos lá para fora. guardamo-nos durante o amor que é ainda isso.
love will tear us apart, by Nouvelle Vague

aniversário

este dia no calendário que marca aquele em que nunca chegarias. fui eu e tu. só eu fui e morri mais. esculpi o sufrágio dessa dor com um martelo. o martelo piqnino da bivó. disse adeus. a memória permanece. não se festeja este aniversário. não foi o vento que te levou quando me reconciliei. ninguém te levou. um esboço de ti, as entranhas, trago comigo. por quanto tempo, sinto que não é necessário calcular. hoje soube a data. 24 de junho. não a marquei no alarme. foi o coração que latejou. ao que eu disse, sim, estamos sossegados. não vomito. o sangue revolveu-se e continuou vida.

r e m i n d e r

solstício de Verão. a Primavera veio. a Primavera foi. nós, por cá.







that leaving feeling, Stuart Staples & Lhasa de Sela

[ stillness ]

- quantas vezes aprendem a pele e a cabeça?

- quantas? tantas quantas as vezes que desapredem, se eficientes.

a pele. a cabeça.

? passam. sacodem-se. manipulam-se descoordenadas, talvez procurem imitar voos. libertam cada gesto a cada hora da sua nascente. conhecem tontices. reconhecem humanidades. dizem tagarelices. nem por isso falam na intuição. porque tão diferentes são. porque tão diferentes conseguem que os dias se multipliquem. as cabeças desfazem-se. e refazem-se com pele. porque as cabeças se fazem de ideias. e de desideias. (e pré-concebem-se) é assim. (ou talvez não) e, assim, por cá vamos andando, no entremeio de dias de peles que se colam às cabeças que se reconhecem. um facto inalienável: certezas falham. surge a tranquilidade. sem saudades do desassossego com bem fazer. permanecer algures. reconhecer que «o bom proposito he escorregadiço, e de pouca dura, e o justo cada dia cae sete vezes» - quantas vezes aprendem a pele e a cabeça? questão desinteressante. desaprender! desaprender. ou talvez não. (whatever)

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through my eyes

(re)comecei a visão no dia da Liberdade do ano passado, entretanto, tenho pastas cheias de fotografias, resolvi abri-las
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PAPEL... e lápis, ou caneta... qualquer coisa que sirva para criar... e ele cria

:) mais um belo blog a partir de Coimbra


Coimbra B

dia nacional da luta contra a dor

The body calls
Yeah, the body, it calls out
It whispers at first
But it ends with a shout

dia simbólico dos dias todos. lutas contra a dor d'alma dos corpos que doem. e dos que vêem doer. todos os corpos.

oração: que todos ardam para além da dor. que o fogo seja tão só o de desejo. cantar, mesmo que o corpo doa.



My flesh sings out
It sings, "come put me out"

The body sways
Like the wind on a swing
A bridge through a hoop
Or a lake through a ring

The body stays
And then the body moves on
And I'd really rather not dwell on
When yours will be gone

But within the dark
There is a shine
One tiny spark
That's yours and mine












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the body breaks, Devendra Banhart

presenting... Mr. Stuart Staples


foto de salamandrine



marseilles sunshine, Stuart A. Staples

[ no longer afraid of the dark or midday shadows nothing so ridiculously teenage and desperate slower and more calculated no chance of escape ]

it's a motherfucker, pensou. - it's really a motherfucker, reforçou para si com um movimento da cabeça. não foi um abanão violento. não foi um ligeiro aceno de cabeça como quem cumprimenta alguém do outro lado da rua. foi um abanão de cabeça como quem desiste dos movimentos seguintes. não conseguia ficar de cócoras. apertou-se contra o colchão e fez uma libertação de ar que não foi sopro nem suspiro. ficou-se, ali, sem ser inanimada. sentiu o peito contra o ar da divisão. estava aberto, sim, o seu peito estava aberto. uma mama para cada lado, e o peito aberto, sem esterno. as pernas embaraçadas e os braços cuidadosamente afastados do corpo. para não tocar os fluídos que derretiam para fora, pelo peito. aberto. teimosas em deixar acabada cada história, as mãos puxaram os braços que não foram mais fortes. as mãos aproximaram-se tímidas do peito. empurraram, de fora, cada mama. esse movimento obrigou a que as bordas da fístula se aproximassem para encerrar. eram mãos trabalhadeiras, não se importavam que as histórias começassem mal, mas insistiam para que progredissem na conclusão. um peito aberto é uma história mal desenvolvida.



Mattatoio, Senigallia, Mario Giacomelli
1960




fitter happier, Radiohead

[ aos distraídos ]

a menina da rádio mudou de casa
House III, Roy Lichtenstein
1997

[ reaching us on the shadow of happy bodies ]

pensamento. é o extravasamento. transbordo de solidão com a tua ausência. inexplicável a nutrição de sentir. ò! num instante, estou no meio de um silêncio hitchcockiano. como se a terra tenha desertado. alguém esqueceu-se de me avisar. a deserção parece-me ter sido imposta por um qualquer manual das guerras. gritos que não percebi - isto é uma luta! uma luta! lutai! e, dentro do pântano, alagado, o meu corpo não compreende. porém, desincha. [ terei ouvido batuques? ] o mercúrio salta. é ele de novo! o corpo voltou cheio de pele e de mãos! começa o reconhecimento. muitas pernas desdobram-se e estes braços arriscam abraçar. o baile. é a felicidade. uma boa felicidade. uma boa felicidade é a do corpo que mexe. uma boa felicidade não tem explicação.

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simbo, Ali Farka Touré

gimme more! [ obituary ]



i loves it




Artwork

six feet under





quote of the day: do you think your shit doesn't stink?
the silence, episode 58



Rebellion (Lies), The Arcade Fire

[ eco ]

abrir a boca durante um abraço. pontapear palavras. as palavras que não fazem ricochete. exdrúxula! repetir. exdrúxula. soa bem enquanto descritivo.

happy birthday, my dear friend.

it's a happy day. though this birthday present may seem quite odd, these are beautiful things. it's about someone whom makes words into birds. alice, there's only 1.
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Maggie Taylor



alice, Tom Waits

I'm sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com












































Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro