la caisse du mouton
Antoine de Saint-Exupéry

da (minha) incongruência [ou lembrando-me da pessoa no singular (ou eu, tu, ele)]

não resisti a voltar ao baú do Silêncio
aqui vai mais uma reprodução:


O medo de parecer estúpido

Robert MusilO medo de parecer estúpido tal como o de ferir as conveniências faz com que inúmeros homens se pensem inteligentes evitando dizê-lo. E se forem constrangidos, apesar de tudo, a falar disso, recorrem a perífrases do género: "Não sou mais estúpido que qualquer outro." Mas em geral prefere dizer-se, num tom tão neutro e objectivo quanto possível, o seguinte: "Creio poder dizer que tenho uma inteligência normal." Outras vezes, a convicção de ser inteligente surge de viés, como na seguinte frase idiomática: "Não me deixo passar por estúpido!" A coisa é tanto mais notável quanto não é apenas o indivíduo privado que se julga, no segredo do seu coração, extraordinariamente inteligente e bem dotado, mas ainda o homem público que diz e faz dizer dele, mal tenha poder para isso, que é supremamente inteligente, esclarecido, nobre, soberano, gracioso, eleito de Deus e votado a um destino histórico. Chega mesmo ao ponto de o dizer de outro, desde que o reflexo dele aumente o seu próprio brilho. Encontramos vestígios fossilizados e quase definitivamente mortos disso em títulos como Vossa Majestade, Vossa Eminência, Vossa Excelência ou Vossa Graça; mas isso readquire plena vitalidade hoje, sempre que um homem fala na qualidade de massa. Sobretudo uma certa camada inferior das classes médias — intelectual e moralmente falando — exibe a este respeito uma pretensão absolutamente indecente desde que, manifestando-se ao abrigo de um partido, de uma nação, de uma seita ou mesmo de uma tendência artística, se sente autorizada a dizer "nós" em vez de "eu".

in Da Estupidez, Robert Musil


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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.


Alberto Carneiro