lugar comum
planarei a água
se desejar, molho o corpo, e não terei frio
photo: Bruno espadana
shiuuuuuuuuuu [boas noites]
.
a noiva, lá, prepara-se para receber a aliança, a tradição ditará que lance o ramo
aqui, deseja-se boas noites e não se olha de súbito, o horizonte pode ser só uma palavra
.
mas não é, não o é
.
porém, o desejo é de boas noites
bom dia
não é tão importante, para onde subitamente se olha
pedaços destes dias
# não li nada que interesse partilhar
# ainda não voltei ao cinema depois da época estival
# não tenho visto fotografia que me maravilhe
# o bolo de chocolate continua a calhar-me mal
# a música, não comento
# apetece-me dançar, ora essa!
# a vidinha assim anda e desanda
# poesia? qu'é isso?
# o gato vai bem, obrigada
# a mamã completou 60 anos ontem, os seus olhos estavam felizes junto da família:
- vamos passear, dar uma volta, lanchar, sei lá, qualquer coisa, fazes anos
- então leva-me ao cemitério
- ao cemitério?!
- sim, quero ver o meu pai e a minha mãe
photo da minha amiga (sim, quero deixar aqui escrito amiga, minha): Salamandrine, Galeria Prazeres
Palavras de xadrez
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João Afonso Lima
A uma mulher
Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.
Vinícius de Moraes
I Wait, Julia Margaret Cameron (1872)
seguir o link e dar de caras com a escrita
vejo-te na soleira da porta
hesitas. em cena apenas estou eu
penso em mudar-me mas entre erros
e desculpas falta-me espaço
se contares histórias serão daquelas que
ninguém quer ouvir
relatos de passeios de domingo onde há sempre ruínas
sim, restaram apenas ruínas escavadas no interior dos olhos
II
entras, não tens medo
rodeado de olhares com sono que ainda não sabem
que as palavras são sempre as mesmas
(uma espécie de cerimónia onde te repetes para evitar a morte)
mentimos os dois sobre uma história feita de fragmentos
dizes que nem sempre o guião é o mesmo
mas repetes-me o teu monólogo ao ouvido
“deixa-me sair” vou abandonar a personagem
que balança no vazio
ultima tentativa: observo-te e tu já não me vês
conheces-me tão pouco, não, isto…
isto não é um dueto, é um duelo
friamente o silêncio cai sobre nós
não há vozes nem adereços
(a cena está vazia)
há apenas uma cortina de vento onde as palavras
nunca se moldaram
Lebre, there's only 1 alice
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Compêndio de Ciências: Cinco. Cartografia; Seis. Geografia Humana.
e
António Tavares Lopes d'a estrada
depois da tempestade
R.I.P.
Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.
Alberto Carneiro